Do lado de fora, militantes kirchneristas cantavam músicas peronistas, com mensagens de apoio à ex-presidente
Por Janaína Figueiredo - Buenos Aires
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse acreditar na inocência da ex-presidente argentina Cristina Kirchner nesta quinta-feira, após visitá-la em seu apartamento, no bairro portenho de Constitución, onde ela cumpre prisão domiciliar por corrupção. O encontro, que ocorreu ao final da participação de Lula na cúpula do Mercosul em Buenos Aires, durou pouco menos de uma hora.
Após a visita, Lula se encontrou com o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel na residência do embaixador brasileiro, onde tirou uma foto com um cartaz "Cristina Livre".
- Acredito na inocência de Cristina - disse Lula, segundo interlocutores presentes no encontro com Esquivel.
Poucas horas depois, o presidente também falou sobre o encontro em seu perfil no X, dizendo que ficou "muito feliz em revê-la e encontrá-la tão bem, com força e gana de luta".
"Tenho por Cristina uma amizade de muitos anos que vai muito além da relação institucional. Um carinho e afeto de amigos, companheiros de campo político e de ideais de justiça social e combate às desigualdades", escreveu. "Além de prestar minha solidariedade a ela por tudo que tem vivido, desejei toda a força para seguir lutando com a mesma firmeza que tem sido a marca de sua trajetória na vida e na política. Pude sentir nas ruas o apoio popular que tem recebido e sei bem o quanto é importante esse reconhecimento nos momentos mais difíceis."
Visitei hoje a companheira e ex-presidenta Cristina Kirchner (@CFKArgentina) em sua residência, em Buenos Aires. Fiquei muito feliz em revê-la e encontrá-la tão bem, com força e gana de luta.Tenho por Cristina uma amizade de muitos anos que vai muito além da relação. pic.twitter.com/EMRwu5GiZj- Lula (@LulaOficial) July 3, 2025
Em uma publicação em sua conta oficial no Instagram, Cristina compartilhou fotos batidas no interior de seu apartamento ao lado do presidente brasileiro. Ela comparou sua situação jurídica à enfrentada por Lula no Brasil - condenado à 12 anos e 1 mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso envolvendo um triplex no Guarujá, no âmbito da Operação Lava-Jato. Ele cumpriu 580 dias da pena na sede da Polícia Federal em Curitiba, antes dos processos serem anulados por vícios em seu curso. Cristina disse que ambos foram vítimas de uma "guerra jurídica".
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Lula abraça Cristina Kirchner durante visita à aliada - Foto: Reprodução/Instagram/Cristina Kirchner
"Hoje recebemos o companheiro Lula em minha casa, onde estou em prisão domiciliar por decisão de um Judiciário que há muito tempo deixou de esconder sua subordinação política e se tornou um partido político a serviço do poder econômico", escreveu Cristina, antes de comparar sua situação à de Lula. "Lula também foi perseguido, também usaram a guerra jurídica contra ele até prendê-lo, também tentaram silenciá-lo. Não conseguiram. Ele voltou com o voto do povo brasileiro e de cabeça erguida. Por isso, hoje, SUA VISITA FOI MUITO MAIS DO QUE UM GESTO PESSOAL: FOI UM ATO POLÍTICO DE SOLIDARIEDADE".
A ex- presidente argentina também utilizou a publicação para criticar diretamente o atual mandatário, Javier Milei, e seu governo, afirmando que "os olhos do mundo" observam uma "deriva autoritária". Ela definiu a situação como "terrorismo de Estado de baixa intensidade".
O advogado de Cristina, Carlos Alberto Beraldi, teve de apresentar um pedido formal de autorização para a visita de Lula aos juízes da Segunda Vara Federal de Direito Oral. Ele obteve a autorização ontem.
O presidente não fez comentários, nem na entrada nem na saída. Até o momento, Lula tem sido comedido em seus comentários sobre a situação jurídica de Cristina. Em um tuíte publicado em 11 de junho, após conversa telefônica com a ex-presidente, ele expressou sua "solidariedade" em um "momento difícil", mas evitou avaliar o processo que levou à sua condenação.
Do lado de fora, militantes de kirchneristas cantavam músicas peronistas, com mensagens de apoio à ex-presidente. Em vários momentos, os militantes pediram que Lula aparecesse na varanda do apartamento, mas o ex-presidente optou por não transformar a visita num ato de militância política.
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O chanceler Mauro Vieira, Lula, o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel e o político argentino Eduardo valdés durante encontro em Buenos Aires - Foto: Assessoria Adolfo Pérez Esquivel
Seus assessores insistiram, em todo momento, que "Lula não entrará no mérito do processo judicial".
- Eles são os expoentes da justiça social, vim apoiá-los - disse à AFP Martín Greaves, de 32 anos, que visitou o local. - É difícil e triste, mas me dá esperança ver que Lula não a abandonou, não se esqueceu dela.
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Militantes kirchneristas exibem bandeira em apoio a Cristina - Foto: AFP
Kirchner, 72, lidera o Partido Justicialista e é o principal oponente do governo do presidente ultraliberal Javier Milei. Condenada, ela só poder receber familiares, médicos e seus advogados, de acordo com as condições de detenção impostas pela Justiça. Sua sentença, que também inclui proibição perpétua de exercer cargos públicos, foi mantida dias depois de ela anunciar sua candidatura a legisladora pela província de Buenos Aires.
O presidente chegou acompanhado de poucos assessores. Seu último compromisso em Buenos Aires foi o encontro com o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel, na residência do embaixador brasileiro. Encerrada a agenda em Buenos Aires, Lula viajará para o Rio de Janeiro, onde será anfitrião, nos dias 6 e 7, da cúpula de presidentes e chefes de governo do Brics.
Com La Nación.
O Globo
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2025/07/03/cristina-kirchner-recebe-lula-em-apartamento-onde-cumpre-prisao-domiciliar-na-argentina.ghtml