Presidente foi tietado por convidados e usou conversas para discutir temas do governo com ministros e petistas
Por Joelmir Tavares, Valor - São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, compareceram na noite desta sexta-feira (14) ao aniversário de 80 anos da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), em São Paulo. Lula circulou pelo salão de festas do prédio onde Marta mora com o marido, o empresário Márcio Toledo, na região dos Jardins. Ele foi tietado por outros convidados, posou para fotos e encontrou no local os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Padilha (Saúde) e Ricardo Lewandowski (Justiça). Lula aproveitou o evento para falar com aliados sobre reforma ministerial, indicações para o Judiciário e a necessidade de enfrentar o problema da segurança pública. A festa também reuniu políticos como o ex-ministro José Dirceu (PT) e o deputado federal Guilherme Boulos (Psol), de quem Marta foi vice na chapa derrotada na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2024.
Na entrada, os convidados foram orientados a deixar os celulares com a equipe de cerimonial e informados que a restrição duraria enquanto Lula estivesse no local. O presidente, que cumpriu agenda de governo pela manhã em Sorocaba (SP) e passou a tarde na capital paulista, ficou no prédio durante cerca de duas horas e saiu da festa perto das 22h para pegar um avião rumo a Brasília. Antes do salão, Lula e Janja estiveram no apartamento de Marta e Toledo para um momento de diálogo mais reservado, do qual participaram também o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, o deputado federal Rui Falcão (PT), Haddad e Boulos.
Lula posou sorridente ao lado de simpatizantes para imagens feitas por seu fotógrafo oficial, Ricardo Stuckert, já que os celulares estavam vetados. O presidente foi posicionado em uma mesa próxima a uma das paredes do salão e teve a companhia, em diferentes momentos, de aliados como Falcão, Haddad e o deputado estadual de São Paulo Emidio de Souza (PT), além dos anfitriões. Lula ainda teve tempo de conversar brevemente com Dirceu, que deve concorrer a deputado federal em 2026, em uma mesa adjacente. Após jantar, deixou a comemoração discretamente.
Só então teve início a música, e os convidados voltaram as atenções para a aniversariante e as mesas do bufê, com pratos das culinárias japonesa, árabe e italiana. A presença de Lula foi vista como uma demonstração de prestígio de Marta. O presidente tem gratidão a ela por ter aceitado largar um cargo na gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para retornar ao PT e formar chapa com Boulos, o principal adversário do ex-chefe dela.

Guilherme Boulos, Lula e Marta Suplicy em caminhada pela avenida Paulista durante as eleições de 2024 - Foto: Edilson Dantas/O Globo
Marta compartilhou um texto em que agradeceu a Lula e Janja pela presença, afirmando ter "honra e enorme alegria" em recebê-los. "Com Lula, são muitos anos de lutas, parcerias, boas risadas, vitórias e algumas adversidades que fazem parte da vida e só nos fortalecem para seguir em frente", escreveu ela, que encerrou a mensagem parafraseando a atriz Fernanda Torres e dizendo que "a vida presta". A ex-prefeita e Toledo receberam no encontro também amigos de longa data, empresários, familiares e políticos de fora dos círculos da esquerda, como o presidente do PSDB na capital paulista, o ex-senador José Aníbal.
Futuro do governo, do PT e de Marta
Os bate-papos da noite giraram em torno de assuntos como a situação do governo federal, a sucessão no comando do PT e o futuro político de Marta. Depois de regressar ao PT em 2024 a convite de Lula para o pleito municipal, a ex-prefeita é um nome citado como opção do partido para as eleições do ano que vem. Na volta à sigla que tinha deixado em 2015, após discordâncias que a fizeram depois, como senadora, votar favoravelmente pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), Marta sinalizou que seu principal objetivo era contribuir com o partido. Ela já disse no passado que não gostaria mais de ter que se dividir entre São Paulo e Brasília, o que seria necessário se virasse ministra, senadora ou deputada federal.
No apartamento da ex-prefeita, Lula sinalizou a aliados que questões pendentes do governo, como a reforma ministerial e as indicações para as duas vagas de ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), devem ter encaminhamentos nos próximos dias, em meio à viagem dele para o Japão e o Vietnã, que começa no sábado (22). A expectativa é que decisões possam ser tomadas antes ou até mesmo durante a missão oficial. O presidente também revelou, segundo pessoas próximas, preocupação com o tema da segurança pública. Problemas como os furtos de celulares em grandes metrópoles estão no radar do petista, que se mostrou confiante na proposta de emenda à Constituição (PEC) sobre segurança articulada por Lewandowski e que será apresentada ao Congresso. Ele entende que o Planalto tem que se esforçar pela aprovação do texto e que a pauta é essencial para o governo.
Nos bastidores, Marta tem indicado apoio a Marco Aurélio de Carvalho para que o advogado, um de seus interlocutores mais sólidos no PT, seja nomeado por Lula o novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência. O cargo, hoje ocupado por Márcio Macêdo, é um dos que estão sob discussão na reforma promovida pelo petista. Carvalho é um dos integrantes do PT mais próximos de Marta nos últimos anos, além de ser do círculo íntimo do presidente -chega a ser chamado de "ministro sem pasta". Apesar das especulações, o advogado tem dito que pode continuar ajudando o governo em suas articulações via Prerrogativas com a sociedade civil. O nome de Boulos também aparece nos rumores sobre possíveis substitutos de Macêdo na pasta.
As trocas de ideias na confraternização passaram ainda por assuntos como a crise de popularidade do governo Lula, com muitos dos presentes procurando transparecer otimismo na reversão do cenário. No tópico eleições, uma das observações era a de que o PT hoje não tem candidaturas encaminhadas aos governos dos três principais Estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o que pode resultar em palanques esvaziados para Lula ou o candidato apoiado por ele à Presidência. Já a troca de comando no PT, com a saída da presidente nacional, Gleisi Hoffmann, era mencionada em meio à avaliação de que Lula mantém apoio à escolha de Edinho Silva, que tenta emplacar sua candidatura e contornar o racha no partido.
Valor
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