Daniel Vorcaro, do Banco Master, e Andre Esteves, do BTG - Rubens Cavallari/Folhapress e Patrick T.Fallom/AFP/Montagem |
Compra do Master abre guerra de banqueiros e causa divisão política em Brasília

Compra do Master abre guerra de banqueiros e causa divisão política em Brasília

Aliados de Daniel Vorcaro e de André Esteves disseminam nos bastidores da capital versões distintas sobre a operação; eles não se pronunciaram oficialmente sobre o assunto

Guilherme Seto
Adriana Fernandes

O anúncio da venda do Banco Master para o BRB (Banco de Brasília) lançou luz sobre uma disputa entre dois banqueiros que atravessam momentos opostos em suas relações com a cúpula do poder em Brasília.

De um lado, Daniel Vorcaro, 41, controlador do Master, que fez com que o banco acelerasse o crescimento nos últimos anos usando uma estratégia considerada agressiva de venda de CDBs (Certificados de Depósito Bancário) com alta remuneração aos aplicadores.

O bilionário de Belo Horizonte (MG) ganhou fama e expandiu suas conexões empresariais e políticas por meio de um estilo de vida considerado extravagante, com festas luxuosas, viagens exclusivas e financiamento de eventos, dos quais personagens influentes do país se tornaram frequentadores.

De outro lado, André Esteves, 56, chairman e sócio sênior do BTG Pactual, que se consolidou como um dos principais banqueiros do país desde o início da década de 1990 por um estilo arrojado de fazer negócios e discreto no trato pessoal.

A dupla tem disputado espaço no mundo político de Brasília nos últimos anos em busca de influência. Agora, o negócio envolvendo o Master mobiliza esses aliados, dando origem a uma disputa de narrativas sobre o eventual interesse do BTG no Master e os riscos envolvidos no negócio.

A operação também expõe o que vem sendo interpretado nos bastidores da capital federal como um realinhamento de forças, em que Vorcaro aparece como um personagem em ascensão, enquanto Esteves passou a colecionar críticas por seu estilo excessivamente agressivo de atuação.

A Folha colheu relatos de empresários, políticos, lobistas e autoridades. As versões variam de acordo com o grau de proximidade com Vorcaro ou Esteves. Nos dois lados, há informações de que os banqueiros conversam pelo menos desde o último trimestre do ano passado a respeito da possibilidade de venda do Master ao BTG.

Procurados, Vorcaro e o BTG não se pronunciaram oficialmente sobre o assunto. Em comunicados oficiais ao mercado, o banco de Esteves tem afirmado que nunca fez proposta para aquisição de ativos ou de participação no capital social do Banco Master.



Aliados de Vorcaro acusam Esteves de manter o negócio em banho-maria sem colocar sobre a mesa uma proposta concreta para a aquisição, enquanto a situação do Master se deteriorava. Esses aliados afirmam que Esteves tentou pressionar o Master ao reduzir a distribuição dos CDBs pelo BTG, agravando a situação do banco.

A estratégia teria levado o controlador do Master a procurar o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, para fechar um acordo. Esteves nega a interlocutores tal versão.

Seus aliados dizem que ele queria auxiliar Vorcaro, mas não faria sentido acelerar a compra diante de uma potencial desvalorização do Master a partir dos rumores de mercado de que o banco não conseguiria chegar a 2025. A avaliação foi que seria prudente esperar.

Três dias após o anúncio da negociação entre Master e BRB, Esteves reuniu-se com Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, para tratar do tema. Segundo relatos, o banqueiro teria dito que a operação divulgada não parava em pé e que a autoridade monetária deveria fazer algo a respeito. Galípolo teria respondido que a avaliação seria técnica. Esteves nega a pessoas próximas o conteúdo do encontro e, procurada, a assessoria do BC respondeu apenas: "Sem comentários".

Acostumado a encontrar portas abertas em Brasília, Esteves tem visto Vorcaro abrir espaço próprio nos gabinetes.

Na Câmara dos Deputados, o chairman do BTG foi muito próximo dos presidentes Eduardo Cunha (hoje no PRD-RJ), Rodrigo Maia (atual presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras) e Arthur Lira (PP-AL).

Em 2016, Cunha chegou a ser definido como "menino de recados de Esteves" em delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral. Em 2021, o banqueiro relatou que recebia ligações de Lira pedindo conselhos em áudio vazado de um evento fechado do BTG.

O cenário já não se repete. O atual presidente, Hugo Motta (Republicanos-PB), e seu grupo de aliados têm bom trânsito com Vorcaro, e pouco contato com Esteves. Contribui para isso a influência do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP e ex-ministro da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro (PL).

Nogueira atuou nos últimos anos como articulador político de Bolsonaro junto ao centrão e ao empresariado. Na avaliação de parlamentares, hoje ele exerce função similar para Vorcaro, estreitando seus laços com lideranças de Brasília.

Além disso, o senador apresentou no ano passado a chamada "emenda Master" para aumentar o valor de cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) de R$ 250 mil para R$ 1 milhão. Os CDBs Master ofereciam taxas que chegaram a 140% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e usava em sua campanha de marketing a cobertura pelo FGC.

A proposta de Nogueira foi engavetada após resistência das principais entidades ligadas ao setor bancário.

Por anos, Nogueira foi padrinho político de Paulo Henrique Costa, o PHC, presidente do BRB. Por isso, especulou-se que o senador também teria mediado os contatos entre Vorcaro e Costa. No entanto, pessoas próximas de ambos afirmam que Nogueira e o presidente do banco brigaram e não se falam mais.

No governo do Distrito Federal, Nogueira tem a vice-governadora Celina Leão (PP) como aliada. Provável candidata à sucessão de Ibaneis Rocha (MDB) em 2026 com apoio do próprio governador, ela disse ao jornal O Globo que só soube da negociação tocada pelo banco estatal do DF por meio da imprensa.

Vorcaro também é próximo de Antonio Rueda, presidente nacional do União Brasil, presença constante em eventos e festas promovidas pelo banqueiro.

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/04/compra-do-master-abre-guerra-de-banqueiros-e-causa-divisao-politica-em-brasilia.shtml