O presidente Lula participa de evento em Brasília para fazer um balanço de seu governo - Lucio Tavora - 3.abr.25/Xinhua |
Datafolha: um paliativo para ansiedade que cerca Lula

Datafolha: um paliativo para ansiedade que cerca Lula

Números apontam freio na queda da popularidade, mas resultado não é suficiente para aplacar inquietação de aliados do presidente

Catia Seabra

O Datafolha mitigou angústias que rondam o Palácio do Planalto. Os números coincidem com pesquisas do governo que já apontavam para um freio na queda na popularidade do presidente Lula.

Embora encarado como uma tendência de recuperação, esse paliativo não tem sido suficiente para aplacar certa inquietação entre aliados de Lula, especialmente com sinais contraditórios emitidos pelo presidente.

Lula condiciona uma candidatura em 2026 ao bom estado de saúde. Lembra sua avançada idade (79), citando até o ex-presidente americano Joe Biden (82).

Um ministro saiu alarmado da primeira reunião do ano, após ouvir de Lula que só Deus saberia seu destino político. Outro ministro deixou a mesma reunião convencido da candidatura do presidente.

Na quarta-feira, em reunião com senadores, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), chegou a apelar para que Lula parasse de lançar também ali dúvidas sobre sua disposição de concorrer à reeleição.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) endossou. Alertou não haver outro nome à esquerda para corrida presidencial. "Nosso campo não tem plano B", advertiu.

Lula aquiesceu. Contou que faz exercícios diariamente. Disse que será candidato contra "qualquer um". Concordou até mesmo com visitas a templos evangélicos, alimentando em Cid Gomes (PSB-CE) a certeza de que é candidatíssimo.

Renan acerta ao afirmar que hoje não há outro candidato. Só se esqueceu de ressaltar que, em boa parte, por culpa do próprio Lula.

Líder maior da esquerda, o presidente inibiu o florescimento de sucessores. No governo, tem permitido severos arranhões a imagens de ministros, como Fernando Haddad (Fazenda), e o crepúsculo de estrelas em potencial. Hoje no STF, Flávio Dino costuma comparar, por exemplo, seu momento político a um exílio em Paris, segundo relatos.

A ausência de herdeiros obriga Lula a concorrer à reeleição. Usando metáfora repetida por Lula, o presidente colhe o que plantou.

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/04/datafolha-um-paliativo-para-ansiedade-que-cerca-lula.shtml