GP Arco do Triunfo, um programa inserido na vida de Paris

São muitas as lições que o GP Arco do Triunfo trazem para o turfe brasileiro. É o que constata o empresário Márcio Toledo, ex-presidente do Jockey Club de São Paulo, que acompanhou a prova deste ano e revela aqui suas impressões.
 
O último final de semana marcou a realização, em Paris, do festival do GP Arco do Triunfo, considerado o evento mais charmoso do turfe internacional apesar da concorrência sempre forte das competições do gênero realizadas na Inglaterra, em Dubai e nos Estados Unidos.



Torquator Tasso - Longchamp - Foto: Márcio Toledo

O vencedor do páreo, que teve a dotação de 4,4 milhões de euros (algo como R$ 28 milhões), foi o cavalo alemão Torquator Tasso, que surpreendeu adversários de equipes inglesas e francesas, como Tarnawa, Hurricane Lane e Adayar. A festa, porém, não teve "azarões" fora das pistas. Ao contrário, foi mais uma demonstração da pujança do turfe francês, com a volta ordenada do público no pós-pandemia e a celebração naquele que é considerado um panteão para orgulho do cidadão parisiense.


Foto: Márcio Toledo

"Durante o mandato da prefeita Mme Anne Hidalgo, reeleita em 2020 pelo Partido Socialista, o hipódromo foi reformado e abraçado pela cidade, quando foi rebatizado ParisLongchamp", conta o empresário Márcio Toledo, ex-presidente do Jockey Club de São Paulo, eleito em 2005 e reeleito em 2008. Ele assistiu à edição 2021 do Qatar Arco do Triunfo ao lado de sua esposa, a ex-senadora e ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.


Marta Suplicy e Márcio Toledo em Longchamp

Segundo Toledo, a aproximação do hipódromo com a vida da cidade mudou muito, desde a última vez que ele esteve assistindo o páreo, poucos anos atrás. "Atualmente, o encerramento das festividades do '14 Juillet' se dá em Longchamp, com o Grand Prix de Paris, onde uma multidão permanece à espera do pôr do sol e, ao anoitecer, assiste a uma queima de fogos".

O ex-presidente do Jockey Club aproveita para construir um raciocínio, ligando as atuais festividades de Longchamp com o tempo em que presidiu o clube paulista, quando os salários eram todos pagos (inclusive os débitos de gestões anteriores), com as premiações em dia e o pagamento parcelado de impostos. Tudo utilizando dinheiro do caixa, de patrocínios, eventos, sem empréstimos bancários e venda de patrimônio, como aconteceu na sequência de sua saída. Mesmo com dificuldades, aconteciam grandes prêmios onde a orientação basilar do presidente era sempre uma: "inserir o hipódromo na vida da cidade, sem o que não há representatividade no evento".

"É preciso resgatar, via governo federal, as cartas patentes que estão servindo de guarda-chuva a todo tipo de interesse menor. Houve um desvio enorme de finalidade para a qual foram outorgadas, um problema social que causou muita injustiça a milhares de vidas que devotaram suas vidas à atividade turfística nas cidades (hipódromos) e no campo (haras)".

Ao assistir novamente o GP Arco do Triunfo, Márcio Toledo diz que repensou todo o período em que esteve à frente do Jockey Club de São Paulo. "Comentamos, eu e Marta, do período em que ela era ministra e sabia compreender também os aspectos culturais da atividade. Para ser muito modesto, o impacto na economia da cidade de Paris equivale ao impacto do GP São Paulo de Fórmula 1", compara.


Márcio Toledo e Marta Suplicy durante as festividades do GP São Paulo, em 2010. Foto: Arquivo

O empresário da área de telecomunicações, TI e logística defende um projeto de recuperação para o turfe brasileiro, em especial do Jockey Club de São Paulo, que hoje realiza apenas um minguado programa de corridas por semana cujo movimento financeiro lembra, por vezes, o do falido Jockey Club São Vicente, no litoral paulista.

O futuro do Hipódromo Paulistano e suas edificações tombadas também preocupa o ex-presidente do clube. "É preciso que os sócios, funcionários, profissionais do turfe e os frequentadores do espaço em geral tenham informações sobre os tipos de edificações que serão ou poderão ser construídas em determinados espaços do clube", cobra Márcio Toledo, que ainda defende a incorporação da sociedade civil organizada nesse debate, já que o Jockey é um bem da cidade.

Uma análise do projeto que a Prefeitura de São Paulo colocou para consulta pública aponta que há dois espaços, classificados no setor de 'transformação" da consulta, e fora das edificações tombadas. Essas áreas abrangem um total de 99.727 mil metros quadrados, ou seja 1/6 da área total do hipódromo, que se aproxima dos 600 mil metros quadrados.

São áreas localizadas nas extremidades do hipódromo - uma próxima à ponte de Cidade Jardim e a outra, perto da ponte da Eusébio Mattoso. Se incluir também um terceiro espaço, onde ficavam o antigo ambulatório, a garagem e as instalações da Casa Cor, na avenida Lineu de Paula Machado, essa metragem disponível para novas edificações aumentará substancialmente.

Além de uma ação junto ao governo federal com relação às cartas patentes dos Jockeys Clubs, Márcio Toledo propõe também ações mais localizadas, envolvendo a Prefeitura. "Sendo um patrimônio da cidade, e não de um pequeno número de sócios, caberia à administração pública municipal promover uma grande consulta pública a toda a cidade para que essas áreas passíveis de construção e outras também passem a ser usufruídas por todas as cidadãs e cidadãos paulistanos e brasileiros que vivem em São Paulo".

Para o empresário, nas áreas tombadas, como as arquibancadas, as pistas e alguns prédios adjacentes a elas, estaria garantida a continuidade das corridas, que hoje acontecem apenas uma vez por semana, sem que houvesse prejuízos aos atores envolvidos na promoção do turfe. "Precisamos encontrar com urgência um caminho que beneficie a cidade de São Paulo e a atividade-fim das corridas, e não um modelo onde apenas alguns poucos comandam os destinos do clube", conclui Márcio Toledo.