5 Lições de Warren Buffett em Sua Convenção Anual

5 Lições de Warren Buffett em Sua Convenção Anual

Por Ademir Gutierri

O ritual se repete há décadas. Ao menos uma vez ao ano, o mundo volta suas atenções para ouvir Warren Buffett, na convenção anual de sua empresa, a Berkshire Hathaway (NYSE:BRKb) (SA:BERK34).

E não é à toa: ouvir o simpático velhinho, também conhecido como Oráculo de Omaha, é sempre um show à parte: frases de efeito, ensinamentos simples, porém sofisticados, e opiniões que muitas vezes vão contra o consenso fazem parte de um vasto repertório do investidor mais famoso do mundo.

Mas será que, mesmo depois de tantos anos, o simpático velhinho, juntamente com seu grande parceiro Charlie Munger, ainda têm algo a nos ensinar? Será que o jovem investidor ainda pode encontrar lapsos de sabedoria em suas palavras?

Ao invés de fazer uma cobertura tradicional do evento, decidi separar os 5 principais ensinamentos que podemos retirar do evento ocorrido no último fim de semana, te ajudando ainda mais a se desenvolver como investidor.

1 - Estude as empresas, mas não esqueça de entender o contexto macroeconômico
Trazendo mais uma frase que tem tudo para ser tornar atemporal e ser acrescentada ao seu vasto repertório, Warren Buffett comentou durante sua explanação que "as taxas de juros estão para os preços dos ativos assim como a gravidade é importante".

Mas o que ele quis dizer como essa frase? Bom, muito se questiona se há uma bolha no mercado norte-americano, principalmente nas ações de tecnologia. Mas será que elas estão de fato sobrevalorizadas?

Para Warren Buffett, não. O que ele quer dizer em sua frase é que ao efetuar o cálculo do preço justo de uma empresa, utilizamos as chamadas taxas livres de risco para trazer os fluxos de caixa futuros das empresas a valor presente e assim determinar seu preço justo.




Com uma taxa de juros próximo a 0% nos EUA, a taxa de desconto sobre os fluxos de caixa futuros praticamente inexiste, o que torna seu preço justo maior. E se pegarmos empresas com excelentes taxas de retorno sobre o capital (como é o caso da Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34) e do Google (NASDAQ:GOOGL) (SA:GOGL34), por exemplo), esse valor é potencializado.

Sendo assim, por mais que seja estranho para um fundamentalista clássico olhar para empresas que negociam a preços de centenas de vezes o seu lucro e ainda assim achá-las baratas, para Warren Buffett não há nada de errado nisso. Ou seja, o contexto de juros quase zerados explica tais múltiplos.

2 - Os gênios também cometem erros, e não há nada de errado nisso
É natural do ser humano buscar referências em suas áreas de interesse e achá-los que são "deuses". O que não podemos esquecer é que mesmo essas referências são seres humanos de carne e osso, e assim como nós, também cometem erros.

E não é diferente com Warren Buffett. Na verdade, ao de décadas de vida pública, esse grande investidor nunca teve problemas ao admitir erros cometidos em sua tomada de decisão.

Esse ano, Buffett admitiu que errou ao vender parte de suas ações da Apple em 2020, mesmo que a empresa ainda seja sua maior posição no portfólio. Mas afinal, além da questão dos juros baixos que comentei anteriormente, por que afinal Buffett considerou um erro reduzir suas posições em Apple?

Para quem já estudou profundamente sua filosofia de investimentos, sabe que ele é o criador do conceito de "Moat" (fosso, em português), que basicamente trata das vantagens competitivas que uma empresa possui, e que a torna diferenciada das demais no longo prazo.

Pois a Apple é um belo exemplar de uma empresa que se encaixa nesse conceito. Há décadas a empresa da maçã mordida é considerada a mais inovadora do mundo. Segundo Buffett, hoje seus produtos são indispensáveis para os americanos e para boa parte do mundo.



E a Berkshire soube surfar muito bem sobre esse diferencial. Ao final de dezembro, a Berkshire possuía 907.559.761 ações da Apple, com um valor total de mercado de US$ 120,4 bilhões. O detalhe é que a empresa gastou apenas US$ 31 bilhões acumulando essa participação desde o final de 2016!

Portanto, se desfazer de ações de uma empresa que se enquadra em um conceito que você mesmo criou pode parecer uma tolice. Mas até mesmo os investidores lendários cometem erros, porém, seu maior mérito é saber admití-los, e não deixar o seu ego falar mais alto que sua capacidade de aprendizado.

3 - Nunca esqueça de gerenciar seu risco e reequilibrar sua carteira
Uma das maiores curiosidades dos que faziam perguntas durante a convenção era o porquê de Buffett ter vendido também parte de suas posições em bancos.

Ao contrário do que se imaginava, esse movimento nada tinha a ver com uma possível perda de confiança no setor, mas sim uma ação necessária para reequilibrar sua carteira.

Buffett afirmou: "Gosto de bancos em geral, só não gosto da proporção em comparação ao risco possível". E depois completou dizendo que "Éramos mais de 10% do Bank of America (NYSE:BAC) (SA:BOAC34). É uma verdadeira dor de cabeça, mais para os bancos do que para nós."

Em suma, por mais que você confie em uma tese de investimentos, o gerenciamento de riscos e o equilíbrio da carteira são muito mais importantes. Afinal, quem garante que você está certo? Caso não esteja, é melhor que sua carteira esteja protegida disso.

4 - Não confie cegamente em opiniões extremas
Que vivemos em um mundo polarizado, não é novidade. Ideias e opiniões se propagam a uma velocidade acachapante, o que muitas vezes faz com que as pessoas sequer parem para analisar e ter senso crítico a respeito.

No mundo dos investimentos, isso acontece com frequência, e alguns temas estão em voga, sendo tratados com uma "nova verdade inquestionável". Entretanto, chamaram minha atenção algumas falas de Buffett que nos levam a concluir que não devemos ir nem tão ao céu, nem tão ao inferno.

"Eu diria que as pessoas que estão nos extremos de ambos os lados são um pouco malucas." Afirmou.

Um exemplo disso é a questão energética. Muitos apontam que as fontes de energia fósseis estão com seus dias contados. Mas Buffett lembra que, embora de fato haja um crescimento nas fontes sustentáveis de energia, essa mudança não se dará da noite para o dia. O mundo ainda irá precisar de petróleo por muito tempo.

O gráfico abaixo mostra que o consumo de petróleo no mundo já se encontra próximo a patamares do pré-covid.



Outra opinião polêmica, que foge do senso comum, diz respeito ao Bitcoin. E essa vem de seu sócio, Charlie Munger, que não é nada otimista e eufórico quanto ao futuro da criptomoeda.

Para ele, o Bitcoin falha como uma reserva de valor pois é extremamente volátil, o que nunca trará confiança aos agentes para seu uso no dia-a-dia. Além disso, disse não gostar de uma moeda "que é tão útil para sequestradores e extorcionistas", sendo assim "contrária aos interesses da civilização".

Ou seja, a despeito de toda euforia e otimismo com relação aos dois temas, os questionamentos de Buffett e Munger fazem bastante sentido, e merecem ser adicionados à balança para uma tomada de decisão. Em resumo, todo bom investidor precisa manter sua capacidade de questionamento.

5 - Entenda seus limites e não deixe o seu ego te cegar
Analisar e garimpar ações é algo que faz parte do imaginário e desperta o interesse da maioria dos investidores. Afinal, quem não gostaria de se sentir um grande investidor, como nos filmes, e achar uma ação que seja a nova mina dos ovos de ouro e enriquecer com ela?

Acontece que no mundo real as coisas não são nada simples assim. Já comentei em outro artigo por aqui que mesmo os gestores profissionais possuem imensa dificuldade de bater a média do mercado (no Brasil o Ibovespa, nos EUA, o S&P 500).

Abaixo trago novamente o dado que mostra que 90% dos gestores profissionais não conseguem bater o S&P 500! Então o que sobra para os investidores amadores?



Em mais um ato de sinceridade e humildade - já que poderia ter aproveitado para fazer uma propaganda de seus próprios fundos - Buffett afirmou que para a grande maioria dos investidores, seria mais recomendado investir através de fundos referenciados ao índice.

Assim o pequeno investidor teria uma carteira muito mais diversificada e estaria sempre comprado nas principais empresas do mercado, que são cada vez mais difíceis de serem identificadas com antecedência.

O que o oráculo de Omaha quis concluir é que cada investidor precisa conhecer seus limites técnicos e comportamentais, e que muitas vezes, a solução mais simples é a mais eficiente, embora seja a menos emocionante.

MUITO MAIS QUE ESSAS 5 LIÇÕES

Poderia trazer vários outros insights que obtive ao assistir a conferência da Berkshire Hathaway, mas esse artigo se tornaria longo e cansativo para você, leitor.

Mas gostaria de destacar brevemente também 3 pontos que Warren Buffett pontuou também:

- voltou a afirmar a capacidade de recuperação dos EUA, a exemplo do ano passado ("never bet against America");

- Destacou a competência do FED e a importância do Governo agir rápido quando surgem grandes crises, contrariando outros especialistas, que vêem nas decisões do Banco Central americano um excesso, que pode custar caro;

- Ligou um sinal de alerta ao afirmar que a Berkshire vê sim sinais de inflação na economia americana e mundial, o que liga um grande sinal amarelo para os próximos meses,

Como sempre, mesmo após ser ouvido por tantas décadas, Warren Buffett segue nos ensinando, mesmo que muitas dessas lições pareçam óbvias. Mas em tempos de polarização e euforia generalizada, muitas vezes o óbvio precisa ser dito!

E você? Acha que essas lições são importantes para o investidor? Deixe sua opinião aqui nos comentários!

Te espero no próximo artigo! Abraços

Investing.com
https://br.investing.com/analysis/5-licoes-de-warren-buffett-em-sua-convencao-anual-200441723