FDA: “Você não é um cavalo, pare de tomar ivermectina“

FDA: “Você não é um cavalo, pare de tomar ivermectina“

Com o mesmo impacto de um coice dado por um equino, a influente Food and Drug Administration (FDA) desferiu ontem um potente golpe contra os defensores do uso da ivermectina para o tratamento da Covid-19. Em post publicado no twitter, a FDA avisou: "Você não é um cavalo, você não é uma vaca. Sério, pessoal. Parem com isso".

A agência norte-americana, que corresponde à brasileira Anvisa, responsável por avaliar e liberar qualquer medicamento para uso em humanos, também compartilhou um texto intitulado "Por que você não deve usar ivermectina para tratar ou prevenir Covid-19". Publicado em maio deste ano, o texto detalha o posicionamento da FDA sobre o uso desse vermífugo.

"A FDA não aprovou a ivermectina para uso no tratamento ou prevenção de Covid-19 em humanos. Os comprimidos de ivermectina são aprovados em doses muito específicas contra vermes, piolhos e doenças da pele como a rosácea. A ivermectina não é um antiviral", traz o informe técnico.

Segundo a agência, a versão da ivermectina para uso animal "pode ser altamente tóxica em humanos", com base no registro de inúmeros casos de pacientes que procuraram os serviços médicos no país e foram hospitalizadas após se automedicar com o vermífugo.

Nos Estados Unidos, o uso da ivermectina é aprovado, em doses específicas, para tratar vermes parasitas. "Tomar doses excessivas desse medicamento é perigoso e pode causar sérios danos; a ivermectina pode reagir com outros medicamentos, como anticoagulantes, causando overdose, convulsão e até a morte", alerta a FDA.

A agência norte-americana recomenda que, para um efetivo combate à Covid-19, as pessoas continuem a seguir as formas conhecidas e aprovadas de prevenção: usar máscara, praticar o distanciamento social, lavar as mãos com frequência e usar o álcool em gel.

O alerta da FDA vai totalmente de encontro à defesa que o presidente Jair Bolsonaro faz da ivermectina. Há pouco tempo (julho), ele voltou a fazer propaganda do uso do vermífugo para o tratamento da Covid-19. "Ivermectina reduz as mortes por Covid em 56%, mostra estudo da Universidade de Oxford. Mais cedo ou mais tarde, vai ser comprovado cientificamente o uso da ivermectina".



De acordo com informação publicada pelo site UOL, o presidente fez referência a um artigo produzido por 10 pesquisadores de diferentes universidades no Reino Unido e que teve como base oito pesquisas revisadas, nove não revisadas, seis que sequer foram publicadas e uma divulgação independente. Por ainda não terem passado pelo crivo dos pares, estudos não revisados não são conclusivos e não costumam ser usados para embasar políticas públicas.

Contrapondo-se às falas de Bolsonaro, a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já afirmou, em comunicado divulgado em julho de 2020 e atualizado em abril último, que não há estudos conclusivos para comprovar o uso da ivermectina contra o coronavírus.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso do vermífugo apenas em ensaios clínicos, já que é inconclusiva a ação dessa droga em casos de Covid-19. De maneira semelhante, a European Medicine Agency (EMA), agência reguladora da União Europeia, é outra entidade que desaconselha o uso do medicamento fora de ensaios clínicos.