Imagem: Divulgação B3
Uma nova bolsa pode surgir no mercado brasileiro?

Uma nova bolsa pode surgir no mercado brasileiro?

Essa é a pergunta que agitou corretoras, bancos e investidores nos primeiros dias de junho. A resposta é sim, e vamos explicar o porquê disso.

A recente saída do presidente do Banco XP, José Berenguer, do Conselho de Administração da B3, tinha tudo para ser considerada uma medida corriqueira, dessas que normalmente acontecem no mercado financeiro. Até que o JP Morgan, em relatório divulgado no início de junho, apontou que a XP poderia ter como intenção criar uma nova câmara de compensação, uma segunda bolsa de valores no Brasil.

Essa análise, que agitou as instituições financeiras, questionou o fato de uma corretora que tem mais de 20% de participação nas transações, responsável por cerca de R$ 500 milhões em geração de receita para a B3 só em 2020, retirar seu executivo do conselho diante de sua importância para o mercado.

Segundo informação divulgada pelo Estadão, a ideia da XP na verdade estaria voltada para a criação de uma plataforma de criptomoedas. Para analistas ouvidos pelo jornal, um dos impactos que a criação de uma nova bolsa poderia causar seria a divisão e diminuição da liquidez no mercado, o que mudaria radicalmente o ambiente de negócios.

O resultado imediato da análise do JP Morgan foi que, nos pregões de junho, as ações da B3 (B3SA3) registraram forte queda. Somente na terça-feira, dia 8/06, os ativos caíram 5,55%. Na mesma semana, segundo informação do InfoMoney, a empresa de tesouraria digital Mark 2 Market (M2M) recebeu licença da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para atuar como Central Depositária de Recebíveis do Agronegócio (CRA), passando a competir nesse setor com a B3. Criada em 2010, a M2M informa gerir mais de R$ 310 bilhões em suas plataformas, recursos de securitizadoras e empresas na gestão de dívidas, aplicações, derivativos, tendo como clientes Burger King, Natura, CCR e Alpargatas.

Para analistas do Bradesco BBI, a recente queda nos papéis da B3 não tem maior justificativa, especialmente porque a dinâmica continua muito forte ao longo do segundo trimestre. Para eles, muito se tem discutido sobre a concorrência ultimamente. Mesmo se houver uma nova bolsa, ou mesmo um broker, o impacto nas receitas não deve ser próximo ao que o mercado está precificando atualmente.

O que estaria em jogo, de acordo com cálculo dos analistas ouvidos pelo InfoMoney, é o que compreende cerca de 15% do total de tarifas de negociação mais o pós-negociação, que é o que eles veem como a receita potencial que estaria em risco.


No México, por exemplo, a criação da Bolsa Institucional de Valores (Biva), impactou em 30% a movimentação da então única Bolsa Mexicana de Valores (BMV).

Como era antes


A B3 que os investidores conhecem hoje, não era assim alguns anos atrás. Em 2008, ela se fundiu com a Bolsa Mercantil de Futuros, de onde surgiu a BM&F Bovespa. A BM&F havia sido criada em 1985, a partir de um embrião bem lá de trás, em 1917, que era a Bolsa de Mercadoria de São Paulo fundada para negociações de contratos agropecuários. Já a Bovespa iniciou suas atividades em São Paulo em 1890, então com o nome de Bolsa Livre.

Resumidamente, a BM&F era quem cuidava do mercado futuro, enquanto que a Bovespa atuava no mercado à vista. Em 2017, nova transformação: a Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos (Cetip) uniu-se a BM&F Bovespa, surgindo então a conhecida B3, de Brasil, Bolsa e Balcão.

A história das bolsas de valores não acaba, nem começa aí. Uma das instituições do gênero mais antigas do Brasil foi a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, inaugurada em 1820, três anos após a abertura daquela que seria a bolsa mais velha do País, a de Salvador (Bovesba). A BVRJ encerrou suas atividades em definitivo em 2002, mas já no início dos anos de 1990 se ressentia do tombo pelo qual passou o mercado financeiro a partir da crise na Bovespa em 1989.


Foto: Prefeitura de Santos/divulgação

Em Santos (SP), o Museu do Café guarda até hoje as recordações da Bolsa de Café. Responsável pela negociação dos grãos que chegavam do interior de São Paulo e de outros estados, a instituição começou a funcionar em 1917, em um prédio anexo ao que existe atualmente, inaugurado em 1922. A bolsa parou suas atividades em 1960 e foi extinta pelo Governo do Estado de São Paulo em 1986.

Para quem quiser conhecer e tomar um café no histórico prédio, o museu fica na rua XV de Novembro, 95, no Centro antigo de Santos.