Petroleira diz ter encontrado níveis elevados de dióxido de carbono em águas profundas do pré-sal
Nicola Pamplona
A petroleira britânica BP disse nesta segunda-feira (4) que fez, no pré-sal brasileiro, sua maior descoberta de petróleo e gás em 25 anos. O reservatório foi encontrado na Bacia de Santos e ainda está em avaliação, mas é desafiador pelo elevado teor de gás carbônico.
Para especialistas, as primeiras informações divulgadas são promissoras e podem reacender o interesse das petroleiras pela região do pré-sal, onde estão as maiores reservas de petróleo em águas ultra-profundas do planeta.
Segundo a BP, o reservatório encontrado no bloco Bumerangue, a 404 quilômetros do litoral do Rio de Janeiro, é "de alta qualidade", tem mais de 300 quilômetros quadrados e uma coluna de óleo de 500 metros.
"Estamos entusiasmados em anunciar esta descoberta significativa em Bumerangue, a maior da BP em 25 anos", afirmou em nota o vice-presidente da BP (antiga British Petroleum), Gordon Birrel. O Brasil é um país importante para a BP, e nossa ambição é explorar o potencial de estabelecer um hub de produção significativo e vantajoso no país."
A título de comparação, diz o consultor Pedro Zalan, a última grande descoberta da BP, Thunder Horse, nos Estados Unidos, tem entre 1 bilhão e 1,5 bilhão de barris de óleo equivalente (somado ao gás) em reservas provadas. A faixa superior equivale a cerca de 10% das reservas provadas de petróleo brasileiras.
No comunicado distribuído nesta segunda, a BP informou que iniciará análises laboratoriais para estudar a descoberta e definir sua viabilidade, o que pode demandar pesquisas adicionais. Aponta ainda que os resultados iniciais apontam "níveis elevados de dióxido de carbono".
A presença de gás carbônico é comum em reservatórios do pré-sal, o que gerou dúvidas iniciais sobre a viabilidade das primeiras descobertas, já que é alto o custo para separar esse gás do petróleo e reinjetá-lo nos reservatórios.
O ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates, lembra que a descoberta de Libra, a maior do país, tem 40% de CO² e já está em produção. Já a descoberta de Júpiter, também no pré-sal, tem 80% de CO² e segue inviável.
A BP não informou o teor de CO² de Bumerangue. "Por enquanto, é cedo para celebrar. A produção com alto CO² exige separação, reinjeção ou uso comercial - e isso depende de tecnologia e mercado", escreveu Prates em uma rede social.
Após a divulgação do comunicado, as ações da BP listadas em Londres subiram 1,4%. O anúncio ocorre um dia antes de o grupo apresentar seus resultados do segundo trimestre. A empresa adquiriu o bloco Bumerangue em leilão do governo em 2022.
Tem 100% do bloco, mas, pelo contrato de partilha da produção assinado com o governo, tem que destinar à União 5,9% da produção, após desconto dos custos da operação. A venda dessa fatia é responsabilidade da estatal PPSA (Pré-Sal Petróleo SA).
Para o consultor Zalan, a descoberta em Bumerangue melhora as expectativas para dois blocos adjacentes: Tupinambá, também operado pela BP; e Puri, adquirido pela norueguesa Equinor. "Ambas as oportunidades, Puri e Tupinambá, são de dimensões maiores que Bumerangue", afirmou.
A BP voltou o foco de seus negócios para os combustíveis fósseis no ano passado para recuperar a confiança dos investidores e reanimar ações com desempenho fraco após uma tentativa problemática de investir em energia renovável.
A petroleira tem planos de aumentar sua produção global de petróleo e gás para 2,3 milhões a 2,5 milhões de barris de óleo equivalente por dia em 2030 e disse que essa foi sua décima descoberta até agora este ano, tendo obtido o mesmo êxito em Trinidad e Tobago, Egito, Brasil e outros.
Com informações da Reuters e AFP
Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/08/bp-anuncia-que-fez-maior-descoberta-de-petroleo-e-gas-em-25-anos-na-bacia-de-santos.shtml
