Sérgio Besserman Vianna | Imagem: Fundação Astrojildo Pereira
Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e a democracia

Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e a democracia

O Brasil é o único país do mundo que pode sair dessa situação a um menor custo, com educação, pesquisa e desenvolvimento. Com a redução das queimadas na Amazônia, reduz as emissões na atmosfera. É uma oportunidade de competir na economia global, com matriz energética 100% renovável", explica Sérgio Vianna. "Ele nos mostra que a questão tem uma consciência crítica e um propósito estratégico", emenda Gustavo Krause.


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O seminário "Um Novo Rumo para o Brasil" cumpriu ontem mais uma etapa, desta vez discutindo "Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e democracia". Os debatedores apresentaram um quadro preocupante mas ao mesmo tempo passível de mudanças positivas para o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável no País. A seguir, os principais momentos do debate, que não contou com a presença, por motivo de saúde, do ex-ministro Rubens Ricúpero.



Daniel Coelho - Deputado federal Cidadania, PE, coordenador do debate - como deputado, concordo com esse conservadorismo que se vê muito mais na Câmara do que no Senado. A fase de negação começou com Trump nos EUA, negando o aquecimento global. Influência de novos populistas da direita como Trump e Bolsonaro, que convenceram muita gente de que o meio ambiente não é importante. "Não há como não ter saudade de um tempo em que o Brasil tinha ministro do meio ambiente".

Sérgio Besserman Vianna - Conselho Diretor da WWF Brasil e presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico (RJ), ex-presidente do IBGE - Hoje, a mais importante questão da humanidade é essa que estamos discutindo. Puxando lá atrás, tanto com direita como esquerda, era o mesmo discurso. Temos que cuidar do meio ambiente, combater a pobreza, manter o desenvolvimento econômico. É uma visão que precisa ser rapidamente jogada na lata de lixo. Anacrônica. É uma espécie de cloroquina. A negação da realidade.

Hoje, desenvolvimento sustentável é uma condição para que se atinja esses itens e outros, como a redução pela metade da emissão de gás carbônico até 2030. Até 2050, zerar essa emissão. No século XXI, não há chance de desenvolvimento econômico, de reduzir desigualdade, se a questão do desenvolvimento sustentável não for resolvida. Hoje, está é uma condição para tudo.

A expectativa de vida cresceu, a vida melhorou, mas não levamos em conta a degradação do planeta. Nós já ultrapassamos alguns limites biofísicos, especialmente clima e biodiversidade, e nós iremos pagar por isso.

O Brasil é o único país do mundo que pode sair dessa a um menor custo, com educação, pesquisa, desenvolvimento. Com a redução das queimadas na Amazonia, reduz a emissão. É uma oportunidade de competir na economia global. Matriz energética 100% renovável a menor custo. O que não pode é fazer usina termoelétrica onde não há o combustível disponível para isso. Biomassa, biocombustível, biologia sintética - os caminhos para o futuro. Tudo isso depende de uma democracia de qualidade, sem a qual não é possível avançar.

José Carlos Carvalho - ex-ministro do Meio Ambiente, ex-presidente do Ibama - o Sérgio acaba de nos dar uma aula inspiradora. Uma visão baseada na ciência. Fez uma análise do que precisamos fazer no curto, médio e longo prazo para reverter o modelo de desenvolvimento que temos visto nas últimas décadas. Mas essas mudanças não poderão acontecer no plano autoritário. Desde 1973, após a conferência de Estocolmo de 72, o Brasil iniciou uma série de medidas que dotou o país de um arcabouço, com a criação da Secretaria do Meio Ambiente, no âmbito federal.

Até recentemente, o País era um grande player nessa discussão. Infelizmente, nos dois últimos anos, nós temos acompanhado um projeto de desconstrução. Nos últimos 30 anos, tivemos a contribuição dos partidos aqui presentes, mostrando que a construção do meio ambiente tem a participação de todas as ideologias no Brasil. O Brasil vive um momento de negação. É preciso lembrar que os primeiros passos foram criados em pleno regime militar, quando tínhamos como pioneiro atuando no setor o deputado constituinte Fábio Feldman. Nós estamos vivendo um grave retrocesso, que não pode ser debitado apenas a Bolsonaro, mas também ao Congresso, mais conservador. Há parlamentares que promovem retrocesso, fazem legislação que retroage. É lamentável constatar que partidos que contribuíram para o avanço das politicas ambientais, hoje estejam votando contra esse legado. Nós vivemos um momento de revanchismo em relação à constituinte, daqueles que perderam. Estamos vivendo um revanchismo das "viúvas" de Sylvio Frota.

A transição que nós temos que fazer é do modelo de desenvolvimento no Brasil. Quando falamos de sustentabilidade, estamos falando da transição do velho modelo da economia predatória para o modelo da economia verde. Na medida que nós temos que fazer essa transição, pelas vantagens favorecidas da natureza, nos teremos que fazer. É inadmissível desmatar 11 mil km quadrados de floresta na Amazonia sem aproveitamento sequer da madeira. O país tem uma participação pífia no mercado internadidonal de madeira. O senador Plínio falou da hipocrisia no meio ambiente, de certa forma a hipocrisia da área econômica gera a hipocrisia na área ambiental, o que vemos hoje.

Plinio Valerio - senador PSDB-AM - Gosto de chamar de agenda ambiental. E falo da hipocrisia que gira em torno disso tudo. Se a gente não tiver políticas públicas, esquece. A Noruega continua tirando petróleo do Ártico. A gente tem a matriz renovável. Concessões florestais, defendo políticas públicas para os ribeirinhos, os caboclos, sertanejos, o pescador artesanal da da Amazonia, com mais fiscalização e menos repressão. Mais fiscalização nas áreas indígenas, onde tem muito contrabando.

Roberto Wagner Machado - senador MDB-CE - como municipalista, destacou as fundações dos partidos, que organizam os debates e que são atuantes nos municípios. Apontou as dificuldades geradas pela seca. E criticou o modo de agir contra o garimpo clandestino. Viu equipamentos sendo destruídos, máquinas que deveriam ser levadas para os pequenos municípios do nordeste, que sofrem com falta de infraestrutura. Da mesma maneira que essa máquina chega, pode sair. Com um desses equipamentos apreendidos, foi possível recuperar o leito de um rio e beneficiar uma cidade com 50 mil habitantes. São situações como essa, do dia a dia da população mais carente, que precisam também ter voz. "Sinto falta de um Congresso que leve as políticas públicas de meio ambiente aos pequenos municípios do interior do Brasil".

Gustavo Krause - ex-ministro da Fazenda e ex-ministro do Meio Ambiente - o Sérgio foi uma pessoa modelar na minha gestão no ministério do Meio Ambiente. Ele nos mostra que a questão tem uma consciência crítica e um propósito estratégico. É assim que ela chega aos nossos dias. Uma encruzilhada histórica. Se não mudarmos, estaremos marchando para um "ecocídio". Transição econômica para uma bioconomia. A pergunta que temos que fazer, depois de tudo o que ouvimos, há esperança? Sim, nós somos protagonistas da história.

Arnaldo Jordy - ex-deputado federal Cidadania, PA - Nós temos um marco civilizatório, como disse o Sérgio, para o desenvolvimento do meio ambiente. A questão do clima: aqui no Pará, caiu granizo, que nunca foi visto. O Brasil tem uma janela de oportunidade, que é a bioconomia. É o grande segredo, concordando com todos, para nos dar uma perspectiva. Nosso modelo é de exportação de commodities. Nós somos um almoxarifado. Esse modelo de exportação de bens naturais, não é benéfico para o país. O que tem produzido para o País? Os piores IDHs dos municípios brasileiros, sete aqui no Pará.