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Diversos componentes estão se combinando para formar uma só crise para o governo Lula

Diversos componentes estão se combinando para formar uma só crise para o governo Lula

Inflação está subindo, popularidade descendo, a economia está esfriando, as dificuldades políticas aumentando e a capacidade de tocar uma agenda política diminuindo

Por William Waack

É até com certa fleuma que Lula parece caminhar para um cenário dominado por componentes preocupantes. Ou então é a calma dos que ignoram o que pode acontecer, pois até aqui nada é galopante.

A tendência da inflação - o pior inimigo da popularidade de qualquer governo - é de subida. Os gráficos apontando para cima já vêm desde a metade do ano passado. Não causaram pânico, mas seu efeito corrosivo é palpável.

O mesmo ocorre com as taxas de crescimento de um PIB muito dependente do expansionismo fiscal e, portanto, do consumo das famílias. As previsões de que a economia vai esfriar são unânimes, o que parece se confirmar diante do sufoco causado por juros elevadíssimos.

Antecipa-se que seus efeitos serão igualmente corrosivos, embora seja muito difícil afirmar em que prazo. Não se acredita em danos de grande monta ainda no mercado de trabalho .

São constantes e repetitivas as derrotas do Lula 3 nos embates em redes sociais. Elas acompanham as enormes dificuldades políticas no confronto com o Legislativo, que deixaram somente o Judiciário como grande aliado do Planalto. O governo cambaleia, mas não é iminente um nocaute.

O problema é a combinação de inflação subindo, popularidade descendo, economia esfriando, dificuldades políticas aumentando e capacidade de tocar uma agenda política diminuindo. Evitar que essa mescla se converta em "massa crítica" implica de diagnóstico preciso da situação.

O único que Lula 3 forneceu até aqui é o de "problema de comunicação". O Planalto não vê a sinuca de bico fiscal, considera que o PIB sempre será melhor do que se previa, que a relação entre os poderes pode ser controlada pela concessão de ministérios e que desconfiança é mero resultado de fake news criadas pela oposição.

Parte dos fatores negativos estão fora do controle, como o delicado cenário internacional. Mas o que está encolhendo são as ferramentas para dar conta de deterioração política e econômica doméstica, até aqui razoavelmente ao alcance do Planalto.

Do lado econômico, as escolhas por uma política fiscal expansionista ajudaram a acelerar a inflação e reduziram espaço de manobra se as coisas continuam como estão - ou seja, pisar no acelerador significa impulsionar a crise de desconfiança.

Do lado político, o pecado original na montagem da coligação governista e a incapacidade do PT de realmente dividir o poder restringiu a margem de manobra e foi totalmente incapaz de impedir que o Legislativo deixasse de avançar sobre as prerrogativas do Executivo. Em outras palavras, Lula manda menos hoje do que há dois anos.

A ficha ainda não caiu.

O Estado de S.Paulo
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