O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Gabriela Biló - 19.fev.25/Folhapress |
Sem moderação, Lula correrá mais riscos em 2026

Sem moderação, Lula correrá mais riscos em 2026

  • Parcela ao centro do eleitorado, longe de paixões ideológicas, decidirá resultado da sucessão presidencial
  • Num eventual quarto mandato, com relação parlamentar ainda mais difícil, o petista teria de lidar com a dívida monstruosa que fomentou

A recuperação da imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parece encontrar o seu teto. As reações da opinião pública à operação policial que causou a morte de 121 pessoas no Rio de Janeiro representaram o estopim da reacomodação do quadro político.

Pesquisa recente da Quaest conectou os pontos -de um lado a crise na segurança e, do outro, a estagnação da popularidade presidencial na fronteira que divide quase à metade o eleitorado entre quem endossa e quem desaprova a administração federal.

Dá para arriscar que o atingimento desse platô ocorreria de qualquer maneira, a despeito da operação policial nas favelas cariocas ou, ainda, que poderia ser provocado por outro acontecimento de repercussão nacional.

O quadro geral que determinou o resultado apertadíssimo das eleições de 2022 não dá mostras de ter-se diluído. Parcela francamente majoritária dos 50,9% que votaram em Lula naquele segundo turno continua a apoiá-lo como presidente. Já os que o rejeitam correspondem quase matematicamente aos 49,1% que votaram em Jair Bolsonaro (PL).

Um segmento de eleitores independentes -que ora oscila para um lado, ora para o outro- tem causado as idas e vindas na aprovação do petista desde a posse, em janeiro de 2023. A movimentação pendular prediz que essa fatia no centro do espectro ideológico vai decidir a sucessão presidencial em outubro de 2026.

Trata-se de uma boa notícia para quem aspira à moderação dos discursos e das práticas políticas no Brasil. Cavalgadas para os extremos tendem a ser punidas nas urnas. O bolsonarismo radical, desfalcado de seu líder por condenações judiciais, caminha para exercer influência decrescente.

Arranques esquerdistas do presidente -como a nomeação de Guilherme Boulos (PSOL) para o ministério- terão custo eleitoral. Elevar a dose da gastança implicará mais risco de surto inflacionário e margem menor para queda de juros. Eleitores distanciados de paixões políticas votam contra o incumbente quando estão insatisfeitos com a economia.

Dado o agigantamento do Congresso Nacional, com seu domínio progressivo da execução orçamentária e o controle pelas oligarquias partidárias das vultosas verbas públicas de campanha, aumenta o peso do resultado da eleição parlamentar na balança da governabilidade. O prognóstico é ruim para a esquerda nesse ponto.

Se confirmar o seu hoje discreto favoritismo, Lula poderá conviver com um ambiente ainda mais hostil ao Planalto que o atual em Brasília. Some-se a isso a perspectiva de um presidente envelhecido, sem possibilidade de reeleição, tendo que lidar com as consequências do monstruoso endividamento que fomentou.

A melhor saída para Lula não é esperar 2027 para corrigir os rumos da política e da economia. Os sinais convergem para a moderação. Seria o caso de praticá-la já, até em nome da própria sobrevivência do governo petista.

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/11/sem-moderacao-lula-correra-mais-riscos-em-2026.shtml