FHC, Temer e Sarney apontam caminhos para o Brasil de hoje

FHC, Temer e Sarney apontam caminhos para o Brasil de hoje

Pacificar o clima entre os três poderes, estender o diálogo e construir um mecanismo de interlocução na sociedade, são algumas das propostas que foram debatidas


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Uma conversa de políticos veteranos, mesclada com jovens valores que hoje estão no comando de alguns dos principais partidos brasileiros. Assim começou, nesta quarta-feira, o seminário "Novo Rumo para o Brasil", que terá continuidade nos próximos dias com uma série de debates voltados às áreas econômica, política e social.

Coordenado pelo ex-governador do Rio e dirigente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, o seminário contou, na conversa de hoje, com a moderação do ex-ministro e ex-presidente do STF, Nelson Jobim, mais as presenças dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e José Sarney.

A seguir, um pouco do que cada um deles falou no encontro on-line:

Moreira Franco - "Vamos fazer o nosso evento por coincidência na data de hoje, que é o Dia da Democracia, lembrando que os partidos aqui presentes aqui participaram ativamente do processo de redemocratização do País nos anos 1970 e 1980".

Nelson Jobim - "O nosso sistema institucional tem sido eficaz, com a alternância PSDB - PT vista nos últimos anos. Contudo, houve uma mudança em 2018. A partir da eleição de Bolsonaro, se agravou a crise. Houve uma disfuncionalidade no Congresso. O presidente Bolsonaro rejeitou o processo político. A interlocução praticamente desapareceu, imperando o voluntarismo. Mas os militares não querem entrar. Eles voltaram aos quartéis graças ao bom trabalho do presidente Sarney nos anos 80. Esses são os fatos. Agora nós precisamos oferecer a solução. Nós temos que pensar como construir uma solução, sem pensar em fazer isso com sentença judicial. A responsabilidade disso é nossa. Temos que ter a capacidade de criar um grande mecanismo de interlocução. Hoje só se fala no governo em responsabilidade fiscal. Nós não falamos em responsabilidade social (que houve nos governos de FHC e de Lula). É isso que a população espera. É disso que o País precisa. Introduziu-se na política uma variável a partir de 2018, que foi o ódio. O adversário passou a ser inimigo. A luta política está se tornando uma luta fratricida. Nós temos que ter clareza para agir a partir disso"."

Michel Temer
- "Democracia, estado de direito. Parece obviedade, mas temos que repetir sempre essas palavras. O grande tema hoje é o de uma pacificação interna. As autoridades são constituídas, portanto devem prestar contas à sociedade. As disfuncionalidades que o Jobim citou são, muitas vezes, o quadrado constitucional que quer sair do lugar. Há uma cultura que enseja essa disfuncionalidade, do contato entre os poderes que muitas vezes é criticado, até pela imprensa. Nas crises, temos que agir para pacificar, trabalhar para a paz, ver as diferenças políticas e ideológicas. Esse encontro de hoje serve para reunificar os partidos, com essa oportunidade que tivemos de dialogar com mais três partidos"

FHC - "O fato de estarmos juntos já significa que temos uma certa tranquilidade. Apesar que as vezes nós sentimos uma cerca intranquilidade. O fato de pertencermos a partidos diferentes e estarmos juntos, é importante. Apesar das diferenças partidárias, podemos manter o diálogo. Porque a estabilidade nunca está garantida. Não está a perigo neste momento, pois o povo gostou de votar. Dia de eleição é dia de festa. Isso entranhou na alma brasileira. Não há tanto risco para a democracia, e digo isso de propósito, pois sempre há a necessidade do diálogo. Clamo uma participação maior da sociedade nesse processo. Reitero que é preciso estarmos revivendo sempre esses valores do diálogo, da participação, do voto, na sociedade brasileira. Nós sabemos o quanto vale a liberdade, pois já vivemos o regime militar. O significado de nosso encontro, é importante para o momento do Brasil. É chegada a hora de um toque de alerta. Nesse momento, vemos que o presidente tem arroubos que não são condizentes com a democracia".

José Sarney - citou o sermão do Padre Vieira, que enfatizava que os padres deveriam dizer menos e fazer mais. "Nós devemos concluir que duas coisas são importantes. Primeiro, o desejo de pacificação do país. Segundo, através do diálogo, nós vamos encontrar soluções para os problemas. Foi assim desde os tempos em que fizemos de um príncipe português o imperador do Brasil, de forma pacífica. Nelson Jobim disse duas coisas que caracterizam o atual momento brasileiro, que a política foi judicializado, e o judiciário foi politizado. Isso decorre em parte porque não temos mais partidos fortes, fator que já levou à intervenções salvacionistas, como a de 64. Nós fizemos com que as Forças Armadas voltassem aos quartéis, profissionalizadas, evitando episódios de revanche. Por fim, defendo a instalação do parlamentarismo, como é o regime português, o francês. Sem isso, teremos crises e mais crises. Como dizem os franceses, um "excesso de crises".

ACM Neto
(presidente do DEM) - "O Democratas tem um compromisso em suas origens, em sua essência. Infelizmente hoje somos obrigados a discutir se temos risco de ruptura. Nós precisaríamos estar focados em outros problemas. As pessoas estão aflitas como o Brasil real, com o desemprego, a inflação, a falta de emprego e de comida, do preço do combustível, da energia. Vamos ficar atentos aos desafios que a eleição do ano que vem vão impor. Não queremos qualquer posição de radicalismo, ao contrário, queremos juntar as pessoas boas, conectar a sociedade e construir um Brasil novo".

Baleia Rossi (presidente do MDB) - Falou do papel do MDB na redemocratização do país. "Foi o presidente Sarney que criou o SUS, que salvou milhões de vidas na pandemia. Depois o presidente Temer, que tratou de sanar uma crise política quando entrou. Nós do partido somos colaborativos e temos o dever de fiscalizar, estamos fazendo isso na CPI na Covid. Chamo a atenção para o trabalho de ação pacificadora que o presidente Temer fez na semana passada. Mostrou eficiência, espírito público, muito comentado e comemorado por todos. Quero reafirmar nosso compromisso de defesa da democracia e do povo brasileiro."

Bruno Araújo (presidente do PSDB) - "a fotografia deste mosaico permite a nós entender melhor o nosso país. Aqui nós temos praticamente 16 anos de presidência, com o presidente Sarney (transição democrática), FHC (plano econômico, redistribuição de renda), Temer (assume em momento de turbulência, faz reformas, marco legal de saneamento, reforma trabalhista)".

Roberto Freire (presidente do Cidadania) - "Cada um de nós participou do processo de redemocratização, de diversas formas. Aqui está a representação democrática. Independente de posições políticas, estamos aqui representando esse ideal da democracia. Nós estamos aqui não para fazermos um ode à democracia, mas sim para defende-la! Nós temos um grave problema. Nós temos um disfuncional na presidência, é preciso dizer isso. Temos que discutir que rumos vamos tomar diante de um disfuncional, de um antidemocrata, de alguém que estava nos porões, se não pessoalmente, em espírito. O STF também cometeu erros, como na Lava-Jato, mas e quando não errou? Precisamos ter clareza e firmeza de como enfrentar alguém que insiste em afrontar a democracia".