Ato simbólico antecede anúncio do presidente Macron por Estado palestino; em Paris, projeção conjunta de emblemas de Israel e Palestina na Torre Eiffel gera polêmica
Tatiana Carlotti
Mais de 50 cidades francesas hastearam a bandeira da Palestina em dia considerado histórico no país. Nesta segunda-feira (22/09), o presidente Emmanuel Macron profere o reconhecimento do Estado palestino pela França, durante a conferência co-presidida com a Arábia Saudita em Nova York, em prol da solução de dois Estados no Oriente Médio.
"Reconhecer o Estado palestino hoje é a única maneira de encontrar uma solução política para uma situação que precisa acabar", afirmou Macron, antes do encontro. O anúncio ocorre às vésperas da Assembleia Geral das Nações Unidas, que começa amanhã (23/09), com a adesão de diversos países ao reconhecimento do Estado palestino.
As prefeituras francesas, no entanto, já comemoram. Ao meio-dia de hoje, 52 municípios, de um total de 34.875, aderiram à ação simbólica, desobedecendo a determinação do ministro do Interior, Bruno Retailleau, que alegou que o ato fere o princípio de neutralidade dos serviços públicos, informa Le Monde.
O chamado foi feito pelo líder do Partido Socialista da França, Olivier Faure. Ele condenou o que chamou de "indecência insana" de Retailleau, pedindo que o ministro do Interior, que renunciou esta semana, se afaste. "Lamento que o ministro não tenha encontrado nada melhor para fazer do que procurar condenar os prefeitos que estão cumprindo seu dever de solidariedade", afirmou.
Em comunicado, Grégory Doucet, prefeito de Lyon, afirmou que o gesto acompanha a decisão histórica da França de "finalmente" reconhecer o Estado da Palestina. "Muitos me ligam há vários meses para pedir que a bandeira palestina seja hasteada na prefeitura. Eu não poderia fazer isso até que a França reconhecesse oficialmente este estado", escreveu.
Além de Lyon, Nantes, Rennes, Saint-Denis, Stains, Nanterre, Corbeil-Essonnes e vários outros municípios declararam solidariedade ao povo palestino. Le Monde destaca que a prefeita de Nantes, Johanna Rolland (PS) afirmou que a bandeira seria exibida apenas por um dia, "acompanhando a decisão da República Francesa". Em Saint-Denis, o socialista Mathieu Hanotin chamou a manhã de "histórica", enquanto o comunista Azzédine Taïbi, de Stains, hasteou as bandeiras da Palestina, da ONU e da paz.
Polêmicas
Antecipando os demais, a cidade de Malakoff hasteou a bandeira palestina ainda na sexta-feira (19/09), o que gerou uma disputa judicial com o tribunal administrativo de Cergy-Pontoise, ajuizado pelo prefeito de Hauts-de-Seine, que ordenou sua retirada sob pena de uma multa diária de 150 euros. A prefeitura já anunciou que recorrerá ao Conselho de Estado para "defender o princípio da livre administração dos municípios e da livre expressão democrática".Em Paris, a prefeita Anne Hidalgo optou por projetar as bandeiras da Palestina e de Israel na Torre Eiffel, com a bandeira da Paz entre elas. Paris "reafirma seu compromisso com a paz, que mais do que nunca exige uma solução de dois Estados" e "expressa sua solidariedade a todas as vítimas civis palestinas e israelenses", afirmou Hidalgo nas redes sociais.
A projeção de ambas as bandeiras levou polêmica. Jean-Luc Mélenchon, líder da La France Insoumise, chamou a iniciativa de "estupidez terrível" e acusou o Partido Socialista de "trair todos de uma vez".
Opera Mundi
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