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Cine Marrocos simboliza o problema de moradia na cidade de SP

Cine Marrocos simboliza o problema de moradia na cidade de SP

A falta de moradia é um problema crônico em São Paulo e em todo o País. Somente no estado paulista, uma reportagem do SPTV da Rede Globo, exibida ontem (7/06), estimou que o déficit alcança 1,2 milhão de casas. Desse total, meio milhão só na capital, segundo dados da Folha de S. Paulo.




Embora seja um problema arraigado, visto que acontece desde o extremo da zona leste até o outro extremo da zona sul, é no centro da capital que essa questão se potencializa, devido à visibilidade da área, existência de muitos prédios desativados e o acesso oferecido a todos via ônibus, metrô e trens.
O novo documentário Cine Marrocos, desde o último dia 3 em cartaz na capital, simboliza esse drama causado pelo déficit habitacional. Inaugurado em janeiro de 1951, o velho cinema completou 70 anos cheio de histórias. Uma das salas mais luxuosas de sua época, foi palco do primeiro festival internacional de cinema, em 1954, exibiu em avant-première os melhores filmes entre as décadas de 50 e 70, até ser fechado em 1994.

Desapropriado pela Prefeitura em 2010, acabou invadido por um grupo do Movimento dos Sem Teto em 2013, passando a abrigar também imigrantes latino-americanos e refugiados africanos. Teve ainda um triste episódio policial, quando a PM e a Polícia Civil invadiram o local e encontraram armamento pesado pertencente a uma facção criminosa. Moradores contaram à polícia que foram obrigados a guardar, sob ameaças dos donos das armas.



Em 2015, o jornalista Ricardo Calil teve a ideia de produzir o documentário. Fã de cinemas e em especial do Marrocos, ele começou seu trabalho no momento em que o local estava ocupado por dois mil sem-teto de um total de 17 países, tendo utilizado inclusive esses personagens nas filmagens. Em 2019, seu documentário ganhou o festival "É Tudo Verdade", chegando agora finalmente às telas (Espaço Itaú de Cinema, rua Frei Caneca, 569, 3° piso, shopping Frei Caneca).

Em fins de 2020, a Folha de S. Paulo apontou o déficit habitacional e um destino para o Minhocão como dois dos mais graves desafios que o novo prefeito de São Paulo iria enfrentar, colocando entraves urbanísticos, requalificação do centro, pressão da pandemia e inclusão digital como questões relacionadas à solução desses problemas.

Em entrevista concedida à rádio Bandnews no final de maio, o prefeito Ricardo Nunes afirmou que a revitalização do centro vai sair do papel. Informou que no prazo máximo de dois meses o calçamento será trocado, e serão intensificados os trabalhos sociais para diminuir a quantidade de moradores de rua na região, sem especificar que tipo de ação será tomada neste caso. Em relação ao Vale do Anhangabaú, confirmou que uma parte já foi aberta, mas que tenta resolver um imbróglio gerado no ano passado com a empresa que ganhou a licitação e já deveria ter pago a outorga.

Iniciativa privada


Empresas do setor privado enxergam oportunidades de negócio para suprir o déficit habitacional, em São Paulo e em outros estados. A incorporadora Magik JC já levantou, nos últimos seis anos, seis prédios entregues e outros oito em obras ou em fase de lançamento, em bairros centrais como Vila Buarque, Santa Cecilia e Bela Vista (Bixiga), sendo este último assinado pelo renomado arquiteto Isay Weinfeld.

O modelo adotado é de um Minha Casa Minha vida sem arquitetura massificada, mas com design de seus autores. Agora, porém, o projeto cresceu. A proposta é lançar 20 prédios nos próximos quatro ou cinco anos, com dinheiro levantado junto ao Fundo Verde, do investidor Luis Stuhlberger. O fundo foi o único comprador de uma emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), no valor de R$ 5 milhões, estruturado pela empresa de securitização Gaia Impacto. O valor deve ser suficiente para bancar os três primeiros lançamentos.

Já de Recife, vem a notícia da construção de apartamentos dentro de silos de trigo do antigo Moinho Recife. Segundo o Jornal do Commercio/PE, os silos serão transformados em moradias com vista para o mar e para o Porto Digital do Recife.

Serão no total 251 apartamentos de 20 a 70 metros quadrados, no antigo moinho localizado na região portuária de Pernambuco. De acordo com a Folha de S. Paulo, o retrofit será feito pela construtora Moura Dubeux, e as obras, que devem durar três anos, vão começar no segundo semestre. São duas torres, ocas por dentro, que vão ganhar lajes e janelas. Um silo é cilíndrico, e outro retangular. Os apartamentos vão custar entre R$ 180 mil e R$ 500 mil.

O projeto é parte de um empreendimento maior, na antiga zona portuária. Batizado de Moinho Recife Business & Life, prevê, além do retrofit nos dois silos, a reforma de outros prédios no entorno. A empresa formada para tal propósito é a Revitalis, que engloba os grupos Petribu, Tavares de Melo e Moura (que não é a Moura Dubeux), e que vai criar moradias, lojas, escritórios, coworkings, restaurantes e um edifício-garagem.