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Brasil é líder mundial em número de clientes das fintechs

Brasil é líder mundial em número de clientes das fintechs

Numa relação de 10 bancos digitais, seis foram criados localmente; são os novos tempos dos 'Digital Providers', na definição de executivo chinês da Huawei.

Os números são assombrosos. O crescimento também, tanto que assusta não apenas os bancos tradicionais como os próprios executivos das fintechs - os bancos digitais que avançam a galope largo em cima de um filão antes restrito aos chamados "bancões".

Uma pesquisa divulgada no Brasil pelo site Snaq.co, produzida pela Fisher Venture Builder, mostra os 10 maiores bancos digitais do mundo em número de clientes. O Brasil lidera com o Nubank, dono de uma carteira de 40 milhões de usuários, em lista que também traz o Neon (11 milhões) em quarto lugar; Inter (10,2 milhões) em quinto; C6 (seis milhões) em sétimo; Next (cinco milhões), em nono; e Original (4,2 milhões), na 10° posição.

Nesta segunda-feira, 22/06, executivos de fintechs gestadas no Brasil se reuniram para um fórum de debates dentro do CIAB 2021, que é o encontro anual para discutir as novas tecnologias bancárias, organizado pela Federação Nacional dos Bancos (Febraban). "É uma revolução, pois as barreiras não existem mais. Os chamados 'neo-banks' são próximos dos usuários", disparou Rodrigo Cury, sócio do BTG Pactual, instituição com 40 anos de vida e que há seis lançou seu banco digital.

Raul Moreira, do conselho de administração do Banco Original e do PicPay, destacou "a flexibilização das plataformas digitais e a regulação da área" como pontos fortes que permitiram o avanço das fintechs. "A terceira etapa é crescer fora do financeiro, como marketplaces". E foi justamente nesse ponto que bateu Renato Ejnisman, CEO do Banco Next, criado a partir de seu dono, o Bradesco, e que virou empresa independente em setembro de 2020. "Estamos apostando na área do varejo, num site de e-commerce, em parcerias com a Disney, com a área de saúde. O mesmo movimento acontece com o varejo, que também vai para o financeiro".

Único convidado estrangeiro do painel, o chinês Chen Ku Te, que é o Chief Digital Transformation Officer da gigante de telecomunicações Huawei, se apropriou de um termo corrente do mercado das teles e de TI para fazer um comparativo interessante. "Os bancos digitais são hoje 'Digital Providers', isto é, atuam como intermediadores de consumidores e das tecnologias oferecidas por essas instituições". Para ele, "a pandemia empurrou os bancos para o ambiente digital, quer dizer, aqueles que ainda não estavam ou engatinhavam para isso, criando um 'empowerment' inédito para todo o setor.

Os novos 'Digital Providers' citados pelo representante da Huawei encontram respaldo nas atividades de educação financeira que as novas instituições promovem, com auxílio de 'influencers' jovens, ligados ou não profissionalmente a eles. Ensinam o manuseio básico de suas plataformas e ao mesmo tempo criam um novo negócio com cursos na área de educação disponíveis em seus marketplaces.

As constatações dos executivos no painel do CIAB, entre o assombro e o entusiasmo, não param. Raul Moreira, do Original, fala da chegada do empreendedor em busca de crédito, que acaba utilizando também o PicPay para a realização de suas transações financeiras - uma dobradinha de serviços a favor do banco.

Rodrigo Cury, do BTG, destaca uma expansão inédita do mercado. "Em junho, já tínhamos presença em praticamente todos os municípios do Brasil, o que seria impossível de atingir com uma rede física". Renato Ejnisman, do Next, cita a busca pelos 'Milennials' (a geração nascida a partir da década de 1980), com o uso de tecnologia e inteligência artificial para conhecer melhor esse novo cliente. Na outra ponta, frisa o interesse do usuário acima dos 40, 50 anos, ávido por conhecer melhor o mundo digital.

Tantas novidades e entusiasmo, entretanto, não passaram em branco para a organização do CIAB. A Febraban, que é idealizadora e promotora do evento, deixou claro o que pensa logo na abertura, conforme adiantou o jornal Valor.

Enquanto a economia brasileira teve retração de 4% no ano passado, "os bancos, e não as fintechs, deram às famílias e às empresas volumes inéditos de crédito". Presidente da Febraban e autor do comentário, Isaac Sidney acrescentou que as instituições financeiras não só falam de tecnologia, mas fazem inovação. "Não temos vergonha de sermos bancos, muito ao contrário, e também não nos escondemos atrás de letras, marketing e grifes", declarou ao jornal.

O ringue está montado. Que venham os próximos rounds dessa luta no mercado financeiro que mal começou e está longe de acabar.