O ex-intérprete da Beija-Flor de Nilópolis, Neguinho da Beija-Flor - Lucas Seixas - 11.fev.2021/Folhapress |
Plano de lançar Neguinho da Beija-Flor ao Senado no RJ abre nova disputa no PT

Plano de lançar Neguinho da Beija-Flor ao Senado no RJ abre nova disputa no PT

Washington Quaquá defende nome do artista, mas outra ala do partido prefere Benedita da Silva
Lindbergh diz considerar vice-nacional do partido 'cada vez mais desprezível' após crítica

Yuri Eiras

O prefeito de Maricá (RJ) e vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, vive nova fase de disputa interna com outros quadros do partido no Rio de Janeiro desde a divulgação da ideia de lançar o cantor Neguinho da Beija-Flor para concorrer ao Senado.

Quaquá começou a testar o nome de Neguinho nas redes sociais no início de outubro. Enquanto isso, correligionários como a ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) e o deputado Lindbergh Farias (RJ) lançaram um manifesto de apoio ao nome da deputada Benedita da Silva (PT-RJ) para o Senado.

O grupo de Quaquá é quem comanda a legenda no estado -o filho Diego Zeidan é presidente do diretório estadual desde as eleições de julho.

A ideia de concorrer ao Senado com Neguinho, contudo, encontra obstáculos. Um deles é o próprio artista, que, segundo fontes, ainda não mergulhou de cabeça na ideia. O cantor e pessoas ligadas a ele foram procurados pela reportagem, mas não houve resposta.

A interlocutores Benedita afirmou ter recebido ligação de Neguinho, que teria demonstrado apoio a ela no telefonema.

Em outro episódio, no sábado (25), Quaquá foi às redes criticar Lindbergh e o secretário de assuntos parlamentares do governo, André Ceciliano, por pouca menção da dupla ao presidente Lula (PT) em vídeo que registrou a visita dos dois a Casimiro de Abreu, município do norte fluminense.

O prefeito de Maricá sugeriu que Lindbergh e Ceciliano usaram sua influência com Gleisi Hoffmann (ministra das Relações Institucionais) para fazer política própria.

O líder do PT, marido de Gleisi, publicou texto horas depois em que diz considerar "cada vez mais" Quaquá uma "figura desprezível" e "baixo nível". Ele lembrou a disputa em torno da candidatura ao Senado.

"Fico me perguntando por que um ataque tão gratuito a Gleisi, assim como a perseguição a Benedita -tentando impedir sua candidatura ao Senado. No campo político, esse elemento frequentemente adota posições avessas ao PT, prejudicando as ações partidárias e nossa retomada política", escreveu.

Outra fiadora do manifesto pró-Benedita é Anielle. Ela e Quaquá têm episódios de rixas públicas. Em janeiro deste ano, Quaquá sugeriu a inocência dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão da acusação pela morte da vereadora Marielle Franco, irmã da ministra. "Tirem o nome da minha irmã da boca de vocês!", escreveu Anielle, que acionou a comissão de ética do partido contra Quaquá.

Um mês depois, Quaquá acusou a correligionária da indicação de um suposto funcionário fantasma na Prefeitura de Maricá -ela nega- e também afirmou que acionaria a comissão de ética.

Neguinho se despediu do Carnaval no último desfile da Beija-Flor e passou a focar a carreira de cantor de sambas, com shows e lançamentos de singles. Desde fevereiro, ele se divide entre Brasil e Portugal, onde parte da família vive.

A ala a favor do ex-intérprete da Beija-Flor avalia que é preciso um nome que fure a bolha do campo progressista, já que a concorrência ao Senado será dura com a direita fluminense, com nomes como Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e eventual candidatura do atual governador Cláudio Castro (PL).

O núcleo que defende o lançamento do artista na política prevê potencial parecido com o de Romário (PL-RJ), eleito deputado federal em 2010 e senador em 2014.

O outro lado argumenta que Benedita já havia se disponibilizado para a disputa e entende que a ex-governadora, que também foi senadora, poderia absorver votos fora do campo da esquerda. Esse grupo, composto por Anielle, Lindbergh, pelo presidente da Embratur, Marcelo Freixo, por parlamentares vinculados ao MST (Movimento Sem Terra) e por integrantes de outras correntes do PT, publicou nas redes sociais manifesto pedindo assinaturas para apoio à deputada.

Em agenda com Lula, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), fez aceno ao nome de Benedita. Em tom de brincadeira e propositalmente, saudou-a como "senadora", corrigindo depois para "deputada".

Neguinho é filiado há mais de uma década ao PL, legenda do atual prefeito de Nilópolis, Abraãozinho (PL), e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O prefeito é sobrinho de Anísio Abraão David, bicheiro e patrono da Beija-Flor.

Membros do setor jurídico do PT trabalham na desfiliação ao PL.

O cantor tem relação próxima com Lula. Em 2009, durante tratamento de um câncer, Neguinho se casou informalmente na Marquês de Sapucaí e convidou o então presidente em segundo mandato para ser padrinho.

Lula acompanhou o casamento e o desfile da Beija-Flor num camarote. Benedita também esteve ao lado de Neguinho durante a cerimônia.

Nas eleições de 2024, Neguinho produziu jingles para candidatos do PT - Fernanda Ontiveros, de Japeri, Andrezinho Ceciliano, de Paracambi, e Quaquá. Também emprestou a voz para as campanhas de Talíria Petrone (PSOL), em Niterói, e do ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB), em Piraí.

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2025/10/plano-de-lancar-neguinho-da-beija-flor-ao-senado-no-rj-abre-nova-disputa-no-pt.shtml