Terceira via é possível nas eleições de 2022? Veja o que rolou na Expert XP

Terceira via é possível nas eleições de 2022? Veja o que rolou na Expert XP

As eleições presidenciais estão se aproximando, em outubro de 2022. Um ano parece muito, mas é pouco tempo para os partidos e os potenciais candidatos tomarem suas decisões. O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dominam as pesquisas divulgadas nos últimos meses, com vantagem para o ex-metalúrgico em todas as simulações. O que o eleitor pode esperar desse panorama? Uma terceira via é viável?




Especialistas em eleições se encontraram para um painel realizado nesta quarta-feira, dia 25, no evento on line Expert XP. Carlos Melo, cientista político e professor do Insper; Luiz Flávio Guimarães (Lula Guimarães), publicitário e marqueteiro político; e Marcela Montenegro, diretora-executiva do Instituto de Pesquisa Ipespe.

O histórico da pesquisa de intenção de voto realizada pela XP/Ipespe mostra que Luiz Inácio Lula da Silva tem consolidado uma vantagem em relação ao presidente Bolsonaro. Mas é cedo para qualquer diagnóstico definitivo. "Números dizem pouco neste momento. O nível de interesse é baixo, poucas candidaturas estão confirmadas. O cenário relevante para ver a correlação de forças é daqui para a frente", avaliou Marcela Montenegro.


Carlos Melo, cientista político e professor do Insper

Carlos Melo lembrou de uma figura carismática da política nacional: "Ulysses Guimarães, em suas reuniões com aliados, ouvia a todos, ponderava, mas sempre mantinha uma cadeira vazia no ambiente. Aos que indagavam o que aquilo representava, ele respondia: é o excelentíssimo senhor fator novo". Para ele, em um país onde o fato novo insiste em se apresentar quase que de hora em hora, não é simples oferecer diagnósticos precisos.


Luiz Flávio Guimarães (Lula Guimarães), publicitário e marqueteiro político

Para Lula Guimarães, há espaço para uma terceira via no País. Para justificar sua opinião, o marqueteiro recorda que, em 2018, Bolsonaro obteve 68% dos votos válidos na região Sudeste, que concentra 58% do total de votos do Brasil. Já o PT de Fernando Haddad teve ampla hegemonia na região Nordeste, que reúne quase 30% do eleitorado.

Em sua avaliação, "existe uma profunda má vontade com o petismo nas regiões Sudeste e Sul. E um enorme desgaste de Bolsonaro por conta da economia e do enfrentamento da pandemia. Existe uma possibilidade de crescimento para a centro-direita", aposta o publicitário.

Carlos Melo, ao retomar a palavra, afirmou acreditar que a polarização entre Lula e Bolsonaro nas pesquisas é real, embora, na vida prática, o presidente seja o maior opositor do seu próprio governo. "Quem sabe não exista um espaço para uma segunda via? Com Lula consolidado, quem garante que Bolsonaro não se desgasta mais?, questionou.

Para o cientista político e professor, "as eleições de 2018 foram marcadas pelo antipetismo. As de 2022 serão, naturalmente, marcadas pelo anti-bolsonarismo. Mas isso se Bolsonaro estiver presente. Se não estiver, os ataques serão contra o PT. É nesse espaço que poderia caber um novo nome", analisou Melo.

Estrategista macro e analista político da XP, Victor Scalet, um dos mediadores do painel, lembrou que, em sondagem realizada pela XP, empresários e integrantes do mercado financeiro avaliaram que existe, atualmente, um percentual de 17% de votos válidos que poderiam ser ocupados por um nome da terceira via. É um percentual menor do que os índices obtidos por Lula e Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto.

"O problema é que a terceira via não tem nome, não sabe o que quer nem para onde vai", provocou Carlos Melo. Para o mediador Victor Scalet, embora muitas pessoas acreditem que uma parcela da população votaria em um nome alternativo, há controvérsias.

"Não podemos contar com os votos brancos, nulos e 'não sei/não respondeu'. Temos que levar em conta os votos de quem já tem voto. E Lula e Bolsonaro, juntos, têm muito mais votos que as somas dos demais candidatos", disse Scalet. Ele lembrou ainda que apenas os dois políticos apresentam menções espontâneas nas pesquisas. "Mesmo Bolsonaro, em 2017, quando poucos apostavam nele, tinha uma votação espontânea expressiva".

O mediador acrescentou outro ingrediente ao caldeirão das imprevisibilidades abordadas durante o painel. Segundo ele, as pesquisas tradicionalmente mostram uma correlação entre aprovação presidencial, inflação e emprego. Os indicadores da economia brasileira talvez melhorem, mas haveria tempo para o atual presidente se beneficiar dessa recuperação?

Para os demais participantes, a economia e a saúde serão os grandes temas das eleições presidenciais de 2022. "Este contexto de um cenário sem auxílio emergencial, desemprego e mau gerenciamento da pandemia impacta as previsões políticas", disse Lula Guimarães.


Marcela Montenegro, diretora-executiva do Instituto de Pesquisa Ipespe

Para Marcela Montenegro, essa equação pode fazer com que os eleitores optem pela experiência. "As pessoas querem segurança e são imediatistas. Pode levar vantagem um nome que tenha o que apresentar", afirmou a diretora do Ipespe.

Já Lula Guimarães disse acreditar que se, de fato, uma candidatura diferente se consolidar, ela vai se materializar na figura do governador de São Paulo, João Doria. "Ele tem a vantagem de ter conseguido as vacinas, e São Paulo sempre tem um peso eleitoral importante", finalizou.