Mariana Sanches
O presidente Lula abriu a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, com fortes críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Líder dos EUA discursou logo em seguida e afirmou que abraçou Lula nos bastidores do evento. Eles combinaram um encontro para a próxima semana, sem especificar quando e onde. A informação foi confirmada pelo governo brasileiro.
O que aconteceu
Lula discursou e disse que "diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos autocratas". Sem citar nomes, fez uma referência à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e às ações do presidente dos EUA, Donald Trump, que tem promovido uma série de sanções contra o Brasil, a pedido de Eduardo Bolsonaro, para forçar a aprovação da anistia aos presos por golpe de Estado em 8 de janeiro.Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades, cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais e cerceiam a imprensa.Lula, em discurso na ONU (veja a íntegra)
Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra.
Lula criticou o "inaceitável" ataque ao Judiciário brasileiro e o tarifaço de Trump como "chantagem econômica". "A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável", disse o presidente. "A intolerância em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias", falou, em referência às sanções de Trump contra os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), especialmente Alexandre de Moraes.
Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade. Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado democrático de Direito. Foi investigado, indiciado e julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas.
Lula, sobre a condenação de Bolsonaro
Em seguida, Trump fez longuíssimo discurso em que elogiou Lula e contou que encontrou o brasileiro na antessala da ONU. Segundo Trump, ambos se abraçaram e conversaram por alguns segundos. "Tivemos uma ótima química", afirmou o republicano, que falou sobre o futuro encontro, mas dar detalhes. Ele disse que o encontro foi muito rápido, durou 39 segundos, por isso "não funcionou muito bem", mas "tivemos uma boa conversa e concordamos em nos encontrarmos na próxima semana, se isso for de interesse."
Eu estava entrando e o líder do Brasil estava saindo. Nós nos vimos. Eu o vi, ele me viu e nós nos abraçamos. (...) Ele parecia um cara muito bom, na verdade.Donald Trump, na ONU, após abraçar Lula
Trump resumiu a conversa com "Ele gostou de mim, eu gostei dele", mas disse que o "Brasil está fazendo mal". "Eu só faço negócio com pessoas que eu gosto", afirmou. "Sempre defenderei nossa soberania nacional e os direitos dos cidadãos americanos. Eu sinto muito por dizer que o Brasil está fazendo mal e continuará a fazer mal. Eles só podem fazer bem quando estão trabalhando conosco. Sem nós, eles vão falhar, como outros falharão", completou.
O Brasil agora enfrenta tarifas maiores em resposta aos seus esforços sem precedentes para interferir nos direitos e liberdades dos nossos cidadãos americanos e outros, com censura, repressão, armamento, corrupção judicial.
O encontro aconteceu diante da pior crise em 201 anos de relações bilaterais entre Brasil e EUA. A fala vem um dia após a gestão Trump acionar mais uma vez restrições de vistos e sanções financeiras da Lei Global Magnitsky contra alvos brasileiros.
Lula condena ataques de Israel
Como esperado, Lula pediu também paz e condenou os ataques de Israel. Ontem, ele já havia reafirmado que considera o que acontece na Faixa de Gaza como "genocídio" e "limpeza étnica".
"Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo", disse. A fala é uma referência aos vetos dos Estados Unidos e o apoio irrestrito a Israel. "Em Gaza, a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente", afirmou o brasileiro.
Lula tratou ainda do financiamento para países em desenvolvimento e maior participação dessas nações na tomada de decisões internacionais. Ao falar da importância do chamado Sul Global, defendeu o , cobrando, mais uma vez, mais cadeiras permanentes no Conselho de Segurança da ONU.
Também tratou da COP30, que será sediada em Belém, e chamou o evento mais uma vez de "COP da verdade". Ele cobrou compromissos de países ricos.
Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta. Nações em desenvolvimento enfrentam a mudança do clima ao mesmo tempo em que lutam contra outros desafios. Enquanto isso, países ricos usufruem de padrão de vida obtido às custas de duzentos anos de emissões.
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/09/23/lula-discursa-assembleia-geral-onu-multilateralismo.htm