Crise fiscal, crescimento e democracia: economistas apontam saídas

Crise fiscal, crescimento e democracia: economistas apontam saídas

Economistas e políticos defendem medidas imediatas para retomada do crescimento e desenvolvimento do País, com ideias para implementar sobretudo na iniciativa pública. "Se nós somos capazes de operar a eleição mais eficiente do mundo com as urnas eletrônicas, porque não somos capazes de fazer isso na saúde e na segurança?", exemplifica José Roberto Afonso, da FGV.


Clique aqui para assistir na íntegra


O seminário nacional "Um Novo Rumo para o Brasil" entrou ontem no seu segundo dia com o debate "Crise fiscal, crescimento econômico e democracia". Com a coordenação do ex-ministro e ex-governador do Rio, Moreira Franco, mais a mediação do economista e ex-deputado federal de Minas Gerais, Marcus Pestana, o encontro teve como expositor o ex-ministro da Previdência no governo FHC, Roberto Brant, que foi deputado federal constituinte, e as participações do deputado federal Alceu Moreira (PMDB-RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães; do deputado federal Eduardo Cury (PSDB-SP), do Instituto Teotônio Vilela; e do economista da FGV, Samuel Pessoa.

Entre outros pontos de sua fala, Brant destacou que "o estado brasileiro já privatizou o que tinha que privatizar. Quando se fala em privatizar algo mais, é retórica política. Estamos repondo na agenda política a questão do crescimento e do desenvolvimento, que estão ausentes do executivo".

Zeina Latif, da Gibraltar Consultoria e ex-economista-chefe da XP Investimentos, disse: "Depois do governo Dilma, com muita intervenção fiscal, ficou provado que política fiscal só pode ser feita por quem tem condições macroeconômicas. O quadro brasileiro inspira cautela. O custo de conserto é muito caro. O ponto principal é nossa insegurança jurídica, é um fator essencial. O país está com um potencial de crescimento muito baixo, menor de 1%. Não acho que saída está na expansão fiscal. Temos que ter inserção social, um estado com capacidade de fazer política pública em um país que cresce pouco. Temos baixa qualidade do gasto público, com baixo retorno social do investimento".

José Roberto Afonso (economista, pesquisador da FGV, ex-superintendente do BNDES) - Hoje temos a governança, que é cobrada das empresas, o modelo ESG. Estamos vivendo um paradoxo, com as empresas com preocupações sociais e os estados com preocupações de mercado. Cada país precisa construir a sua agenda. Não existe mais uma agenda padronizada, como a apontada pelo Consenso de Washington. Temos que fazer um esforço de consolidação fiscal. Não tem constituição no mundo que tenha mais matéria tributária e fiscal que o Brasil. Eu tenho escutado muito que as Forças Armadas tem que ser instituição de estado, não de governo. Por que não as outras instituições? Receita Federal, bancos públicos. Por que não repetir isso para as agências reguladoras? Uma governança pública digital, somos o quarto país do mundo em mercado/comércio digital. Nós temos eleições no Brasil, nossa Justiça Eleitoral; nenhum outro país do mundo do porte do nosso faz um processo digital desses tão grande. Se nós somos capazes de operar a eleição mais eficiente do mundo, porque não somos capazes de fazer isso na saúde e na segurança?".

Bernardo Appy (economista, mentor da proposta de Reforma Tributária em tramitação no Congresso e ex-secretário de Políticas Econômica do Ministério da Fazenda no governo Lula) - "o desafio do Brasil é crescer de forma inclusiva. Investimento público não é a única alternativa. Nós temos a possibilidade das PPPs. Alguns investimentos cabem ao setor público, pelo retorno social que dão. Nosso sistema tributário é tão ruim, que dá para fazer correções para melhorar e fazer um sistema mais eficiente e progressista. Temos que melhorar a produtividade do setor privado e melhorar a qualidade do gasto público. Medidas complementadas por uma boa reforma do I.R., não essa que foi aprovado pela Câmara que é muito ruim. Concordo com o teto de gastos, mas isso não pode ser uma 'vaca sagrada'. Precisamos de algo flexível, mas que seja realmente realizável. Não acredito que excluir os investimentos do teto de gastos seja a melhor proposta. Por exemplo, se eu construo um hospital mas não tenho dinheiro para pagar os médicos, e aí?".