Jenne Andrade
Antonio Costa, CEO da Azimut Brasil Wealth Management
A Azimut Brasil Wealth Management (ABWM) chegou ao País em 2015, quando o mercado de gestão de grandes fortunas iniciava uma fase de intensa transformação e consolidação. Enquanto os grandes bancos estrangeiros saíam de cena, os clientes donos de tíquetes mais altos se dividiam entre casas independentes e algumas instituições locais.
"O que vimos ao longo dos anos, principalmente dos últimos dois, foi um processo voraz de fusão e aquisição nessa área. Nós mesmos fizemos algumas consolidações", afirma Antonio Costa, CEO da ABWM. "E os bancos estão começando a reagir e contratar mais gente para a área de gestão de patrimônio."
A competição deve seguir ainda mais intensa. Com o intuito de manter relevância, a Azimut aposta em duas estratégias: a proximidade com o cliente, mesmo à distância física, e a criação de novos produtos. Em 2020, a gestora terminou com R$ 9,1 bilhões em ativos sob gestão - crescimento de R$ 1 bilhão sobre 2019.
Os clientes com grandes fortunas dão maior importância à diversificação internacional? Estamos vendo que sim. Apesar do câmbio - que não dá para dizer que está alto, pode ser até que esteja barato, não sabemos -, acho que o movimento de saída de capital deve ser intensificado. Levando em conta, claro, o cenário de maior descontrole na pandemia e risco fiscal se elevando. Seguimos com o entendimento de que o dólar atingiu um novo patamar. Mesmo depois que a pandemia passar, a depreciação da moeda tende a acontecer, mas deve ser limitada por fatores locais. Não conseguimos ver o dólar indo para R$ 4, por exemplo. As pessoas que estão buscando essa maior diversificação farão independentemente do nível do câmbio.
Como está sendo este desafiante ano de 2021?
Estamos vendo um cenário mais cauteloso e mais turbulento, principalmente no Brasil. Quando olhamos para fora, para os Estados Unidos, temos mais de 200 milhões de doses de vacinas aplicadas e, consequentemente, o país terá uma retomada econômica mais rápida. Mas, se olharmos para dentro, temos alguns pontos importantes para serem levados em consideração. Primeiro, é o processo de vacina. Apesar de o Brasil estar em quinto ou sexto país (em números absolutos), estamos longe de ter um porcentual importante da população imunizada. Isso certamente vai atrapalhar muito o crescimento econômico. Além do mais, existem ruídos políticos. Acreditamos que isso vai se reverter, que novas vacinas vão chegar e o País vai acelerar o processo de vacinação. Não estamos pessimistas; estamos cautelosamente otimistas.
Onde estão as melhores oportunidades de investimento para o cliente de wealth management no Brasil?
A renda fixa volta a ficar um pouco mais atrativa, com o pouco aumento de juros, mas também com a possibilidade de aumentar juros para frente. Ativos pós-fixados estão sendo procurados, estamos vendo isso. Temos visto também ativos ligados à inflação, porque existe possibilidade de a inflação ser um pouco maior do que estávamos prevendo lá atrás. E a parte de renda variável também. Achamos que, mesmo com toda essa volatilidade e dos fundamentos que se deterioraram nos últimos meses, a Bolsa ainda é uma classe de ativos com preços atraentes. E temos apostado muito na capacidade dos gestores locais de selecionar as ações com maior resiliência, que podem se beneficiar de um cenário de recuperação, e também (selecionar ações) do mercado externo. O grande ponto é selecionar bons gestores, como os que gerem carteiras multimercado macro, que tenham agilidade em montar e desmontar posição e se adequem às mudanças de cenário. Esses fundos multimercados macro também têm exposição ao mercado offshore, é uma classe de ativos importante. São estratégias que podem ser vencedoras, pensando no futuro.
A Azimut vai passar a intermediar ações. Como funcionará essa operação?
Isso é um negócio novo, que ainda nem divulgamos muito para o mercado. Até meados do ano passado, fazíamos renda fixa, fundos e produtos estruturados. A parte de renda variável, não estávamos fazendo. Então, pegamos uma autorização da B3 para intermediações. Não é que viramos uma corretora, mas pegamos a DTVM, que é o veículo que usamos, e mudamos a licença para fazer distribuição de ações e sermos agentes de custódia, negociar ações.
O Estado de S. Paulo