Edifício Copan, em São Paulo, na noite desta quinta-feira | Imagem: reprodução TV Globo
Centro de São Paulo enfrenta o mais longo apagão de energia da história da cidade

Centro de São Paulo enfrenta o mais longo apagão de energia da história da cidade

Cyro Fiuza

Nesta quinta-feira, dia 21, a paulistana Janaína Torres, foi brindada com uma premiação muito especial, a de melhor chef feminina de 2024 em todo o mundo, segundo votação do afamado ranking gastronômico "The World's 50 Best Restaurants". Mas a chef e co-proprietária da badalada A Casa do Porco e do casual Bar da Dona Onça, entre outros pontos na região central de São Paulo, não pôde comemorar sua eleição pois, no final da tarde da mesma quinta, acabou a energia no edifício Copan, onde fica o Dona Onça.

Na manhã desta sexta-feira, dia 22, o SP 1 edição, da TV Globo, abriu com uma reportagem direto do icônico Copan. Por volta das 7 horas, o edifício permanecia sem energia, e o Café Floresta, tradicional ponto de cafezinho instalado há mais de 40 anos no local, também não pôde abrir, para decepção do dono, 'seu' Adelino, e sua fiel clientela matinal. A matéria mostrou que moradores e alguns pontos de comércio, como uma padaria próxima, estão fazendo uso de geradores para suprir a energia.

Moradores e comerciantes de Santa Cecília, Campos Elíseos, República e até Cerqueira César, em direção à avenida Paulista, tem enfrentado problemas de falta de energia há vários dias, causando vários transtornos no centro expandido da capital. Na Santa Casa de Misericórdia, procedimentos eletivos foram suspensos e centenas de pacientes perderam consultas ou exames que estavam marcados há meses.


© Paulo Pinto/ Agência Brasil

Lilian Gonçalves, a conhecida dona de vários estabelecimentos na rua Canuto do Val, em Santa Cecília, disse ao site UOL que seus bares e restaurantes estão sem luz desde a última segunda-feira, dia 18, quando teve que contratar o primeiro gerador para cumprir o contrato de um evento para 200 pessoas. O Siga La Vaca e o Bar do Nelson Gonçalves nem abriram as portas na noite desta quinta.

Outros conhecidos restaurantes, como o Bar Brahma, na esquina das avenidas São João com Ipiranga, e pontos menores como bares, mercearias e quitandas, também ficaram impedidos de trabalhar. Foram dezenas de relatos de pequenos empresários que perderam seus estoques de comida e bebida, além de prejuízos ainda não calculados com a queima de geladeiras, freezers e fornos de microondas. Sem contar funcionários como garçons, cozinheiros, chapeiros, faxineiros e seguranças, muitos deles diaristas, que ficaram sem ganhar.

A Enel, empresa responsável pelo abastecimento de energia na cidade, tem sido alvo de críticas diante dos sucessivos blecautes. O Tribunal de Contas do Município (TCM) anunciou que vai analisar o contrato da concessionária de origem italiana. Em comunicado à imprensa, a "Enel Distribuição São Paulo lamenta os transtornos causados aos clientes... e reitera que tem mobilizado todos os recursos para restaurar a rede afetada. O trabalho na rede subterrânea é complexo, envolve condições de temperatura e espaços confinados para acesso. A companhia está mobilizando um total de 25 geradores para abastecer os clientes impactados, enquanto segue trabalhando nos reparos da rede para normalizar integralmente o serviço".

O que as reportagens têm mostrado nos últimos dias, porém, é que Enel está encontrando imensas dificuldades para solucionar os problemas na região central de São Paulo e, pior, não tem um diagnóstico certeiro sobre o que está ocorrendo, o que é muito grave pois significa que moradores e comerciantes continuarão sem ter uma previsão de quando a energia será restabelecida.

O que esses moradores, comerciantes e usuários do centro mais temem é uma falência generalizada do sistema de energia da região central, já que não há registros de fato semelhante ocorrido na cidade de São Paulo. Enquanto isso, soluções paliativas e caras são adotadas, como o uso dos caros, antiquados, barulhentos e poluidores geradores a diesel.

Até hoje, a Enel não apresentou à municipalidade um modelo alternativo e mais sustentável de uso de energia para a capital, onde possibilidades como energia fotovoltaica e sistemas de armazenamento de energia em baterias fossem propostos para mitigar problemas surgidos de emergências como essa que transtorna a vida no centro da capital paulista.

Outra notícia veiculada pelo UOL nesta sexta-feira: "o lucro líquido da Enel mais do que duplicou no ano passado, apesar do declínio nas receitas devido aos preços mais baixos que em 2022, quando os mercados de energia saltaram após o início da guerra entre Ucrânia e Rússia. A empresa de energia com sede em Roma reportou nesta quinta-feira, dia 21, um lucro líquido de 3,44 bilhões de euros em 2023, ante 1,68 bilhão de euros em 2022".