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Crise leva Facebook a ser comparado à indústria do tabaco

Crise leva Facebook a ser comparado à indústria do tabaco

Hoje completa uma semana que os três aplicativos pertencentes ao grupo empresarial de Mark Zuckerberg saíram do ar por mais de seis horas, em uma pane de alcance mundial. Semana que foi a mais turbulenta na história do Facebook, WhatsApp e Instagram, três dos maiores App em uso em todo o planeta, ao lado de concorrentes como You Tube, Tik Tok e Linkedin.

O cenário que começou com a pane se estendeu, no dia seguinte, para o depoimento da engenheira e ex-gerente de produto do Facebook, Frances Haugen, que fez uma série de acusações contra a plataforma, como de privilegiar o lucro sobre a segurança e de ser nociva aos jovens, sobretudo às meninas.

Somados a uma tendência cada vez maior de regulação das chamadas Big Techs, a discussão ganhou corpo. A questão levantada pela engenheira Haugen no Senado, de que a plataforma escolheu o lucro sobre a saúde e segurança de seus usuários, levaram a comparações com a indústria do tabaco, apontou o canal CNN Business.

O correspondente-chefe da CNN, Brian Stelter, disse que esse escândalo não é diferente de outros que a companhia vem enfrentando ao longo dos últimos anos. "Você já viu um jovem de menos de 30 anos que não tenha sido influenciado, ou a sua postura, pelo Facebook"?, questionou James Fallows, autor de "Breaking the News", ao mesmo canal de TV.

Na bolsa norte-americana, toda essa polêmica já desencadeou, desde setembro, uma brutal queda de 12% no preço das ações do Facebook. Apenas no dia da queda dos aplicativos, a Bloomberg estimou que os danos causados à imagem e ao cofre do Facebook fizeram Mark Zuckerberg perder US$ 7 bilhões em sua fortuna pessoal.

Em extensa reportagem que foi ao ar nesta segunda-feira, dia 9/11, a Globonews abordou o tema. O correspondente Guga Chacra e a reportagem de NYC comentaram sobre a crise dos aplicativos. Chacra explicou que a carga do Congresso em cima do Facebook vem de ambos os lados. Os democratas, porque acreditam que o site deixa radicais de direita espalharem fake news que podem levar a fatos como a invasão no Capitólio, no dia 6 de janeiro deste ano; os republicanos, porque acham que o site reprime a liberdade de expressão quando retira do ar páginas de seus defensores, notadamente as ligadas ao ex-presidente Donald Trump.

Nick Clegg, head of global comunications do Facebook, negou que o Facebook tenha tido alguma responsabilidade nos acontecimentos de 6 de janeiro no Capitólio. No entanto, um memorando interno da própria empresa, que chegou ao alcance do site Buzzfeed, em abril, revelou que a plataforma falhou ao prevenir ações em suas páginas do grupo extremista "Stop the Steal", que tentou minar as eleições presidenciais de 2020 e foi o promotor das badernas de janeiro, em Washington, DC.

Durante a semana, também foi registrada a manifestação da ganhadora do Nobel da Paz, a jornalista filipina Maria Ressa, que dividiu o prêmio deste ano com o também jornalista russo Dmitry Muratov. Eles levaram a honraria pela "corajosa luta" em defesa da liberdade de expressão, "pré-condição para a democracia e para uma paz duradora", externou o comitê norueguês responsável pela entrega do Nobel.

Em uma de suas primeiras entrevistas já como ganhadora do Prêmio Nobel, Maria Ressa disparou duramente contra o Facebook. Ela acusou a plataforma de ser uma ameaça à democracia mundial. Em entrevista à agência Reuters, a jornalista filipina disse que a rede mundial espalha mensagens falsas com uma facilidade muito maior do que os próprios fatos.

Para Maria Ressa, as tecnologias precisam trabalhar para o fortalecimento da democracia. O Facebook, por sua vez, falha em proteger seus usuários do ódio e desinformação, o que tornaria a rede social nociva à sociedade e a todo sistema político. "Os algoritmos do Facebook priorizam a propagação de mentiras contaminadas de raiva e ódio acima dos fatos", acusou a editora-chefe de site de notícias Rappler.

Ainda na reportagem divulgada ontem pela Globonews, Guga Chacra e os demais comentaristas da mesa acreditam que Mark Zuckerberg, diante da carga de pressão que vem sofrendo, possa ser levado a desmembrar seu império, com a venda de pelo menos um dos três aplicativos envolvidos nas atuais polêmicas: Facebook, WhatsApp ou Instagram.