"Anatomia de uma queda"- "Anatomie d'une chute", França, 2023 Direção: Justine Triet |
''Anatomia de uma queda'': Palma de Ouro e cinco indicações para o Oscar

''Anatomia de uma queda'': Palma de Ouro e cinco indicações para o Oscar

Esse filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes e recebeu cinco indicações para o Oscar. Está em cartaz nos cinemas e é imperdível!, por Eleonora Rosset

Nas montanhas brancas dos Alpes franceses, pousa isolado um chalé. Lá vivem Sandra (Sandra Huler), escritora de sucesso, Samuel (Samuel Theis), professor, também escritor, mas bissexto, e o filho deles, Milo (Milo Machado), de 11 anos.

Samuel nasceu nesse lugar e é para lá que foram quando ele desistiu de ser professor. Mas Sandra gostava mais de Londres, onde moravam.

Ela estava dando uma entrevista para uma jovem jornalista sobre seu último livro. Mas a música altíssima que vem do andar de cima torna impossível a continuação de algo que estava fazendo bem à Sandra. Havia uma companhia interessante, risadas e vinho branco. O que parece que desagradou ao marido de Sandra. A música alta habitual estava acima do suportável naquela tarde.

Temos aí o primeiro contato com o casamento de Sandra, bem sucedida, e Samuel, que parece ciumento e invejoso, além de mostrar uma auto estima baixa.

Quando a jornalista vai embora, Milo sai com o cachorro, o border collie (Messi) que o conduz e em quem confia, já que o menino é cego. Quando começam as discussões entre os pais, ele sempre sai. Dessa vez não foi diferente.

De certa forma, o menino é o centro das desavenças do casal. Sandra não fala sobre isso abertamente mas percebe-se nas entrelinhas que culpa Samuel pelo acidente que deixou Milo cego aos quatro anos.

Passam-se duas horas e, quando o menino volta, os latidos do cachorro assinalam que algo grave aconteceu. O corpo morto de Samuel jaz numa poça de sangue. Milo grita pela mãe que aparece numa janela e corre para baixo. Liga para a polícia e abraça o filho.

Justine Triet, a diretora e roteirista, nos coloca nessa cena terrível e intrigante. O que aconteceu? Foi um acidente? Um assassinato? Um suicídio?

No tribunal, Sandra, acusada de assassinato, repete: "- Eu não matei meu marido".

E assistimos ao desfile das testemunhas que trazem as mais diversas versões e hipóteses sobre o ocorrido. Técnicos de medicina legal mostram fotos, desenhos e simulações em vídeo. Uns falam em acidente, outros em crime. O promotor se esmera em apresentar Sandra como a assassina. Mas não há provas.

A vida do casal é exposta sem pruridos.

E a plateia lotada segue também os depoimentos, quase que se divertindo com o espetáculo midiático.

Sandra está nas manchetes sensacionalistas e ao vivo na TV.

E, por vontade própria, em todas as sessões do tribunal, Milo está presente. Ouve os depoimentos, calado mas atento.

A cena final é comovente porque alguém, finalmente, recebe um consolo amoroso, desinteressado e sincero.

"Anatomia de uma queda" levou a Palma de Ouro em Cannes, está na lista dos melhores filmes do Oscar; Justine Triet está na lista dos melhores diretores; Sandra Huller foi indicada a melhor atriz; a diretora e seu companheiro Arthur Harari disputam o Oscar de melhor roteiro original e o filme recebeu a indicação de melhor edição.

O filme trata de muitos assuntos mas principalmente da cultura do espetáculo, da busca do sensacionalismo pelas mídias e da difícil relação entre a "verdade" subjetiva e fatos que ocorrem na vida dos mortais.

Imperdível.

(O trailer está no meu blog: www.eleonorarosset.com.br)