Tik Tok e Meta, na mira dos governos por conta das fake news

Tik Tok e Meta, na mira dos governos por conta das fake news

Duas das maiores plataformas sociais do mundo, a chinesa Tik Tok e a norte-americana Facebook, estão na mira do governo dos Estados Unidos e de outros países por conta do combate às fake news e o risco que tais páginas podem causar às crianças. A discussão não é nova, mas ganhou destaque esta semana por conta do empenho do governo da Califórnia em processar o Meta - dono do Facebook - por danos causados aos mais jovens, no que é descrito como addiction (vício), segundo informou o The Wall Street Journal.

Os procuradores do governo da Califórnia querem levar aos tribunais não apenas o grupo Meta como ainda o Tik Tok, pertencente à companhia chinesa Bytedance Ltd., e também o Snap, responsável pelo aplicativo Snapchat.

Voltando um pouco no tempo, em março deste ano, o jornal The Washington Post já havia revelado uma guerra interna entre as duas gigantes norte-americana e chinesa. Uma disputa de cunho econômico, por fatias de mercado. Sob pressão para reconquistar usuários, em especial os mais jovens, o Meta teria contratado uma das maiores consultorias republicanas dos Estados Unidos, a Targeted Victory, para empreender uma campanha nacional contra o Tik Tok

A ação foi orquestrada para colocar o público contra o aplicativo de vídeos e incluiu lobby com políticos e a publicação de artigos de opinião nos principais meios de comunicação regionais norte-americanos. Tais materiais promoveriam e divulgariam histórias de cunho duvidoso, que poderiam ser classificadas como fake news da página chinesa.



O filho do ex-ditador Ferdinand Marcos, que é conhecido como Júnior.

Fora das fronteiras dos Estados Unidos, mas igualmente preocupante pelo poder de manipulação apresentado, está o episódio da recente eleição do filho do ex-ditador Ferdinand Marcos, que é conhecido como Júnior ou pelo apelido, "Bongbong". Ex-senador nas Filipinas, 64 anos, ele venceu o pleito para presidente e será empossado nesta quinta-feira, dia 30, após 36 anos da deposição de seu pai.

Um dos principais suportes da campanha de Ferdinand Júnior foi exatamente o Tik Tok, afirmam alguns analistas políticos que acompanharam a eleição filipina. "A família de Marcos foi reabilitada com a ajuda dessa plataforma, que passou uma tinta no passado dela", afirmou Ciaran O'Connor, um analista de tracking, desinformação e extremismo do Instituto de Diálogo Estratégico baseado em Londres, conforme relatou a agência Bloomberg.

O que faz o Tik Tok diferente é seu formato de vídeo curto, onde os usuários assistem o conteúdo direcionado por um algoritmo em que a repercussão e os milhares, ou milhões de cliques, vêm de trechos pinçados do que foi filmado - portanto, de fácil manipulação e direcionamento.

No cenário político, criticam os analistas, tais vídeos podem ser usados inclusive para manipular eventos históricos, imputando informações incorretas sobre os concorrentes em uma disputa eleitoral. No caso específico das Filipinas, o Tik Tok foi utilizado para editar comentários feitos pela sua adversária, a vice-presidente Leni Robredo, levando a audiência a crer que ela conduziu uma administração corrupta no país. Ferdinand Júnior venceu o pleito com 58,8% dos votos.

Com várias eleições já realizadas este ano, no Chile, nas Filipinas, na Colômbia, e uma outra à frente em outubro, no Brasil, a preocupação é que casos como esse de Júnior "Bongbong" não sejam exceção mas sim uma prática cada vez mais reinante e perigosa. Seis anos atrás, o Facebook foi manipulado para ajudar Donald Trump a se tornar o 45º presidente dos Estados Unidos. Agora, foi a vez do Tik Tok ser usado com o mesmo propósito.

No Brasil, o cenário é acompanhado com atenção por analistas, imprensa e uma parte dos políticos que realmente se preocupam com o avanço das notícias falsas em pleno ano eleitoral. Na Câmara dos Deputados, prossegue em tramitação o Projeto de Lei 2630 - a PL das Fake News - aguardando a votação pelo Plenário da Casa.