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O mercado financeiro nunca esquecerá ataques de Sept. 11

O mercado financeiro nunca esquecerá ataques de Sept. 11

Neste sábado, quando se completam 20 anos dos ataques terroristas às torres gêmeas do World Trade Center e às instalações do Pentágono, os Estados Unidos e o mundo inteiro irão recordar as cenas terríveis dos aviões atingindo os prédios, os desabamentos e as quase três mil mortes registradas pelas autoridades. Moradores da cidade, parentes e amigos de vítimas se reúnem desde sexta em vigílias em torno do memorial construído onde ficavam as torres. Hoje também o presidente Joe Biden e sua vice, Kamala Harris, comparecerão ao local para homenagens aos mortos no atentado.

O centro financeiro de Wall Street, onde estão as maiores bolsas de valores mundiais, também recordará com muito pesar a data. Segundo levantamento feito pela Bloomberg, mais da metade das vítimas no desabamento das torres em Nova York trabalhavam em empresas financeiras, como bancos, corretoras ou escritórios de advocacia empresarial.

Os números são estarrecedores. Apenas a Cantor Fitzgerald LP, que ocupava os cinco últimos andares de uma das torres, perdeu 658 de seus colaboradores, quase o dobro das perdas sofridas pelo departamento de bombeiros de NYC. Fred Alger Management, Sandler O'Neil, Mars & McLennan, Keefe Bruyette & Woods, Fiduciary Trust International foram alguns outros escritórios que tiveram enormes perdas de funcionários, cujos nomes foram eternizados no monumento construído em homenagem às vítimas.

No memorial, também estão grafados em blocos próximos os nomes de três dos cinco brasileiros mortos no Sept. 11: Ivan Kyrillos Fairbanks Barbosa, Sandra Fajardo Smith e Anne Marie Sallerin. Duas vítimas não foram contabilizadas, por dificuldades encontradas em fechar os exames de DNA e na localização de familiares no Brasil.



O otorrinolaringologista Ivan Fairbanks Barbosa, em seu consultório em São Paulo, com a foto do filho, Ivan, ao fundo, um dos brasileiros mortos nos atentados ao World Trade Center, em Nova York - Zanone Fraissat/Folhapress

Um desses brasileiros oficialmente identificados, Ivan Kyrillos Fairbanks Barbosa, tinha 30 anos e trabalhava como trader na corretora Cantor Fitzgerald, no 105° andar de uma das torres. Um mês e meio antes, ele havia convidado seu pai para conhecer o WTC. Na ocasião, brincaram: "Filhinho, papai não vai deixar você trabalhar aqui se não tiver uma asa-delta no escritório".

O pai é o médico otorrinolaringologista Ivan Fairbanks Barbosa, hoje com 80 anos, na ativa no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Homem com hábitos frugais, durante a semana no consultório, nos finais de semana assistindo as corridas de seus cavalos do Haras Fazenda Caporanga, no Jockey Club de São Paulo, o dr. Ivan relembrou aquele dia, há 20 anos, em entrevista à Folha de S. Paulo. "Aquele negócio começou de manhã, entre 9h e 10h. Eu já estava aqui no consultório", relembra.


Nome de Ivan Kyrillos Fairbanks-Barbosa, brasileiro que morreu no atentado, gravado no Museu Nacional do 11 de Setembro, em Nova York - Teté Ribeiro - 10.set.21/Folhapress

O filho estava, naquele momento, distante 7.600 quilômetros do pai. As comunicações foram imediatamente interrompidas. Informações, quando chegavam, eram desencontradas, como a que o filho estaria no hospital Y ou X. A busca durou ao menos 15 dias, até que não havia mais informação para checar. "Quero destacar a enorme solidariedade que recebemos, gente aqui e lá tentando ajudar. Com exceção da embaixada brasileira lá, fui bem tratado por todos. Na embaixada, disseram que não tinham informações e ligariam assim que conseguissem. Nunca recebi uma ligação", lamenta o dr. Ivan.

"É muito difícil encarar uma morte sem um cadáver para enterrar", desabafa o médico. Até hoje, há 1.106 vítimas que não foram reconhecidas, e deixaram esse hiato, essa lacuna, marcada em seus familiares. Ivan Fairbanks Barbosa não sabe dizer quantos dias se passaram até que entendesse que seu filho havia morrido no ataque.

Anne Marie Sallerin Ferreira, de 29 anos, foi outra brasileira identificada. Ela também trabalhava na Cantor Fitzgerald, e havia se transferido de Londres com o marido apenas alguns meses antes. Anne conheceu Ivan em uma comunidade de brasileiros que atuavam no mercado financeiro e, segundo relatos da época, foi ele que a indicou para o novo emprego em Nova York.