Maria Katiane Gomes da Silva morreu após cair do 10º andar - Foto: Reprodução/Instagram @katiane.gomes14 |
Suspeito de arremessar mulher do 10º andar em SP sequestrou parente de Suplicy em 2003

Suspeito de arremessar mulher do 10º andar em SP sequestrou parente de Suplicy em 2003

Alex Leandro Bispo dos Santos, de 40 anos, foi preso temporariamente e é investigado por feminicídio consumado


Por Júlia Cople - Rio de Janeiro

O suspeito de matar Maria Katiane Gomes da Silva arremessando-a do 10º andar de um edifício na Zona Sul de São Paulo, em 29 de novembro, já tinha "longa" ficha criminal. Entre as passagens pela polícia, a primeira delas ocorreu em 2003, quando Alex Leandro Bispo dos Santos participou do sequestro-relâmpago de um sobrinho de Eduardo Suplicy, atual deputado estadual e, à época, senador pelo estado de SP.

Fontes ligadas à segurança pública do estado confirmaram ao GLOBO que Santos participou do sequestro de Roberto Calmon de Barros Barreto Filho, abordado por criminosos na região de Jardins, em outubro de 2003. Santos e uma cúmplice adolescente foram acusados de manter a vítima sob a mira de uma arma e exigir cartão bancário e senha dela. Na época, ele foi flagrado por seguranças de um estabelecimento comercial e, mais tarde, condenado a seis anos e quatro meses de prisão.

Outros registros policiais atribuem a Santos crimes como roubo e falsidade ideológica.

Imagens de câmeras de segurança encontradas pela Polícia Civil foram cruciais para a prisão, nesta terça-feira (9), de Alex Santos, pelo novo caso. O material contradisse a versão inicial do investigado e expôs cenas de violência minutos antes da morte de Maria Katiane.

O circuito interno do condomínio registrou uma sequência de ataques físicos e psicológicos. Inicialmente, no estacionamento, o homem é flagrado desferindo socos contra a companheira. A violência continua no elevador, onde as imagens mostram uma discussão acalorada seguida por tentativas do agressor de agarrar o pescoço da vítima.

Em outro momento, Alex arranca Maria Katiane do interior da cabine de forma violenta; ela tenta resistir, segurando-se nas portas, mas é superada pela força física do marido. Cerca de um minuto depois, o suspeito retorna sozinho ao elevador, senta-se no chão e leva as mãos à cabeça, mostrando desespero.

O caso, ocorrido em 29 de novembro, foi inicialmente tratado pelas autoridades como morte suspeita. Na ocasião, vizinhos acionaram a Polícia Militar e o Samu após escutarem gritos seguidos pelo estrondo do impacto no solo. Ao chegarem ao local, os agentes encontraram Alex abraçado ao corpo da esposa, alegando que ela havia tirado a própria vida após uma briga conjugal.

Contudo, a narrativa de suicídio não se sustentou durante a investigação do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e do 89º Distrito Policial (Jardim Taboão). Além das imagens das áreas comuns, a perícia analisou gravações de câmeras instaladas dentro do apartamento do casal e encontrou inconsistências nos depoimentos. Diante do conjunto de provas, a Justiça decretou a prisão temporária de Alex, que agora responde por feminicídio consumado.

Maria Katiane Gomes da Silva e Alex Leandro Bispo dos Santos - Foto: Reprodução/Instagram @katiane.gomes14
Maria Katiane Gomes da Silva e Alex Leandro Bispo dos Santos - Foto: Reprodução/Instagram @katiane.gomes14

Em nota, a Secretaria de Segurança Púlica afirmou que as investigações seguem em andamento pelo 89º Distrito Policial (Jardim Taboão), que requisitou exames periciais e realiza outras diligências para o completo esclarecimento dos fatos.

Quem era a vítima

Natural de Crateús, no sertão do Ceará, Maria Katiane residia na capital paulista, mas mantinha fortes laços com sua terra natal, onde vive sua filha. A menina é estudante da Escola Sônia Burgos, que emitiu nota de pesar solidarizando-se com a tragédia familiar.




Nas redes sociais, a jovem mantinha um perfil ativo e vibrante, compartilhando momentos de lazer em viagens, além de criar conteúdo sobre estética, dicas de maquiagem e rotinas de treino. Uma tia de Maria Katiane expressou indignação e dor em uma publicação nas redes sociais. Ela citou o caráter possessivo do relacionamento, classificando o sentimento do agressor como "doentio".

"Queremos Justiça pela vida de Katiane Gomes. Ela não pode mais falar pois sua voz foi calada por um cara que a dizia amar, onde tudo não passava de um sentimento de posse, um sentimento doentio. Hoje, como tia, eu estou com meu coração apertado, com um sentimento de indignação, assim como sua mãe e toda nossa família, pedimos justiça por Katiane Gomes".

O Globo
https://oglobo.globo.com/brasil/sao-paulo/noticia/2025/12/11/suspeito-de-arremessar-mulher-do-10o-andar-em-sp-sequestrou-parente-de-suplicy-em-2003.ghtml