BofA: momento ainda não é o melhor para investir em shopping centers

BofA: momento ainda não é o melhor para investir em shopping centers

Ritmo de vacinação ainda lento no país, pouca visibilidade e baixo nível de confiança do consumidor têm deixado banco cauteloso com as ações do setor

Por Mariana Zonta d'Ávila

SÃO PAULO - Com um cenário macroeconômico ainda desafiador no horizonte, com elevado índice de desemprego e baixo nível de confiança do consumidor em meio a uma crise por conta da pandemia, os shopping centers no Brasil ainda têm um longo caminho de recuperação pela frente e podem deixar a desejar em retorno na Bolsa nos próximos meses. A avaliação é do Bank of America (BofA).

Em relatório divulgado nesta terça-feira (27), o BofA diz permanecer cauteloso em relação às ações de operadoras de shoppings brasileiras. A avaliação é de que os lucros estão fracos e que uma vacinação em ritmo lento somada à incerteza econômica pode colocar os ganhos de 2022 também em risco.

"Um rali no curto prazo é possível com investidores mudando os portfólios para as operações que estão reabrindo. Porém, vemos que qualquer rali terá vida curta, já que as mudanças seculares e um consumo instável no Brasil provavelmente vão limitar a recuperação", escreve o banco americano, no documento.

Segundo os analistas do BofA, os lucros no curto prazo (no primeiro e no segundo trimestre) devem enfrentar ventos mais contrários do que o esperado devido às novas medidas de isolamento social impostas no país e que perduraram até o meio de abril.

Com isso, o BofA reduziu suas expectativas de FFO (fluxo de caixa proveniente das operações, na sigla em inglês) em 14%, na média, para os shoppings brasileiros. "Vemos que o retorno mais devagar à normalidade das vendas e do fluxo será um obstáculo para uma recuperação das receitas à medida que os descontos persistirem", assinala.

Segundo o banco, operadoras premium de shoppings, como Iguatemi (IGTA3) e Multiplan (MULT3), devem ver uma retomada mais rápida, provavelmente começando no início do segundo semestre, enquanto os shoppings "classe B" devem levar mais tempo para se recuperar.

Pouca visibilidade

Na visão do BofA, investidores com avaliações favoráveis para o segmento se apoiam basicamente em duas justificativas: a visibilidade de uma recuperação completa por conta do avanço da vacinação e uma expectativa de retomada rápida dos lucros para níveis iguais ou até acima dos encontrados na pré-pandemia. "Mas, no Brasil, a visibilidade é limitada principalmente para shoppings e escritórios, que dependem muito de mobilidade e aglomerações", escreve o banco.

O aumento dos casos de Covid no Brasil e uma vacinação ainda devagar prejudicam uma visão mais clara de retomada e, consequentemente, de recuperação desses setores, destaca o banco.

Já com relação à retomada dos lucros, há uma limitação pela alta taxa de desemprego no país, pela baixa renda e por uma confiança deprimida, em meio a incertezas econômicas. Outro fator negativo, segundo o BofA, é a falta de estímulos fiscais, principalmente de pagamentos via "Coronavoucher", que ajudaram a segurar a renda de muitas famílias e o consumo no último ano.

Brasil X EUA

Na avaliação do banco americano, ainda que as ações de shopping centers brasileiros tenham apresentado ganhos de 23% em março, a retomada dos ativos está atrás da encontrada em outras regiões.

Nos Estados Unidos, por exemplo, shoppings e REITs (fundos imobiliários) de escritórios têm valorização de 28% e 10%, respectivamente, no ano, contra quedas de 2% e 9% nos respectivos setores brasileiros, assinala o BofA.

Lá, contudo, o consumo é tido como sólido (com estímulos e reaberturas), com aumento de 9,8% das vendas em março na comparação mensal. "Em paralelo, em meio à reabertura no Brasil, o nível de confiança do consumidor está em seu menor patamar em dez meses, com muito menos visibilidade", assinala o banco.

InfoMoney
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