Uma garota raspa os cabelos na tela em close. Vozes femininas a condenam e ela chora. O filme começa pelo fim.
Mas vamos voltar ao princípio da história de Gita, morena bela, cabelos pretos ondulados, um rosto onde brilham olhos cor de mel, boca carnuda. Ela é cigana e tem 17 anos.
Vemos quando a família dela, pai, mãe, irmão e irmãzinha deixam o País de Gales e voltam para a Polonia onde a família maior vive num casarão. Gita está triste por deixar seus amigos.
Aliás, o motivo de voltarem para a Polonia, Gita ainda não sabe. Os pais, endividados, fizeram um trato. A filha vai ter que se casar com o filho de um cigano rico que tem negócios escusos. O pai dela é viciado em jogo e perde sempre. Foi um dos motivos que obrigaram a família de Gita a sair da Polonia.
Mas agora, o casamento vai abrir as portas do casarão e os abraços virão.
Gita Burano gosta de música e de cantar. Tem uma bela voz. Compositora de rap, ela vai contar muita coisa através de suas canções.
Contrariando a família, vai matricular-se na escola assim que chegam. É importante para ela ter amigos de sua idade.
É aí então que, apesar de sua rebeldia, Gita vai ter que se submeter às leis não escritas pelas quais vive o seu povo. A família tem que vir antes de tudo e cabe à mulher ter filhos, cuidar da casa e dos homens. Tem que usar saia, não pode maquiar-se e sair sempre acompanhada. E o principal é manter-se pura. Casar-se intacta. Do contrário é infâmia.
O filme traz as cores que os ciganos usam, joias, cantos e danças. Violões, violinos e sanfonas animam as pessoas.
Mas, infelizmente, fica claro o preconceito que os ciganos sofrem, vistos sempre como ladrões e mentirosos. Há uma incompatibilidade dos ciganos e dos outros povos com quem convivem à distância. Vieram do norte da Índia séculos atrás. Eram nômades. E conservaram sua cultura nos lugares onde viveram. Crimes de ódio contra essa comunidade não são raros.
Durante a Segunda Guerra foram mandados para os campos de concentração nazistas e muitos morreram. Uma história de ódio e racismo sempre cercou os ciganos.
Zofia, a atriz que encarna Gita, é fotogênica e carismática. Quando ela aparece, ilumina a tela com sua intensidade. A diretora é talentosa e as cenas, mesmo as mais banais, são vividas com emoção pelos atores. A direção de arte e a fotografia ajudam a criar um clima romântico, sensual e dramático.
"Infamia" tem oito capítulos e é comovente, nos envolvendo com a história bem contada. Ela nos aproxima de um povo desconhecido pela maioria, que não imagina que no Brasil vivem 500.000, distribuídos em três etnias, Calon, Roma e Sinti, com acampamentos em 21 estados brasileiros, principalmente Goiás, Bahia e Minas Gerais.
Vamos apoiar de algum modo os que lutam por direitos civis para esse povo tão injustiçado?
(O trailer está no meu blog www.eleonorarosset.com.br )