- Sem protagonismo petista e de figuras do governo Lula, mobilização consegue virar o jogo narrativo
- Engajamento no WhatsApp revela anseio contra blindagem capaz de se sobrepor a domínio bolsonarista
Na última terça-feira (16), a Câmara dos Deputados aprovou a chamada PEC da Blindagem (ou das prerrogativas), que altera a Constituição para exigir autorização do Congresso antes que parlamentares possam ser investigados criminalmente pelo STF.
A votação contou com o apoio de oito deputados do PT, que garantiu a vitória do projeto, em desacordo com a orientação oficial da bancada, o que gerou polêmica e fortes críticas nas redes sociais.
No dia seguinte (17) à noite, os deputados aprovaram o requerimento de urgência para a anistia aos condenados pela tentativa de golpe de 8 de Janeiro. Na esteira dessas decisões, iniciou-se uma mobilização nas redes sociais por frentes de esquerda para convocar manifestações contra a anistia e contra a PEC da Blindagem.
No monitoramento em mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp feito em tempo real pela Palver, foi possível identificar que as convocações para as manifestações do dia 21 de setembro começaram já na quinta-feira, 18.
O ato ocorreu duas semanas depois das mobilizações do 7 de Setembro, organizadas pela direita bolsonarista em defesa da anistia, e rapidamente ganhou tração digital. As mensagens circularam em crescimento ao longo do fim de semana, impulsionadas pela ampla divulgação dos shows de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil na manifestação do Rio de Janeiro, que se tornaram um dos principais chamarizes para a adesão popular.
Até as 18h do dia 21, o engajamento nos grupos públicos de WhatsApp em torno da manifestação contra a anistia superou o registrado nos atos bolsonaristas de 7 de Setembro. A cada 100 mil mensagens trocadas, cerca de 865 faziam referência às convocações e aos comentários sobre o protesto do dia 21, contra 724 durante as mobilizações da direita duas semanas antes.
O principal impulso para esse crescimento foi o avanço da PEC da Blindagem, interpretada em grupos menos politizados como um avanço da impunidade, com termos como bandidagem e corrupção circulando amplamente nas mensagens.
Mesmo atingindo um pico de engajamento, os números deixam claro o desequilíbrio de forças: mesmo em seu auge, a esquerda alcançou apenas cerca de 60% das mensagens, enquanto a direita bolsonarista mantém um fluxo constante e majoritário, raramente abaixo desse patamar.
O dado mais significativo, porém, é que mesmo sem o protagonismo de figuras do governo ou do PT nas convocações, a mobilização de redes gerou um engajamento fora do comum, revelando um anseio popular genuíno contra a blindagem, capaz de se sobrepor, ainda que temporariamente, ao domínio bolsonarista no WhatsApp.
Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/encaminhado-com-frequencia/2025/09/manifestacoes-da-esquerda-superam-o-7-de-setembro-nas-redes-sociais.shtml