Tormenta seguida de fortes chuvas desestabilizaram o sistema de energia no Chile |
Governo do Chile anuncia que dará sequência ao cancelamento da concessão da Enel

Governo do Chile anuncia que dará sequência ao cancelamento da concessão da Enel

O ministro de Minas e Energia do Chile, Diego Pardow, informou na tarde desta sexta-feira, dia 16, que o governo dará sequência ao processo de cancelamento da concessão da Enel no país

"Os antecedentes que a Superintendência de Eletricidade e Combustíveis (SEC) reuniu até agora nos permitem confirmar que o requerimento de medidas prometidas pela concessionária não foram cumpridos. Por isso o procedimento de caducidade da empresa Enel vai seguir para a próxima etapa", afirmou Pardow.

"A etapa seguinte", prosseguiu o ministro chileno, "é uma fase técnica e que, tal como estabelece a lei, será dirigida pela SEC", sem avançar por hora em detalhes desse processo que pode ser longo, até que se abra um processo de licitação para o setor.

A Enel Sp.A, concessionária de energia italiana que atua em vários países, inclusive no Brasil, vem enfrentando sérias dificuldades para restabelecer a energia em diversas regiões chilenas após uma forte tormenta cerca de duas semanas atrás, que veio acompanhada de chuvas e derrubou o sistema elétrico na capital Santiago e em várias outras localidades.

O governo chileno já tinha avisado na semana passada que daria início a um processo de encerramento da concessão; agora seguirá adiante depois que a companhia italiana não conseguiu restabelecer minimamente a energia em um prazo de 24 horas dado pelas autoridades, afetando cerca de 20 mil lares.

Também na semana passada, o presidente Gabriel Boric disse que "a grave inoperância das distribuidoras de energia era inaceitável. Não cumprem com os prazos legais, não conseguem cumprir com seus compromissos (de manutenção e restabelecimento de energia). Empresas como a Enel procuram economizar quando ainda há gente sem luz em suas casas".


Passados 15 dias das chuvas, milhares de chilenos ainda estão sem luz em suas casas

Uma das maiores companhias elétricas atuantes no Chile, a Enel é a responsável por garantir a distribuição de energia em 33 distritos da região metropolitana, que é densamente povoada e inclui a capital Santiago e a cidade litorânea de Valparaíso, onde se encontra o Congresso Nacional.

Em busca de solucionar o problema, a empresa trouxe técnicos do Brasil, Argentina e Colômbia para ajudar as equipes locais. Ao mesmo tempo, anunciou que daria compensações nas contas de todos os clientes que tivessem sido prejudicados pelas quedas de força.

O Chile é responsável por cerca de 5% dos lucros da empresa, ajustados antes dos impostos sobre juros,taxas, depreciação e amortização. O Ebtida da Enel atingiu US$ 594 milhões no primeiro semestre de 2024, segundo apurou a agência Bloomberg.

Em São Paulo, o drama das chuvas de verão


Em São Paulo, a Enel também atravessou uma fase difícil no último verão. As quedas seguidas de energia começaram em novembro e, no final de dezembro, se concentraram na região central da capital paulista, com centenas de prédios residenciais e comerciais atingidos pelas falhas da companhia. A população ainda lembra de dezenas de caminhões com geradores movidos a combustível fóssil congestionando as ruas do Centro.


No final do ano, o Centro de São Paulo também ficou às escuras

A concessão da Enel com o Governo Federal é de 30 anos e vai até 2028. A partir de 2025 e nos três anos seguintes, o governo terá pela frente a renovação de 20 companhias elétricas.

Durante as seguidas quedas de energia no ano passado, cogitou-se iniciar o cancelamento da concessão por parte do município e da União. A Prefeitura paulistana ameaçou publicamente com essa ação, mas tudo não passou de uma jogada para o público, com o assunto logo esquecido após o final do verão. A discussão de uma possível extinção do contrato nunca avançou para uma troca de concessionária ou até mesmo a reestatização da companhia.

A Enel recebeu multas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da Secretaria Nacional do Consumidor, do Procon estadual e da Prefeitura, mas até hoje não se sabe se todas essas sanções foram devidamente pagas pela multinacional italiana.

O medo da população é que, com a aproximação da temporada de primavera/verão 2024/25, as chuvas voltem com intensidade e as enchentes se repitam na cidade. Alem do que, diante do histórico, há o temor de que a Enel não esteja devidamente preparada para enfrentar novamente esses problemas, como ocorreu no verão passado.