Mercado eleva o tom de críticas à Reforma Tributária

Mercado eleva o tom de críticas à Reforma Tributária

Enquanto os investidores procuram entender melhor os reflexos da reforma tributária, com os consequentes altos e baixos vistos na semana no Ibovespa, alguns setores do mercado estão apresentando críticas mais contundentes ao modelo apresentado pelo ministro da economia, Paulo Guedes. No início da semana, o economista e banqueiro André Lara Resende disse, no programa Roda Viva, da TV Cultura, que o país se ressente de uma ação mais duradoura na economia.

"O Brasil tem um sistema tributário atrasado, oneroso. Com os avanços da tecnologia, poderiam ser criadas novas formas de cobrar impostos de forma on line. Mas, agora, a novidade do governo é passar a cobrar imposto de dividendo", contesta Resende, que participou ativamente da criação dos Planos Real e Cruzado.

No setor das teles, "a tributação maior vai dificultar a expansão dos serviços e a aquisição por parte das classes sociais de baixa renda e mais vulneráveis em tempos de pandemia". O alerta foi feito por Marcos Ferrari, presidente do Sindicato das Operadoras de Telecomunicações, o SindiTelebrasil, à revista TeleSíntese. O executivo comparou que, nos últimos 20 anos, a carga tributária do setor passou de 31% em 1999 para 47% em 2019. Agora, "o peso dos tributos tende a aumentar".

Segundo relatório do BTG, empresas de telecom, bancos e especificamente a Ambev, devem ser os mais afetados pela reforma tributária. Para os analistas do banco, empresas que pagam muitos juros sobre o capital próprio (JCP), como bancos e empresas de telecomunicações, estão entre as que mais sentirão o baque dos impostos. "Estimamos que seus ganhos diminuiriam em cerca de 5% e 9%, respectivamente, em 2023", apontam eles, em reportagem divulgada pelo jornal Valor. Gigante do setor de bebidas, a Ambev é outra grande pagadora de juros sobre capital próprio. Supondo que a empresa não mude sua estrutura de capital, o impacto negativo no lucro pode chegar a 15%, ainda de acordo com o BTG.

O investidor Tiago Reis, fundador do site Suno Research, comentou, em seus posts no Instagram e em entrevistas, que "essa reforma tributária acaba com a indústria de fundos imobiliários, que tem carregado nas costas a construção civil (somente no ano passado, foram cerca de R$ 30 bilhões em emissões de cotas). Espero que o Congresso tenha noção que existirão impactos no setor de construção". Ele lembrou que pelo menos dois deputados federais, Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) e Vinicius Poit (Novo-SP), já se manifestaram publicamente contra essa taxação.