Imagem: Divulgação
Governo chinês baixa linha dura sobre empresas de tecnologia

Governo chinês baixa linha dura sobre empresas de tecnologia

O governo chinês, tanto nas instâncias federal como municipal, decidiu baixar a linha dura para cima das grandes empresas de tecnologia do país. A prefeitura de Pequim quer fechar um acordo com a Didi Chuxing (dona da Uber na China e da 99Taxi no Brasil), em que, por meio de um investimento na empresa, o controle acionário da maior companhia de aplicativo de transportes do mundo passaria para a municipalidade.

De acordo com a agência Bloomberg, o Shouqi Group - integrante do Beijing Tourism Group - , junto a outras empresas com sede na capital chinesa, comprariam uma participação na Didi. O trato seria formar um consórcio e assumir o negócio com um assento no conselho e poder de veto, o que não deve agradar o fundador Cheng Wei e o atual presidente, Jean Liu. A Didi tem como maiores acionistas esses dois empresários, mais o SoftBank e a Uber Technologies.

Essa "perseguição", ou marcação cerrada do governo, pode lembrar em algum momento a tomada de poder por Mao Tse Tung em 1949, formando a República Popular da China, que instalou um governo comunista, estatizante e centralizador. Mas trata-se de um movimento que tem suas origens no polêmico IPO que a Didi Chuxing fez em 30 de junho nos Estados Unidos.




A oferta pública inicial concluída em território norte-americano desagradou os burocratas do Partido Comunista, que desejavam ver o lançamento feito na bolsa de Hong Kong, próximo aos seus domínios. Concomitantemente, a Didi expandiu sua área de atuação e passou a oferecer também educação on line, mexendo assim numa seara amplamente dominado pelo governo.

O posicionamento do governo municipal e também do federal, está no cerne da estratégia construída pelo presidente chinês Xi Jinping, que planeja promover uma grande redistribuição de riqueza e limitar a influência das empresas de tecnologia na internet. Como forma de apoiar a campanha de Xi, o gigante de comércio eletrônico Alibaba, que também fez seu IPO em Wall Street (mas em 2014), vai reservar US$ 15,5 bilhões para "espalhar a prosperidade por toda a China", conforme a vontade do presidente.

Segundo a agência Associated Press, o Alibaba anunciou que vai investir em 10 projetos para a criação de empregos, cuidar de "grupos vulneráveis" e inovação tecnológica. A maior fatia dos recursos (US$ 12,5 bilhões) será direcionada para um fundo destinado a cortar "desigualdades de renda" na província natal da empresa, Zheijiang, ao sul de Xangai.

Em comunicado à imprensa, o CEO do Alibaba, Daniel Zhang, afirmou: "acreditamos firmemente que se a sociedade está indo bem e a economia está indo bem, então o Alibaba terá um bom desempenho". Além da empresa fundada por Jack Ma, a Tencent Holdings Ltd, de tecnologia, jogos e mídia social, prometeu US$ 7,7 bilhões para a campanha, que serão investidos em iniciativas de saúde, educação e desenvolvimento rural.

Outra empresa de comércio eletrônico, a Pinduoduo Inc., anunciou que irá destinar US$ 1,5 bilhão para projetos sociais que se enquadrem na campanha do presidente Xi Jinping. Juntam-se a essas companhias mais outras gigantes, como a Tik Tok Byte Dance e a fabricante de smartphones Xiaomi.

Em artigo do jornal Nikkei Asia, reproduzido pelo Valor, a campanha do presidente chinês é colocada à prova. Para o jornal, por trás da atividade humanitária, está o medo das empresas envolvidas com a intromissão do Estado e a reação pública, enquanto há preocupações de que esse esforço minará a vitalidade do setor privado do país.

Para as articuladoras do texto, "os gigantes da tecnologia e o restante do setor privado enfrentam incertezas mais profundas no futuro. Essas perspectivas nebulosas correm o risco de abalar os alicerces da segunda maior economia do mundo.

Um executivo do Pinduoduo expressou apoio à campanha, mas admitiu que vai levar um "longo prazo" antes que a empresa possa traduzir o investimento de US$ 1,5 bilhão em ganhos para os acionistas. Um exemplo que resume as colocações do artigo e os temores de muitos empresários: insatisfeitos, muitos acionistas poderiam liquidar suas ações, descapitalizar as companhias chinesas e passar a investir em concorrentes de transporte ou de comércio eletrônico norte-americanos, coreanos, japoneses, singapurianos e brasileiros.