Elon Musk da montadora Tesla | Imagem: Divulgação
Desafios da Ford são os mesmos para toda a indústria de veículos elétricos

Desafios da Ford são os mesmos para toda a indústria de veículos elétricos

As notícias envolvendo a Ford durante os últimos dias, tanto sobre os resultados ruins de seu balanço de primeiro trimestre como do lançamento bem-sucedido da picape 150-Lightning, são apenas a ponta do iceberg do que se transformou a indústria de veículos elétricos em todo o mundo.

A Ford informou na quarta-feira, dia 27, ter registrado prejuízo líquido de US$ 3,1 bilhão no primeiro trimestre deste ano, um pouco menos que a perda de US$ 3,3 bilhões assinalada em igual período de 2021. A receita da gigante do setor automotivo recuou na comparação anual dos três primeiros meses de 2022, a US$ 34,5 bilhões, abaixo dos US$ 36,2 bilhões de 2021, uma queda de 9%. A companhia afirma que o resultado reflete uma perda de US$ 5,4 bilhões em valor de mercado da Rivian, empresa de veículos elétricos norte-americana fundada em 2009, da qual a Ford detém 12% de participação.

Mas as dificuldades não são um acontecimento pontual da Ford. A Amazon acaba de divulgar seu balanço trimestral com prejuízo líquido de US$ 3,8 bilhões no período - decepcionante diante dos ganhos de US$ 8,1 bilhões registrados em igual período do ano passado. O prejuízo inclui uma perda de avaliação antes de impostos de US$ 7,6 bilhões incluída em despesas não operacionais do investimento em ações ordinárias da Rivian Automotive - a mesma produtora de veículos elétricos com a qual se envolveu a Ford.



A picape 150-Lightning da Ford - Divulgação

Diante de tal cenário da concorrência, a Tesla, montadora do bilionário Elon Musk reconhecidamente tida como líder da revolução tecnológica que tomou conta do segmento automotivo, bem que poderia nadar de braçada em cima de Ford e Amazon. Mas ela também sofreu com os impactos do mercado. Somente no primeiro quadrimestre de 2022, a companhia perdeu 16,55% de seu valor de US$ 1,061 trilhão, passando a valer US$ 909,1 bilhões, segundo dados da TC/Economatica divulgados pelo site InfoMoney.

No caso específico, cerca de 12% desse valor ficou pelo caminho em apenas um dia de bolsa de valores. Foi na terça-feira, dia 26, em que a Tesla perdeu US$ 126 bilhões após seu dono ter comprado o Twitter por US$ 44 bilhões. O mercado e os acionistas da empresa não aprovaram o movimento de Elon Musk, que precisou vender ações para se capitalizar para essa aquisição.

Outro temor do mercado: que Musk pudesse se desinteressar da Tesla diante de novos desafios: primeiro a Space-X, agora o Twitter. Diante de tal cenário, só o tempo e próximos passos adotados pelo empresário bilionário é que dirão se a Tesla vai se perpetuar como uma empresa de carros elétricos globalmente, avaliaram especialistas do setor automotivo.

Ford, Rivian, Amazon e Tesla. Somente esses quatro players mundiais já seriam garantia certa de concorrência bilionária. Mas há pelo menos mais dois nomes de peso nesse jogo. A Toyota anunciou, no final do ano passado, seus planos de investir US$ 70 bilhões em carros elétricos até 2030. A montadora japonesa, considerada a maior do setor em todo o mundo quando se considera carros elétricos mais os veículos movidos a combustível fóssil, é pioneira com o seu modelo híbrido Prius, lançado no final dos anos de 1990 e vendido no Brasil desde 2013, onde começou a circular pelas ruas como taxi.

Já a GM prepara-se para essa guerra com a intenção de investir US$ 35 bilhões para lançar 30 modelos elétricos dos mais variados perfis até 2025. Como metas desse plano, a montadora norte-americana anunciou que pretende atingir a neutralidade de carbono globalmente até 2040, e não lançar mais veículos movidos a combustão até 2035, segundo informou à revista Exame a vice-presidente de Relações Governamentais da GM América do Sul, Marina Willisch. A executiva não descartou, na mesma entrevista, a possibilidade de o Brasil participar desse esforço mundial junto à matriz norte-americana, rumo ao desenvolvimento de novos modelos elétricos.

Riscos inflacionários globais, aumento dos juros para tomada de crédito, falta de insumos nas cadeias de produção - como os semicondutores - impactos da guerra entre Ucrânia e Rússia, com o aumento dos custos de energia e petróleo. Tais fatores, que já contaminaram parte do setor de tecnologia, como mostram os recentes números negativos das bolsas de valores norte-americanas, vão continuar pautando as ações dessas companhias voltadas à produção de veículos elétricos durante todo o ano de 2022. Apesar dos tropeços recentes da maioria delas, continuam sendo as grandes inovadoras de um mercado em ascensão onde ninguém parece disposto a entregar os pontos, pelo menos, por hora.