"Eric"- Idem, Estados Unidos, 2024 Direção: Lucy Forbes, Netflix | Imagem: Netflix
''Eric'', uma ótima série ambientada na Nova York dos anos 80, por Eleonora Rosset

''Eric'', uma ótima série ambientada na Nova York dos anos 80, por Eleonora Rosset

Toda noite mãe filho não se esqueciam do último ritual. Os dois olhavam debaixo da cama dele. Será que o monstro estava lá? Não estava e Edgar (Ivan Morris Howe) podia dormir.

Mas a verdade é que esse menino de nove anos tinha um problema. Muito sensível, Edgard se afligia com as brigas dos pais depois que ele ia dormir e mesmo quando estava acordado.

Eram os anos 80 e Nova York, uma cidade violenta, com gente estranha pelas ruas, drogados e instáveis, em meio a um ambiente de pobreza, racismo e homofobia. A AIDS fazia centenas de vítimas. Edgard, mesmo muito criança, percebia o clima pesado da casa dele. E também o da cidade.

Ia a pé com o pai todos os dias para a escola. Mas não estavam juntos. O pai, focado em outras coisas, não prestava atenção no filho, que seguia atrás. Até o dia em que Edgard não aparece na escola. Ninguém sabia onde ele estava. O pai o tinha perdido de vista e nem percebera.

A minissérie de seis episódios, criada por Abe Morgan, aproveita do sumiço da criança para aprofundar a personalidade do pai, Vincent, interpretado com intensidade por Benedict Cumberbatch. Seu personagem tinha um programa infantil de televisão com bonecos engraçados manejados por artistas.

Mas o desaparecimento do filho vai mexer ainda mais com o pai, perturbado desde criança. E piorara consideravelmente porque se tornara um alcoólatra.

Edgard era uma criança superdotada. Seus desenhos originais, onde se escondia de seus problemas, encantavam a todos. Mas o pequeno pedia era a atenção amorosa do pai de quem tinha medo. Mergulhado em sua agitação e falta de foco afetivo, o pai surtava quase que o tempo todo. E foi o filho que deu corpo e imagem a esses surtos, num desenho que mostrava com quem o pai falava em voz alta. "Eric" era enorme, azul, peludo, tinha chifres e dentes enormes.

A polícia vai ser chamada e o detetive preto, gay e inteligente (o ótimo McKaley Belcher III) vai se ocupar do caso do menino branco desaparecido pois já se ocupava com outro, envolvendo um menino preto, caso que o delegado considerava fechado.

Os subterrâneos da mente e da cidade têm papel relevante nisso tudo. E os atores excelentes e a história bem escrita prendem nossa atenção. Vale a pena maratonar.

(O trailer está no meu blog: www.eleonorarosset.com.br)