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Sidney Poitier, 94 anos, primeiro ator negro a vencer o Oscar

Sidney Poitier, 94 anos, primeiro ator negro a vencer o Oscar

O ator bahamense-americano Sidney Poitier, que morreu nesta quinta-feira, aos 94 anos, foi um astro pioneiro de Hollywood, ao abrir as portas para as minorias raciais no mundo do cinema, onde os negros eram relegados a papéis menores. Ele morreu em sua casa, na cidade de Los Angeles, Califórnia. A causa da morte não foi informada.


O ator conseguiu romper esses estereótipos nas décadas de 1950 a 1970, participando de uma lenta mudança de mentalidade da sociedade norte-americana. Ele foi o primeiro homem negro a ganhar o Oscar de melhor ator, por "Uma Voz nas Sombras", de 1963, do diretor Ralph Nelson. "A viagem para chegar até aqui foi longa", disse na época, bastante emocionado, após receber a estatueta, em 1964.

Graças a seus papéis, o público viu um ator negro interpretando um médico ("O Ódio é Cego", 1950), professor ("Ao Mestre, com Carinho", 1967), e até mesmo um policial ("No Calor da Noite", 1967).

Aos 37 anos, quando recebeu seu Oscar, Poitier era o único astro negro em Hollywood. "A indústria cinematográfica ainda não estava preparada para elevar mais de uma personalidade das minorias ao estrelato", escreveu o ator em sua autobiografia "This Life".



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Em 2002, Sidney Poitier recebeu, 40 anos depois, sua segunda estatueta. Foi um Oscar honorário oferecido pela Academia por "suas extraordinárias interpretações, sua dignidade, seu estilo e sua inteligência". Naquela mesma noite, Denzel Washington se tornou o segundo homem negro a receber o Oscar de melhor ator: "Nunca chegarei à sua altura e sempre darei meus passos sobre os seus, Tio Tom", declarou Denzel sobre seu ídolo.

Sidney Poitier foi descoberto profissionalmente pelo premiado diretor Joseph Mankiewicz quando atuava no teatro na Broadway, em 1946. Em seu primeiro filme ("O Ódio é Cego", 1950), interpreta um médico que atende ao lado dos leitos de dois racistas brancos. O filme, também estrelado por Richard Widmark e Linda Darnell, foi censurado no Sul, mas lançou definitivamente sua carreira no cinema.

Três anos depois de ganhar o Oscar, representou o papel de herói em três grandes sucessos de bilheteria: "Adivinhe Quem vem para Jantar", "Ao Mestre, com Carinho" e "No Calor da Noite". Poitier se tornou tão popular no cinema quanto Steve McQueen, Paul Newman, Charles Bronson e Yul Brynner.

Em Hollywood, no entanto, pouca coisa tinha mudado para os negros. Seus críticos o acusavam por seu papel de genro ideal, que não refletia a discriminação sofrida pelos afro-americanos. Com isso, ele recebeu apelidos como "Tio Tom", "lacaio" e "engraxate de um milhão de dólares".

No início dos anos 1970, surge um novo movimento para o cinema negro, o "Blaxploitation" e seus filmes mais radicais. "Minha carreira como astro de Hollywood estava chegando ao fim", disse o ator, que passou a se dedicar à direção.

Muitos anos depois, em 1997, interpretou o líder negro sul-africano Nelson Mandela e, depois, o então primeiro juiz negro da Suprema Corte dos Estados Unidos, Thurgood Marshall.

Casado por 15 anos (1950-1965) com a dançarina Juanita Hardy, com quem teve quatro filhas, Poitier se casou novamente em 1976, com a atriz canadense Joanna Shimkus, com quem teve outras duas filhas.

Em 2000, contou à apresentadora Oprah Winfrey que havia se mantido fiel aos princípios de seu pai. Apesar da enorme pobreza, ele "manteve sua dignidade, mesmo que, em toda a sua vida, jamais tivesse ganhado tanto dinheiro como o que eu poderia gastar em uma semana".