Jorge Paulo Lemann | Imagem: Divulgação
Semafor, novo jornal on-line, tem Jorge Paulo Lemann como investidor

Semafor, novo jornal on-line, tem Jorge Paulo Lemann como investidor

Depois de uma onda de investimentos milionários em veículos on-line, evidenciada durante o boom da internet nos anos 2000, o jornalismo está de volta ao mundo dos negócios com status renovado. Prova disso é o lançamento, previsto para outubro, do site Semafor, nos Estados Unidos.

A iniciativa é de dois jornalistas, que deixaram seus empregos estáveis para se aventurarem como empreendedores. Justin Smith, ex-executivo-chefe da Bloomberg Media; e Ben Smith, ex-colunista de mídia do The New York Times, estão apostando em uma onda de negócios no setor, e querem superar os obstáculos que atrapalharam várias startups jornalísticas lançadas nos últimos 20 anos.



Justin Smith e Ben Smith

Exemplos de investimentos na área de mídia, nem sempre bem-sucedidos, são muitos. No Brasil, um dos maiores, senão o recordista, foi a compra do portal Zip.net pela Portugal Telecom, no ano de 2000, por US$ 365 milhões. A PT queria usufruir da grande audiência e de um cadastro abrangente de usuários (cerca de 2,6 milhões de nomes) para seus negócios voltados às telecomunicações. Algum tempo depois, o portal foi desativado, e concorrentes como UOL e Terra passaram a dar as cartas em termos de sites jornalísticos locais.

Longe de passar pelo sonho do portal da Portugal Telecom, o novo empreendimento dos parceiros Smiths, que não parentes, garantiu um investimento inicial de US$ 25 milhões, obtidos de várias fontes, para colocar em pé o projeto.

Entre os financiadores, está um nome conhecido do empresariado brasileiro: Jorge Paulo Lemann, um dos fundadores da 3G Capital. "Uma empresa de mídia premium e genuinamente global, capaz de atender às necessidades do público de notícias de hoje por meio de informações confiáveis e de qualidade [...] é realmente atraente", disse ele ao jornal Financial Time.

Outros investidores da Semafor incluem o bilionário das criptomoedas Sam Bankman-Fried; o co-fundador do American Journalism Project e do The Texas Tribune, John Thornton; e o ex-proprietário da revista The Atlantic, David Bradley.



O Semafor não divulgou suas metas financeiras ou estimativas sobre valor de mercado, mas o modelo de negócio passa longe das startups e de IPOs. Os sócios evitaram levantar recursos de capital de risco do mercado norte-americano ou mesmo do exterior. Preferiram obter dinheiro com investidores de altos recursos que, apostam eles, estariam mais inclinados a permanecer ao lado da empresa caso a economia mundial sofra novos solavancos com taxas de juros ou ameaças constantes de uma recessão.

No formato planejado, a equipe do Semafor terá inicialmente 60 pessoas, entre as áreas editorial e comercial. Fora dos EUA, o site pretende abrir sucursais, começando pela África e depois os mercados do Oriente Médio, Índia e Europa. Sem contemplar, por hora, os países da América Latina.

Com sua equipe inicial, o Semafor está sendo considerado por parte dos analistas voltados ao setor de mídia "pequeno", em comparação às organizações contra as quais pretende competir. O "The New York Times" tem mais de 1,7 mil jornalistas, enquanto a BBC tem mais de dois mil. E, mesmo após a aquisição do "The Athletic", um portal de esportes, este ano, o "The New York Times" tem quase US$ 500 milhões em caixa para investir ou apenas para se resguardar em tempos mais bicudos.

Em um comparativo com a imprensa brasileira, o novo site se assemelha, em equipe, ao InfoMoney, projeto nascido no boom da internet (anos 2000) e posteriormente adquirido pela XP Investimentos. Hoje, o veículo, considerado o maior do país em sua área de finanças e investimentos, possui uma equipe de 55 profissionais, entre redação, publicidade, tecnologia e marketing digital.

No projeto inicial, o Semafor oferecerá um site de notícias e um aplicativo para dispositivos móveis. No primeiro ano, será de leitura gratuita, contando com publicidade e eventos ao vivo para gerar receita. Depois de um ou talvez dois anos - um prazo ainda não fechado - o empreendimento passará a cobrar pelo acesso ao conteúdo.

O objetivo editorial do Semafor é enfrentar os gigantes das notícias de interesse geral - "The New York Times", "The Washington Post", "BBC" e "CNN", com o foco em publicar furos jornalísticos. Em linhas gerais, pretende atrair a confiança do leitor dividindo as matérias em seções, deixando separado o que é notícia do que é análise. Haverá também uma seção oferecendo um ponto de vista oposto e um ponto de vista de outra região do mundo.

Diante de tantos objetivos, estratégias e táticas que um departamento de marketing poderia propor dentro do plano de negócios da nova empresa, os editores virem a público e dizerem que o foco é a publicação de "furos", é de se supor que a maré do jornalismo mundial pode se voltar salutarmente àquilo para o qual a imprensa foi criada: a busca de notícias. Simples? Talvez não, em um mundo hoje parcialmente dominado por opiniões de influenciadores digitais e açodado pela praga das "fake news".