A disposição para as urnas, seja para o governo ou o Senado, ajuda a explicar o aumento da exposição midiática do ministro
POR ANDRÉ BARROCAL
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve disputar as eleições em São Paulo em 2026. Falta saber se a governador ou a senador. E fez um acordo com o presidente Lula: caso termine derrotado - e Lula vitorioso - voltará ao cargo depois da campanha.
Na hipótese de eleger-se para o Senado, ainda assim ele pode retornar à Fazenda, na condição de licenciado, como acontece com Camilo Santana, que é ministro da Educação, e Wellington Dias, do Desenvolvimento Social.
[Atualização: A assessoria de comunicação do Ministério da Fazenda nega que Haddad tenha feito o acordo com Lula. A reportagem registra a posição oficial mas sustenta a informação publicada.]
A disposição para as urnas ajuda a explicar o aumento da exposição midiática de Haddad. Ele tem dado entrevistas com bastante frequência, em especial sobre dois temas: o combate às desigualdades sociais e o tarifaço de Donald Trump.
Reduzir as desigualdades é um dos efeitos da proposta do governo de cobrar mais imposto de renda dos milionários e de isentar salários de até 5 mil reais. A lei está à espera de votação pelos deputados. Haddad tem martelado a ideia de que taxar um pouco mais o andar de cima é justiça tributária.
Essa mensagem foi intensificada pela comunicação do governo e do PT desde a batalha com o Congresso sobre o IOF. A megaoperação da Polícia Federal contra o crime organizado levou o ministro da Fazenda a repetir a ideia de que "a cobertura" e o "andar de cima" foram atingidos.
Mas, qual cargo Haddad disputaria? A decisão final passa por cálculos interno no PT sobre o cenário da próxima eleição presidencial e para o Senado, a casa legislativa com poder para aprovar ou derrubar integrantes do Supremo Tribunal Federal.
O PT precisa de um palanque competitivo no estado de São Paulo tanto para governador quanto para senador, a fim de fortalecer as chances reeleitorais de Lula. O ex-ministro José Dirceu acha, por exemplo, que foi São Paulo que garantiu a vitória do petista em 2022.
Lula e Haddad venceram Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) na capital paulista na campanha de 2022. O ministro bateu o atual governador paulista também na região metropolitana da cidade. Tarcísio elegeu-se, porém, graças à votação no interior do estado.
O fator Tarcísio
Ao chamar Tarcísio para a briga presidencial, como ocorreu em uma reunião ministerial em 28 de agosto, Lula parece interessado não só em tirar o governador da zona de conforto, como também em alimentar a vontade dele de tentar chegar ao Palácio do Planalto, a fim de limpar o terreno para o lulismo em São Paulo.Até recentemente, a ministra Gleisi Hoffmann, chefe da articulação política do Planalto, vaticinava, em privado, que Tarcisio não concorreria a presidente. Seria trocar uma reeleição estadual fácil por uma aventura de final incerto. A lei exige que governadores renunciem seis meses antes da eleição para disputar outro cargo
Em Brasília, parlamentares paulistas pró-Tarcisio o incentivam a disputar a Presidência, pois acreditam que podem ter a ganhar politicamente. O governador não teria dado a esses grupos os cargos que eles querem. Sem Tarcisio no comando, ficaria mais fácil abrir a porteira.
Sem Tarcísio em busca de reeleição, a vida do PT e de seus aliados em São Paulo tende a melhorar também. Enfrentar um postulante à reeleição é sempre difícil. Bolsonaro perdeu por pouco de Lula em 2022, apesar de mal avaliado nas pesquisas.
Carta Capital
https://www.cartacapital.com.br/politica/haddad-sera-candidato-em-sao-paulo-no-ano-que-vem/