Imagem: Divulgação Coesa
Metha e Coesa desmembram OAS e tentam se reerguer

Metha e Coesa desmembram OAS e tentam se reerguer

A empreiteira baiana, uma das maiores do país até ser envolvida na Operação Lava-Jato, se dividiu em duas empresas após longa recuperação judicial e com sócios distintos

Ao fim de uma longa recuperação judicial, a antiga construtora baiana OAS se dividiu em duas companhias. A primeira delas é a Metha, holding 100% controlada pela família Mata Pires, que passou por uma reestruturação financeira mas que ainda tenta se reerguer no mercado nacional. A segunda parte é a Coesa, outro novo grupo, com sócios distintos, formado a partir dos ativos que a outra nova empresa abriu mão, e que hoje encontra-se novamente em processo de recuperação judicial, para renegociar uma dívida na ordem de R$ 5,5 bilhões.

Segundo informação veiculada pelo Valor em sua edição desta terça-feira, dia 1º, a Coesa espera aprovar hoje (quarta, dia 2), seu novo plano de recuperação judicial. A proposta da companhia é pagar seus principais credores com um desconto de até 80% desse valor, com quitação em até 10 anos.

Como trunfo para poder pagar os 20% de uma dívida renegociada, a construtora luta em outra frente judicial em torno da rescisão de três grandes obras: o Rodoanel de São Paulo, a Refinaria Abreu e Lima (PE), da Petrobras, e um projeto rodoviário internacional, em Trinidad e Tobago. No total, a Coesa espera receber indenizações de até R$ 2,6 bilhões nesses processos.

Apesar da separação entre os dois negócios, ainda há cobranças de credores que acham que ambas devem se responsabilizar solidariamente pelas dívidas. Para a Metha, a Coesa - e sua nova recuperação judicial bilionária - não têm relação com o grupo, já que o controle acionário foi transferido. Ao todo, foram vendidas, em maio de 2021, cinco empresas, que incluem ativos imobiliários e projetos internacionais de engenharia.

Os compradores formam o Fundo de Investimentos em Participações (FIP) Zegama, gerido pela Reag. Os investidores do fundo são ex-executivos da OAS, e o valor da venda teria sido simbólico, afirmaram fontes de mercado, na ocasião, ao jornal Valor.

No entanto, essa desvinculação não é completa, porque parte das empresas vendidas à Coesa ainda são fiadoras das debêntures da Metha. O grupo nega que a nova recuperação judicial apresente algum risco para sua situação financeira, porque as garantias das dívidas poderão ser substituídas - ou seja, na pior das hipóteses, caso as empresas fiadoras virem à falência, a Metha teria outras garantias para oferecer aos credores, segundo a empresa.

A Metha encerrou sua recuperação judicial em março de 2020, após cinco anos. A dívida, que em 2015 era de R$ 10 bilhões, é hoje de R$ 1,4 bilhão - referente a duas emissões de debêntures, cujas garantias estão na Coesa. O prazo de pagamento é extenso, até 2041, e taxa de juros é de 1% ao ano. Há também o pagamento do acordo de leniência, de R$ 1,92 bilhão, que terá que ser quitado com a Controladoria Geral da União (CGU) até 2047.




Para o presidente da Metha, Josedir Barreto, o endividamento já foi equacionado e ajustado à realidade de caixa do grupo. O foco agora é voltar a conquistar projetos e retomar o crescimento.

O plano é seguir três linhas de expansão. A primeira é a KPE, nova construtora do grupo - e considerada seu "DNA"; a segunda é a Beyond, braço de saneamento básico; e a terceira é a E2, destinada à gestão de arenas esportivas. Outro direcionamento é focar apenas em projetos no Brasil, ao contrário da OAS, que era internacionalizada.

"A antiga OAS tinha diversas companhias espalhadas pelo mundo, fez obras em mais de 20 países. No momento em que entendemos que alguns dos negócios não faziam sentido para o futuro, decidimos nos concentrar naquilo que é nossa grande geração de valor", avalia o executivo.

A construtora KPE tem um estoque de projetos contratados de R$ 1,8 bilhão, e a projeção é incorporar outros R$ 2,5 bilhões nos próximos meses, segundo ele. "Mais de 50% dos contratos já são com o setor privado e, com a concretização dos próximos acordos, a proporção vai logo passar a dois terços", anuncia Barreto.

Em saneamento, o plano é focar em projetos menores. "Os maiores ativos estão sendo disputados por grandes grupos. Mas tem uma parte do Brasil que vai precisar de investimentos e que não necessariamente será o foco dos grandes. É aí que queremos atuar. Temos capacidade para operar", afirma Barreto. Ele diz que há interesse em firmar parcerias para disputar leilões.

A construtora também tenta recuperar um contrato de R$ 1,1 bilhão no setor, a Parceria Público Privada (PPP) de esgoto em Guarulhos (SP), que está em disputa. A prefeitura tentou anular o acordo e entregou a operação para a Sabesp. O caso foi levado a um tribunal arbitral, que já deu parecer favorável à Metha. Porém, ainda não há definição sobre o que acontecerá com o contrato. Sobre o episódio, Barreto diz que "caso o grupo recupere a PPP, vamos certamente desenvolver com um parceiro".

No caso da empresa de arenas, a E2, a ideia é também desenvolver novos projetos, além dos três em curso: a Arena do Grêmio (RS); a Arena Fonte Nova (BA); e a Arena das Dunas (RN). "Tem muitos ativos ainda não operados pelo setor privado, e outros em que podemos fazer plataformas conjuntas, unir forças", diz Barreto. Posterior a essa reportagem, o Flamengo anunciou que pretende construir um estádio próprio no Rio, ainda sem uma empreiteira contratada para isso.

"Nosso objetivo é focar cada vez mais em novos negócios, assumir novas obras, seja para clientes públicos ou privados, e seguir adiante, de forma ética e íntegra", ressaltou o presidente da Metha em comunicado divulgado pela nova construtora.