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Indústria de chips cresce no mundo, mas Brasil vai fechar a sua fábrica

Indústria de chips cresce no mundo, mas Brasil vai fechar a sua fábrica

Há poucos dias, a fabricante de chips e processadores Qualcomm anunciou seu novo presidente global, o brasileiro Cristiano Amon, funcionário de carreira da companhia norte-americana, onde trabalha desde 1995. A chegada do executivo ao topo da Qualcomm acontece em um momento aquecido do mercado de smartphones, onde a empresa mira o seu crescimento para os próximos anos.

Além de aquecido, esse mercado prepara-se para grandes disputas internacionais. Ano passado, a fabricante de placas gráficas Nvidia anunciou a compra da ARM, do japonês SoftBank. A ARM é uma divisão que se separou da Acorn Computers em 1990, e os seus chips de alta eficiência são utilizados em 95% dos smartphones em uso, boa parte fabricados na China.

A empresa licencia o desenho de seus semicondutores para mais de 500 companhias. Por isso, Qualcomm, Google e Microsoft, entre outras, fazem oposição ao negócio, e já enviaram comunicado à Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC), para que vete o negócio. A justificativa é que a Nvidia ficaria com o status de guardiã da tecnologia desenvolvida pela ARM, utilizada por essas empresas em forma de licenciamento.

Como se observa, o jogo é pesado, pois envolve Qualcomm, Google, Microsoft, ARM, Nvidia, além da Intel, outra gigante norte-americana que fabrica chips e processadores.

O aquecimento do mercado, as disputas regulatórias e a escassez verificada na produção mundial de chips vêm promovendo um atraso em cadeia em outras indústrias, que ainda enfrentam desastres ambientais. É o caso de Taiwan, sede da TSM (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company), que vive sua pior seca dos últimos 50 anos. Esse tigre asiático é responsável por mais da metade da produção mundial de chips.

A Intel, por sua vez, anunciou em março último um investimento de US$ 20 bilhões para ampliar a capacidade de produção. Pat Gelsinger, presidente global da companhia, afirmou que pode levar vários anos para que se resolva o quadro de escassez de semicondutores no mundo. Problema esse que já vem atingindo a indústria automobilística e que deve se estender para outros setores da economia.

Enquanto isso, no Brasil...


O Brasil, no entanto, caminha na contramão de todo o mainstream mundial, e anuncia o fechamento da única fábrica estatal de semicondutores do País - o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada.


CEITEC S.A. - foto Divulgação

No site oficial, a companhia já é apresentada como "Ceitec em liquidação", uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), que atua no segmento de semicondutores desenvolvendo soluções para identificação automática (RFID e smartcards) e para aplicações específicas, como é o caso do "chip do boi", para rastreabilidade bovina, além de ser a única empresa da América Latina que fabrica chips com silício, cobrindo toda a escala de produção. Localizada em Porto Alegre, desempenha um papel estratégico no desenvolvimento da indústria de microeletrônica do Brasil

A Ceitec foi criada no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2008. No início de junho deste ano, o presidente Jair Bolsonaro determinou sua extinção, sob a alegação de que a companhia ainda depende de pelo menos R$ 50 milhões anuais para cobrir a diferença entre receitas e despesas.

A recomendação pela extinção foi feita pelo conselho do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), sob a alegação de que, apesar dos aportes de R$ 800 milhões em duas décadas, a estatal ainda depende de injeções anuais (de R$ 50 milhões).

Números do próprio PPI, no entanto, projetam que essa diferença deixaria de existir até 2028, mesmo no cenário mais pessimista. E essa trajetória poderia ser acelerada por um balanço positivo na metade do tempo estimado, segundo funcionários da Ceitec que levaram um plano ao governo federal para manter a estatal de tecnologia funcionando.

Ao que parece, nem as projeções do PPI, nem o plano dos trabalhadores da Ceitec, surtiram efeito no MCTI e no Palácio do Planalto. A ordem é fechar as portas, mesmo que a tendência mundial do setor seja a de investir, produzir e expandir.