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O samba de luto: morre Monarco, aos 88 anos

O samba de luto: morre Monarco, aos 88 anos

O samba está de luto. Morreu ontem, dia 11/12, no Rio de Janeiro, Monarco, líder da Velha Guarda da Escola de Samba Portela,. Hildemar Diniz, seu nome de batismo, tinha 88 anos e era considerado um dos maiores cantores da história do samba e figura altamente respeitada no meio musical brasileiro. Ele faleceu em decorrência de complicações no pós-operatório de uma cirurgia no intestino, feita mês passado.

Hildemar ganhou o apelido quando tinha seis ou sete anos. Ouviu um colega lendo a palavra "monarca" em um gibi, gostou e pediu para ouvi-la outras vezes. A garotada em volta, para caçoar, tascou-lhe o apelido Monarca. Como terminava em "a", parecia afeminado. Pouco tempo depois, o próprio beneficiado adaptou o nome para Monarco.

Hildemar Diniz nasceu em 17 de agosto de 1933 no subúrbio carioca de Cavalcante, e não no de Oswaldo Cruz, berço da Portela. Com um ano, foi com seus seis irmãos para Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Teve infância difícil, como um menino de subúrbio. Parou de estudar, foi trabalhar para ajudar a mãe.

​​​​O primeiro samba, que ele próprio considerava como de estreia, nasceu quando tinha 19 anos, batizado de "Retumbante Vitória". Mas entrou para a história como "O Passado da Portela". É de 1952, e o refrão nunca deixou de ser cantado pelos amantes da escola. "O que nos vale é a fé/ Que encoraja e conduz/ Portelense de verdade/ Que defende Oswaldo Cruz."


O samba encantou tanto Natal, o todo-poderoso bicheiro da escola, que foi apresentado no ensaio mesmo Monarco sendo um desconhecido. Acabou escolhido para o aquecimento do desfile de 1953. Curiosamente, o jovem talento do samba carioca nunca teve um enredo seu vencedor nas disputas da Portela; só em outras agremiações, como a Unidos do Jacarezinho, mas preserva essa emoção que sentiu aos 19 anos.

Dado o pontapé inicial, ele ganhou coragem para se aproximar de outros portelenses. Entre suas principais composições estão parcerias com Chico Santana ("Lenço", "De Paulo a Paulinho"), Alcides Malandro Histórico ("Amor de Malandro", "Enganadora"), Mijinha ("Sofres porque Quer Liberdade", "Falsa Recompensa"), Walter Rosa ("Tudo Menos Amor"). E ainda teve a ousadia de complementar sambas de Paulo da Portela, nome maior da escola: "O Quitandeiro", "Serei teu Ioiô", "Este Mundo é uma Roleta".

Na lista de composições sem parceria, destacam-se reverências à sua agremiação: "Portela sem Vaidade", "Saudades da Portela", "Homenagem à Velha Guarda da Portela", "Passado de Glória". Esta última deu título ao primeiro disco da Velha Guarda, produzido por Paulinho da Viola em 1970. Monarco aparece na foto da contracapa, mas não participou da gravação da música porque estava na feira, trabalhando como peixeiro, o que lhe permitiu ajudar no sustento dos filhos.