Petista critica opositores em entrevista e volta a defender cassação de Eduardo Bolsonaro
Artur Búrigo
Catarina Scortecci
Bruno Ribeiro
O presidente Lula (PT) afirmou nesta sexta-feira que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não seria nada sem Jair Bolsonaro (PL) e fará o que o ex-presidente quiser.
A declaração foi feita em entrevista à rádio Itatiaia. "Nós temos que reconhecer que o Bolsonaro tem uma força no setor de extrema direita muito forte. O Tarcísio vai fazer o que o Bolsonaro quiser. Até porque sem o Bolsonaro ele não é nada. Ele sabe disso", disse.
Questionado sobre as declarações do petista, Tarcísio respondeu que "não perde nem um minuto" pensando em críticas do tipo.
Em entrevista coletiva no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, onde estava para anunciar mais recursos para a saúde e investimentos em equipamentos, o governador foi questionado se as críticas o incomodavam.
"Não perco um minuto pensando nisso", respondeu.
Após a resposta curta, Tarcísio ficou em silêncio e passou a ser questionado sobre outros assuntos. Ele disse que pretende ficar em São Paulo para acompanhar o julgamento de Bolsonaro na semana que vem e que acredita na inocência do ex-presidente.
"Eu não sei o que vai acontecer. O que eu sei é que o Bolsonaro é inocente. Eu convivi com ele de forma muito próxima esse período todo, fui ministro dele. Um presidente que está planejando algo não nomeia os comandantes de Força do governo que está sucedendo. Então, tem muita coisa aí que não faz o menor sentido, na minha opinião. Eu acredito muito, e tenho convicção absoluta na inocência e, se houver justiça, ele vai ser inocentado."
O governador de São Paulo é cotado para ser o candidato do campo do bolsonarismo nas eleições de 2026. A pressão por unidade em torno da candidatura do governador paulista à Presidência ganhou força nas últimas semanas entre integrantes do centrão e do mercado financeiro.
Na entrevista à rádio Itatiaia, Lula afirmou ter boa relação com Gilberto Kassab, que é presidente do PSD e secretário de Tarcísio. Sobre os resultados das pesquisas eleitorais, o presidente disse que é cedo para definir um cenário.
"É muito precipitado a gente querer definir o jogo fora do estádio. Vamos entrar em campo e começar a definir o jogo. Já vai chegar o momento em que as coisas vão ser definidas, quem vai estar com quem. E aí nós vamos jogar", disse Lula.
Ele também repetiu uma fala de que será candidato à reeleição se estiver "100% de saúde", como diz estar hoje.
Lula defendeu ainda a cassação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que articula sanções contra o Brasil nos EUA para pressionar por uma anistia ao seu pai.
"Eu já falei com o presidente [da Câmara] Hugo Motta, já falei com vários deputados de que é extremamente necessário cassar o Eduardo Bolsonaro porque ele vai passar para a história como o maior traidor da história desse país. Aliás, um dos maiores traidores da pátria do mundo", afirmou Lula.
Lula também colocou na mira o governador mineiro, Romeu Zema (Novo), a quem chamou de "figura caricata" e "falso humilde".
"Se ele tiver a performance que ele teve no [programa] Roda Viva, vai ser um desastre para ele. Ou ele melhora, deixa de ser o falso humilde e começa a dizer a verdade ou ele vai ser desmoralizado na campanha".
O presidente cumpriu nesta sexta duas agendas em Minas Gerais sem a presença de Zema ou de integrantes do governo estadual. Em entrevista recente, o governador disse que receberia Lula na Cidade Administrativa, sede do governo, mas que se recusa a participar de eventos do Lula "para não ser vaiado".
Governo de Minas Gerais
O presidente da República defende a candidatura do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD) para o Governo de Minas. O congressista, porém, afirma a aliados ainda não ter definido se disputará as próximas eleições.
O nome de Pacheco também é cotado para uma vaga ao STF (Supremo Tribunal Federal) em caso de uma eventual aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso.
"Estou apenas demonstrando um desejo meu, que eu gostaria que fosse aceito pelo Pacheco, porque pelo PT eu já sei que é aceito, mas vai depender dele. Eu gostaria que ele assumisse a responsabilidade, porque ele será governador de Minas Gerais. Eu não tenho dúvida que os adversários dele irão se desmanchar em pó na disputa para a eleição de 2026", afirmou Lula à rádio.
Mais tarde, durante ato do governo federal em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Pacheco foi citado novamente por aliados.
Durante discurso, o ministro das Cidades, Jader Filho, afirmou que o ex-presidente do Senado é "um dos mais brilhantes políticos da minha geração" e pediu pela candidatura dele em 2026.
"Minas tem feito escolhas erradas nos últimos anos, que não honram a história do estado. Você tem uma obrigação com Minas Gerais. Não pode se omitir. Você tem que ser o futuro governador de Minas", disse o ministro ao senador.
A visita de Lula foi a sexta a Minas Gerais somente em 2025. Em Contagem, a prefeita é a aliada Marília (PT), cotada para ser vice em uma eventual chapa com Pacheco para o governo mineiro em 2026.
No mesmo evento em Contagem, Pacheco também discursou e afirmou que seu futuro político "será o futuro que cada um de vocês quiser que eu tenha".
Sem citar o nome do atual governador de Minas, o senador afirmou que as pessoas que estão em situação de rua hoje "não podem ser guinchadas, não podem ser enxotadas, têm que ser cuidadas". A fala é uma crítica a recentes declarações de Romeu Zema. Em entrevista à BBC News, divulgada em 15 de agosto, Zema comparou moradores de rua a carros estacionados em local proibido, que precisam ser guinchados.
O senador também aproveitou para fazer críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e ao bolsonarismo. Pacheco disse que as divergências na política são naturais, mas que "não há dois lados quando se trata de defender a democracia e a soberania do nosso país".
"Brasileiro que ousa ir para o exterior para trabalhar contra o país é traidor da pátria. Esta bandeira do Brasil não é para enxugar suor de fascista. É um símbolo nacional que pertence a todos nós", disse ele. A plateia reagiu com gritos de "sem anistia".
Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2025/08/lula-diz-que-tarcisio-sem-bolsonaro-nao-e-nada-e-que-governador-faz-o-que-ex-presidente-quiser.shtml