Com o Ibovespa em queda, investidores buscam saídas

Com o Ibovespa em queda, investidores buscam saídas

O mês terminou nesta quinta-feira, dia 30, e o Ibovespa derreteu mais 6,6%, chegando aos 110.979 pontos e somando uma queda de 15,14% nos quatro últimos meses, quando chegou a atingir os 130.776 pontos. É o pior desempenho desde março de 2020, quando o índice despencou 29,9% no auge da pandemia de Covid-19.

Muitos fatores contribuíram para esse desempenho pífio do mercado de ações. E não dá para culpar os papéis e suas empresas emissoras, que lutam para driblar os efeitos deletérios da pandemia. Logo em julho, no início deste trimestre, o governo federal apresentou uma reforma do Imposto de renda que taxava os dividendos. Mais para o final desse tri, outra bomba atingiu em cheio o mercado: o aumento anunciado do Imposto sobre Operações Financeiras. Se a taxação dos dividendos acabou caíndo, o IOF mais caro veio para ficar.

Outra reforma, a dos Precatórios, ainda circula pelos corredores do Congresso. Desta vez o governo quer dar o calote nesse pagamento prometendo pagar cerca de R$ 44 milhões dos R$ 90 devidos. Por uma pedalada do gênero, a presidenta Dilma sofreu impeachment em 2016. Com os vultosos recursos que sobrarem do não pagamento, o ministro Paulo Guedes pretende ajustar o teto de gastos para 2022 e liberar emendas para o Centrão turbinar o novo Bolsa Família, batizado de Auxílio Brasil.

Não pode passar em brancas nuvens, nesse cenário desfavorável para o mercado acionário, os acontecimentos de 7 de Setembro, com a manifestação golpista do presidente Bolsonaro e, logo a seguir, o recuo do presidente junto ao STF em carta patrocinada pelo ex-presidente Michel Temer. Fechando com chave de ouro o atribulado trimestre, assistiu-se o périplo da comitiva presidencial por Nova York, por ocasião da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma sucessão de vexames que foi prato cheio para a imprensa mundial, motivo de galhofas por parte da comunidade política internacional e, certamente, mais um ingrediente para afugentar o investimento estrangeiro no Brasil (Paulo Guedes nem se deu ao trabalho de ir, como adiantou em primeira mão o IPO News).

No âmbito internacional, a China protagonizou os principais lances do mês de setembro. Primeiro, o anúncio do risco de quebra da incorporadora e imobiliária Evergrande, que balançou a economia do País e que ainda não encontrou o seu desfecho. Segundo, a crise de recursos energéticos que chegou ao país asiático, com a falta do carvão, principal matéria prima para fazer funcionar sua indústria; e a queda nos preços do minério de ferro, que em seguida apresentaram recuperação.

O desempenho fraco do Ibovespa em setembro foi acompanhado da performance igualmente ruim das bolsas norte-americanas. O Dow Jones caiu 1,59%, aos 33.843 pontos; o S&P teve baixa de 1,19%, aos 4.307 pontos; e o Nasdaq recuou 0,44%, aos 14.448 pontos. "Um mês ruim para o mercado de ações e que termina com poucos sinais de que o drama acabou", estampou em manchete a agência Bloomberg. Ao menos no curto prazo, os analistas ouvidos por este site de finanças enxergam dificuldades para uma melhor definição dos mercados.

Com tantos gargalos ainda para serem resolvidos, analistas ouvidos entre ontem e hoje pelos principais veículos de imprensa têm a expectativa de muita volatilidade no curto espaço da bolsa brasileira. A recomendação geral é de parcimônia nas transações, com mexidas pontuais e a escolha de setores que possam ser menos afetados pelos fatos atuais.

Companhias que pagam dividendos são opções (há muitas agora em outubro), assim como empresas de comércio presencial e eletrônico, ou da área de serviços, que possam ser beneficiadas pela retomada do varejo perto das festas do final do ano. A bolsa, dizem os especialistas, está barata. A questão é, no entanto, saber quando o mercado vai voltar a andar.