Sem avanço nas negociações, tarifas de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros devem entrar em vigor em 1º de agosto. O governo precisa tentar negociar evitando que considerações ideológicas e de política interna contaminem os interesses comerciais, técnicos, entre os dois governos, para reduzir o impacto sobre o Brasil e sobre o setor privado
A escalada da crise com os EUA não prosseguiu nesta semana (até quinta feira à noite), apesar de novas medidas restritivas do STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo.
Do lado do governo brasileiro, o vice-presidente Geraldo Alckmin continuou a manter contatos e coordenar ações conjuntas com o setor privado. A mais importante delas foi com as empresas Big Techs. Segundo se veiculou, ficou definida uma agenda de interesse recíproco para discussão.
'Alckmin informou que estão ocorrendo contatos institucionais reservados, apesar de não ter sido anunciada nenhuma conversa concreta, em relação à carta de 9 de julho'
No tocante aos contatos com o governo de Washington, Alckmin informou que estão ocorrendo contatos institucionais reservados, apesar de não ter sido anunciada nenhuma conversa concreta, em relação à carta de 9 de julho, com a disposição do governo dos EUA de negociar a tarifa de 50% mencionada na carta.
Uma comissão do Senado deverá visitar na próxima semana o Congresso norte-americano e pedir que os congressistas apoiem a redução da tarifa de 50%, ou o adiamento de sua aplicação, com pouca possibilidade obter apoio significativo que possa alterar a disposição do executivo norte-americano.
Em reunião na OMC, nesta semana, o Brasil reiterou a necessidade de defesa contínua do sistema multilateral de comércio, o fortalecimento da instituição e condenou o recurso a tarifas arbitrárias que violam os princípios fundamentais da organização e ameaçam a economia mundial. A delegação brasileira registrou profunda preocupação com o uso de medidas comerciais unilaterais como instrumento de interferência nos assuntos internos de outros países.
'Lula minimizou a crise e disse que "a guerra tarifária vai começar depois de eu dar uma resposta a Trump, se ele não mudar de opinião"'
Perguntado no Chile, onde participou de encontro com outros mandatários da esquerda da região e o premiê da Espanha, Lula minimizou a crise e disse que "a guerra tarifária vai começar depois de eu dar uma resposta a Trump, se ele não mudar de opinião".
Na quarta feira, foi divulgado que houve reuniões técnicas, políticas e privadas, nos últimos dias, com a apresentação de propostas de exclusão do tarifaço nos setores mais sensíveis (aço, alumínio, pescados, fruta, carne, suco de laranja e Embraer) e de adiamento da entrada em vigência da tarifa para os temas sensíveis. Ambas propostas ainda sem resposta de Washington, talvez porque não cheguem à Casa Branca.
'Na ausência respostas às últimas propostas brasileiras, no dia 1º de agosto deverá ser anunciada a imposição de 50% de tarifa para os produtos brasileiros exportados para os EUA'
Na ausência de ida de missão de alto nível governamental para conversas em Washington sobre os 50% e as Big Techs e de respostas às últimas propostas brasileiras, no dia 1º de agosto deverá ser anunciada a imposição de 50% de tarifa para os produtos brasileiros exportados para os EUA, talvez com algumas exceções de interesse norte-americano para evitar efeitos negativos, como impacto sobre a inflação (alumínio, carne e outros).
Confirmada a imposição de 50% no dia 1º de agosto, a reação do governo brasileiro deveria ser pragmática e seguir o que os outros países vão fazer em reação ao tarifaço.
'O governo brasileiro deveria organizar uma missão governamental para abrir negociações com a Casa Branca com vistas a reduzir os 50% com propostas concretas sobre redução de tarifas'
O secretário do Departamento de Comércio dos EUA declarou que o governo de Washington vai efetivamente iniciar a aplicação das tarifas no dia 1º de agosto, mas que o presidente Trump continuará aberto à negociação. Nessa linha, o governo brasileiro deveria organizar a partir da semana seguinte uma missão governamental de alto nível para abrir negociações diretas com a Casa Branca com vistas a reduzir os 50% com propostas concretas sobre redução de tarifas sobre produtos americanos exportados para o Brasil (etanol) e redução ou eliminação de barreiras não tarifárias que incidem sobre aqueles produtos.
Ao mesmo tempo, o setor privado deveria definir uma estratégia para apoiar essas negociações entre os dois governos que incluiria, entre outras ações, recomendação de moderação na resposta brasileira, evitando impor retaliações imediatas que poderiam agravar ainda mais o impacto negativo, pedir medidas de apoio aos setores mais atingidos e, sobretudo, organizar missão a Washington para discutir com a US Chamber of Commerce formas de apoio junto ao governo Trump para a redução dos 50% por parte das empresas norte-americanas e também com as contrapartes empresariais compradoras dos produtos brasileiras que também ficaram afetadas pela tarifa.
Será importante evitar que considerações ideológicas e de política interna (eleições 2026) contaminem as negociações comerciais, técnicas, entre os dois governos. O objetivo deve ser negociar para reduzir o impacto econômico e comercial sobre o Brasil e sobre o setor privado, que vai pagar a conta do que o governo fizer.
Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.
Interesse Nacional
https://interessenacional.com.br/portal/reta-final-para-o-tarifaco/