Duas pesquisas divulgadas nestes últimos dias de 2021 trazem um panorama preocupante mas também desafiador para as mulheres brasileiras. Na primeira delas, promovida pela bolsa de valores B3, fica-se sabendo que o sexo feminino representa apenas 27% do total de investidores no mercado de ações, com um crescimento ainda tímido dessa base nos últimos anos. O grupo representa 1,114 milhão de CPFs cadastrados na bolsa, enquanto os homens somam 2,9 milhões de usuários.
A pesquisa da B3 aponta, no entanto, que o cenário é bem mais acessível para as mulheres. Hoje em dia, tem-se acesso a plataformas mais amigáveis do que 15 ou 20 anos atrás, quando os bancos não se interessavam em abrir espaço no mercado de renda variável para seus clientes e as corretoras ainda agiam de forma tradicional, com um processo de compra e venda de ações que apenas os experts conseguiam decifrar.
Contribui para uma melhora do cenário o aumento geral de participantes da bolsa, que assim vai se popularizando em todas as camadas sociais. De um milhão de pessoas em 2018, a bolsa dobrou esse número em 2019 para atingir, neste ano de 2021, quatro milhões de clientes. Outro ponto positivo foi o surgimento dos influenciadores digitais - sobretudo das influenciadoras - que pelas redes sociais falam sobre investimentos sem usar e abusar do "economês", ajudando a popularizar o mercado entre o público feminino.
Essa luta para ganhar protagonismo não se restringe apenas à bolsa de valores. Uma outra pesquisa, da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação, Comunicação e Tecnologias Digitais (Brasscon), aponta que 36,9% das vagas no mercado de TI no Brasil são ocupadas por mulheres. No ano passado o setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) empregava no Brasil 867 mil pessoas, sendo 547,3 mil, ou 63,1%, homens; e apenas 319,8 mil, ou 36,9%, mulheres.
A baixa participação do sexo feminino no setor ocorre quando a própria Brasscom estima, em estudo divulgado no início deste mês, que a digitalização da economia demandará 797 mil vagas para profissionais de TIC no Brasil até 2025. Ou seja, haverá muitos empregos para serem conquistados nos próximos quatro anos.
O maior número dessas vagas estará concentrado nas chamadas tecnologias maduras, base dos setores que deslancharam durante a pandemia: análise de dados (big data), nuvem e internet móvel. Depois, aparecem inteligência artificial (metaverso) e internet das coisas, campos que crescerão com o advento do sistema 5G. Embora em desvantagem numérica, as mulheres podem e devem se aproveitar dessas futuras oportunidades, já que têm tradição no setor de TI e telecom.
Apenas para lembrar de alguns nomes muito representativos dessa tradição em tecnologia, a HP já foi liderada mundialmente pela norte-americana Carly Fiorino, entre 1999 e 2005, enquanto que, no Brasil, a Microsoft é presidida pela angolana Paula Bellizia, ex-country manager da Apple no País. Outra executiva local de destaque é Cristina Palmaka, presidente da SAP para a América Latina. Mais recentemente, ganhou os holofotes o nome de Cristina Junqueira, co-fundadora do Nubank, instituição financeira que fez seu IPO na Nyse agora em dezembro e é uma empresa fortemente suportada por TI.