Uma gestão de retrocessos em educação e segurança e que usa o aparelho estatal para beneficiar apadrinhados
Professora Bebel
Deputada estadual (PT-SP), segunda presidenta da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo)
Paulo Fiorilo
Deputado estadual, líder da federação PT, PC do B e PV na Assembleia Legislativa de São Paulo
No artigo-propaganda denominado "São Paulo avança na direção certa", publicado nesta Folha, o governador Tarcísio de Freitas apresenta uma visão fantástica de seu governo, recheada de autoelogios e desvinculada da realidade. A suposta "direção certa" esconde uma gestão marcada por retrocessos na educação e na segurança e pelo uso indevido do aparelho estatal para beneficiar apadrinhados políticos.
Indague-se: qual é o projeto do governador Tarcísio de Freitas para São Paulo?
Na educação, Tarcísio demonstra total falta de compromisso com a rede pública. Entre as propostas de seu plano de governo, passados dois anos, a recomposição e o aumento da aprendizagem não se concretizaram. São Paulo, o estado mais rico do país, viu seu desempenho educacional cair para níveis anteriores à pandemia, enquanto a média nacional subiu. Esse retrocesso reflete escolhas equivocadas, como o uso excessivo de plataformas digitais, que desconectou alunos e professores, e o veto ao projeto que visava contratar psicólogos e assistentes sociais para escolas, contradizendo suas promessas de apoio à saúde emocional da comunidade escolar.
Além disso, o governador extinguiu programa de transferência de renda que combatia a evasão escolar e priorizou escolas cívico-militares, uma bandeira ideológica sem comprovação de eficácia, que agrada sua base bolsonarista mas ignora soluções estruturais para os desafios da educação.
Não fosse o Pé-de-Meia, programa do governo Lula, os estudantes estariam à deriva. Na contramão da melhoria da educação, Tarcísio destruiu uma conquista histórica do estado ao aprovar uma emenda constitucional que corta R$ 11 bilhões anuais da área, condenando a rede estadual a problemas crônicos, como escolas precárias, falta de equipamentos e professores desvalorizados.
Na segurança pública, a situação é ainda mais alarmante. Tarcísio não apenas retrocedeu como institucionalizou uma política de truculência e autoritarismo.
Entre janeiro e novembro de 2024, 702 pessoas foram mortas por policiais, um aumento de 98% em relação ao mesmo período de 2022, último ano da gestão anterior. Essa tragédia não é resultado de ações isoladas, mas de um modelo que legitima abusos. Enquanto o crime organizado expande sua atuação, o governo mantém uma retórica vazia de "cancelar CPF", que nada resolve, mas amplia o medo e o distanciamento entre polícia e população.
Guilherme Derrite, secretário de Segurança, intensificou a politização da tropa, afastando críticos e promovendo aliados, ao mesmo tempo em que enfraqueceu controles essenciais, como o uso de câmeras corporais. Não fossem as correções de rumo propostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na obrigatoriedade de uso das câmeras corporais e o decreto federal, assinado pelo presidente Lula, que estabelece diretrizes para a atuação dos agentes de segurança, com foco na eficiência nas ações, valorização dos profissionais e respeito aos direitos humanos, a segurança pública de São Paulo continuaria sob risco.
No republicanismo, o cenário é igualmente preocupante. Embora pregue austeridade, Tarcísio destina milhões em "jetons" para conselhos e comitês estaduais, beneficiando aliados políticos, incluindo seu próprio cunhado e figuras controversas, como o coronel Aleksander Toaldo Lacerda, afastado da PM por incitar atos antidemocráticos.
O "rumo certo" a que o governador se refere não é aquele que favorece os trabalhadores, seus filhos e filhas e a população das periferias. É um rumo que beneficia o "ambiente de negócios" e entrega patrimônio público a interesses privados, como ocorreu na privatização da Sabesp. O governador parece mais preocupado em atender a interesses privados do que em oferecer segurança, educação e qualidade de vida à população.
Não é esse o rumo de que São Paulo precisa. É necessário um governo que priorize o povo, que invista em políticas públicas para todos e que enfrente desigualdades com coragem e competência, senhor governador.
Seguiremos atentos.
Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/01/sao-paulo-nao-esta-na-direcao-certa-senhor-governador.shtml