Newsletter semanal do jornalista Thiago Prado traz entrevista com o presidente do PSD e recomenda a série 'Pablo e Luisão'
Por Thiago Prado na newsletter Jogo Político
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, está no centro dos mais relevantes debates do país da esquerda à direita. Seu partido integra a terceira administração do presidente Lula (PT) com três ministérios ao mesmo tempo que ele próprio ocupa a secretaria de Governo e Relações Institucionais de Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo. O PSD foi ainda a legenda que mais elegeu prefeitos em 2024, além de ter alcançado a liderança na quantidade de governadores filiados.
Na entrevista que você, leitor, vai ler a seguir, falamos sobre a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro; do tarifaço e as sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, impostas pelo governo dos Estados Unidos; da popularidade de Lula e dos cenários para a eleição presidencial de 2026.
Em um ano, já fizemos um bocado por aqui. Publicamos uma série de entrevistas com os maiores estrategistas políticos e donos de institutos de pesquisa do Brasil, além dos bastidores das articulações nacionais e nos estados de olho nas eleições do ano que vem. Seguiremos em frente tentando trazer um olhar diferente do noticiário toda semana. Obrigado pela audiência!
Abaixo os principais trechos da conversa com Kassab:
O senhor chamou de "lamentável" a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro no início da semana. Não acha que ele descumpriu a decisão do ministro Alexandre de Moraes e queria na verdade "cavar" a punição para se fazer de vítima?
Nas vírgulas da Constituição, há juristas falando que a decisão do Moraes foi correta. Nas vírgulas da política, ele podia ter evitado. O Supremo é um colegiado que dialoga muito, e tenho certeza que todos estão atentos às circunstâncias. Não diminui nenhum ministro voltar atrás em decisão alguma. Agora, o principal é que Judiciário, Legislativo e Executivo estão em um enfrentamento que não vai nos levar a lugar nenhum. É lamentável o clima político no Brasil, olha as imagens horrorosas do Congresso essa semana.
O governador Eduardo Leite, que acaba de se filiar ao PSD, disse que o tarifaço de 50% de Donald Trump sobre os produtos brasileiros é responsabilidade da família Bolsonaro. Pensa da mesma forma que ele?
Primeiro quero dizer que condeno a posição americana, tanto do ponto de vista das sanções econômicas quanto à aplicação da Lei Magnitisky. Essa legislação foi feita para combater o terrorismo e o tráfico de drogas, é muito perigoso se a partir de agora os Estados Unidos vão usar desse instrumento contra aqueles que apresentam divergências ideológicas. Acho que as medidas americanas têm relação com três aspectos: a questão envolvendo a regulação das big techs; as movimentações dos países dos Brics; e, sim, a presença do Eduardo Bolsonaro no exterior desde o início do ano.
Eduardo passou meses nos EUA financiado pelo pai e depois agradeceu ao Trump pelas redes sociais por ter determinado o tarifaço...
Sim, é público que ele trabalhou e trabalha pelas sanções. Se ele pensa que este é o melhor caminho, tudo bem, eu penso diferente.
Mas não falta ao senhor e ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) uma postura mais crítica ao governo dos EUA na medida em que a economia agrícola de São Paulo será afetada?
Tarcísio tem mostrado solidariedade aos afetados e ideias de ações concretas. Agora, foi preciso, sim, fazer uma correção na sua comunicação para deixar clara a sua conduta.
Até porque Tarcísio chegou a usar um boné com a mensagem trumpista "Make America Great Again", um presente para a esquerda criticá-lo...
Mas isso foi em outro momento. Ele colocou o boné para comemorar a posse do Trump. Tarcísio torceu pela vitória do republicano, assim como o Lula torceu pelos democratas. Mas, de fato, os adversários fizeram essa associação, e ele precisou agir e deixar mais evidente que estava ao lado dos produtores brasileiros. Hoje tenho outras preocupações com relação a essa crise pelas conversas que tenho com diplomatas. Eles estão divididos sobre o seguinte: será que vamos conseguir criar novos mercados que compensem a perda comercial com os EUA? Vejo que o Lula está se arriscando bastante. Se é verdade que há uma má vontade do Trump para dialogar, também existe a mesma má vontade por parte do presidente.
Mas Lula recuperou a popularidade na comparação com aquele início de ano em que o senhor disse que ele perderia a eleição para um quarto mandato. Mantém a previsão?
Pesquisa reflete momento. Naquele momento, os números mostravam isso. Agora, ele ganharia. Almoçamos ontem, e ele parece bem animado com a reeleição. Mas eu sigo com a minha intuição. Acho que o partido está em busca de uma opção diferente, de renovação. As pessoas estão tristes com essa polarização e com esses xingamentos.
Chegamos naquele momento da entrevista em que o senhor vai responder a pergunta que é feita diariamente por jornalistas, empresários e políticos. Tarcísio de Freitas será candidato a presidente da República em 2026?
Ele está fazendo essa reflexão e, no momento certo, se manifestará. Pessoas importantes do país têm pedido para ele ser candidato. Tarcísio vai olhar as pesquisas. Se for candidato é porque estará muito viável, ou seja, tendo uma quase certeza da vitória.
E ele também precisa que o Bolsonaro o apoie...
Sim, não dá para sair candidato sem o apoio da maior figura da direita. E também é preciso que haja uma união dos partidos de centro ao seu nome.
A ex-primeira-dama Michelle, e os filhos Flávio e Eduardo têm aparecido como possíveis presidenciáveis escolhidos por Bolsonaro para 2026. Quem tem mais chance?
A minha impressão é que o Bolsonaro dará prioridade a eles em candidaturas ao Senado e não vai se importar tanto com a corrida presidencial. Por isso, continuo com a minha impressão de que o melhor para o Tarcísio é ser candidato a governador mesmo, para concluir os seus projetos em São Paulo. Assim, o cenário que considero mais provável é termos vários candidatos de direita ou centro-direita em 2026.
E o PSD lançaria Ratinho Jr. ou Eduardo Leite?
Temos esses dois nomes qualificados. Eduardo sabe que Ratinho Jr. tem a preferência, mas não está definido. Até janeiro saberemos. E aí em um cenário que Tarcísio não é candidato, acho que também serão lançados Romeu Zema, pelo Novo, e Ronaldo Caiado, pelo União Brasil. Partido para ter identidade precisa ter candidato a presidente.
O senhor já se manifestou favoravelmente ao debate da anistia. Não é ruim o país ignorar as evidências de uma tentativa de golpe?
Não tem nenhum problema ser discutida uma anistia. Várias democracias do mundo conviveram com isso, e nós mesmos já tivemos uma. Não tem porque impedir a discussão. Só acho que nem teve o julgamento do Supremo Tribunal Federal ainda para sabermos que modulações e qual a abrangência um projeto desses poderia ter. Meu ponto principal é que precisamos de mais concertação e menos enfrentamento. Se ficarmos criando punições para juízes e políticos vamos estar cada vez mais em um clima de tensão. Precisamos de paz e debate civilizado entre os diferentes e não estou vendo o Brasil caminhando nesta direção.
Quando vejo os seus gestos favoráveis a determinadas pautas da direita fico achando que o senhor, na verdade, está mirando um apoio de Bolsonaro para uma candidatura a governador de São Paulo, caso Tarcísio saia para a Presidência...
Não é verdade. O PSD é um partido de centro-direita, e essas são as minhas convicções mesmo. Sobre São Paulo, o Tarcísio é o grande responsável pela escolha do sucessor. Já disputei muitas eleições, fui vereador, deputado estadual e federal, prefeito... Não tenho nenhum receio de disputar, e se o Tarcísio entender que o meu nome é o mais adequado, faço com o maior entusiasmo.
Vamos falar de outras duas eleições estaduais para o PSD. Em Minas Gerais, o senador Rodrigo Pacheco será candidato a governador ou o PSD vai caminhar com o vice-governador Mateus Simões, do Novo?
Não podia pegar um estado mais fácil, não? Rodrigo é uma pessoa muito bem preparada, mas o sonho legítimo dele é ir para o Supremo Tribunal Federal, e o ministro Luís Roberto Barroso voltou a falar em deixar a Corte. Por isso, eu também não desprezo o Mateus como um bom nome.
E o Eduardo Paes, que jurou pelo Vasco e pela Portela que não deixaria a prefeitura para concorrer no ano que vem, será candidato a governador?
Ele já vestiu a fantasia de candidato, né. Eduardo tem uma marca própria. Vai ter uma rede de apoio muito expressiva. O carioca não o vê nem como de esquerda, nem de direita, nem de centro. Vê como alguém que resolve problemas.
O Globo
https://oglobo.globo.com/google/amp/politica/noticia/2025/08/08/jogo-politico-tarcisio-corrigiu-comunicacao-para-nao-parecer-ligado-ao-tarifaco-de-trump-diz-kassab.ghtml