- Condenado em processo por financiamento ilegal de campanha, ex-presidente está proibido de sair da França
- Em audiência, ele descreveu período na penitenciária de La Santé como 'um pesadelo'
André Fontenelle
A Justiça francesa concedeu nesta segunda-feira (10) liberdade provisória sob medidas cautelares ao ex-presidente Nicolas Sarkozy, que ocupava desde o último dia 21 uma cela na histórica prisão de La Santé, em Paris. Ele saiu da penitenciária por volta das 11h de Brasília (15h locais), quando dois carros deixaram o local escoltados por motocicletas. Cerca de 15 minutos depois, chegou em casa, onde era aguardado pelos filhos.
A libertação já era esperada. Na audiência no Tribunal de Recursos parisiense, à qual compareceu a mulher de Sarkozy, a cantora e ex-modelo Carla Bruni, a Justiça citou o baixo risco de fuga do ex-presidente e sua colaboração até aqui com as autoridades para justificar a soltura.
O termo usado no direito francês, traduzido literalmente como "liberdade sob controle judicial", significa respeitar obrigações definidas pelo juiz, como proibição de sair do território francês. Ele tampouco poderá entrar em contato com o ministro da Justiça, Gérald Darmanin. Darmanin o visitou na prisão, o que motivou críticas de juristas, por violar a neutralidade do governo em um processo judicial.
Na audiência, em participação por videoconferência, o ex-presidente descreveu os 20 dias que passou na prisão como "um pesadelo". "Nunca imaginei descobrir a prisão aos 70 anos. Essa provação que me foi imposta é muito dura, como para qualquer detento, e até extenuante."
Depois, já solto, Sarkozy divulgou uma nota nas redes sociais em que disse que "a verdade prevalecerá". "Agora que estou livre e reunido com minha família, quero expressar minha mais profunda gratidão a todos que me escreveram, me apoiaram e me defenderam. Suas milhares de mensagens de apoio me comoveram profundamente e me deram forças para suportar essa provação", afirma o comunicado.
"O direito foi aplicado. Agora vou me preparar para o recurso. Minha energia está focada exclusivamente em provar minha inocência. A verdade prevalecerá. Esta é uma lição que a vida nos ensina. O final da história ainda está por ser escrito", continua o texto.

Carro levando ex-presidente Nicolas Sarkozy deixa a penitenciária de La Santé, em Paris, escoltado por motocicletas policiais - Benoit Tessier/Reuters
O ex-presidente recorreu da condenação, mas o sistema judicial francês prevê o cumprimento provisório da sentença antes do esgotamento de todos os recursos.
Sarkozy e aliados acusam o Judiciário francês de perseguição política, enquanto os opositores do ex-presidente denunciam pressão indevida sobre os juízes.
Durante as três semanas que passou na prisão, Sarkozy ficou em uma cela isolada, com dois guardas de plantão em uma cela vizinha, para impedir contato com outros detentos. Segundo relatos, prisioneiros chegaram a ser transferidos por terem tentado perturbar o sono do ex-presidente, gritando ameaças durante a noite.
Dois colaboradores de Sarkozy foram condenados no mesmo processo, a dois e seis anos de prisão. Um deles terá que usar tornozeleira eletrônica e o outro, por já ter 80 anos, não cumprirá regime fechado.
No ano passado, Sarkozy teve que usar tornozeleira eletrônica durante três meses, devido a outro processo, de escutas telefônicas ilegais na mesma campanha eleitoral. Nesse caso, ele havia sido condenado a três anos de prisão, porém em regime aberto.
Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2025/11/justica-da-franca-concede-liberdade-provisoria-a-nicolas-sarkozy-apos-20-dias-preso.shtml





