Em 8 de março de 2005, exatos 20 anos atrás, começava no Jockey Club de São Paulo a gestão do empresário Márcio Toledo como presidente da centenária entidade paulistana. Aos 45 anos, Toledo era eleito pela chapa "Novo Jockey" e empossado o mais jovem presidente da história do clube.
Durante duas gestões, até o início de 2011, Márcio Toledo esteve à frente de uma diretoria que modificou o panorama do turfe paulista e brasileiro, mesmo estando financeiramente aquém de seu congênere carioca, o Jockey Club Brasileiro, então com três vezes mais sócios do que o JCSP e uma receita de apostas muito superior.

Márcio Toledo, foi eleito, aos 45 anos, o mais jovem presidente da história centenária do Jockey Club de São Paulo | Imagem: Arquivo pessoal
Em 2005, quando assumiu sua primeira administração, a diretoria comandada por Márcio Toledo encontrou um clube despedaçado por dívidas com proprietários e criadores de cavalos, jóqueis e treinadores, atrasos dos pagamentos de funcionários e fornecedores, uma situação de insolvência e risco de fechamento. Um ano e meio depois, as contas com o pessoal das corridas estavam em dia, salários idem, e pagamentos dos prêmios dos páreos feitos em dia. Os eventos voltaram ao hipódromo, à Chácara do Jockey e à tradicional sede da rua Boa Vista, no Centro Velho da capital.

Márcio Toledo e Marta Suplicy, nas festividades do GP São Paulo em 2010
Durante seis anos, o turfe paulista reviveu seus melhores dias, com a retomada de grandes prêmios como os que eram feitos nas décadas de 1940 a 1980 do século passado. O momento máximo do calendário - o GP São Paulo (G.1) de maio - passou a ser realizado com o apoio da Rede Globo, em quatro de suas edições (2006, 2008, 2009 e 2010), e também com o apoio da Rede Bandeirantes, que lá fez em 2007 o seu maior evento comemorando 70 anos de vida. Fora esses páreos, que chegaram a reunir 20 mil pessoas em uma só jornada, o Jockey Club também realizou uma versão do Clássico Latino-Americano (G.1), de caráter internacional, com premiação correspondente a US$ 250 mil (mais de R$ 1,0 milhão); e duas versões do GP Derby Paulista (G.1) com patrocínio da Shadwell Farm, do sheikh Handam Al Maktoum, dos Emirados Árabes.

O Rei Pelé, no Grande Prêmio São Paulo, de 2008
E foi num desses eventos, o Derby Paulista, que a diretoria fez talvez o seu lance mais ousado. Uma noite antes, foi realizado o show do rapper norte-americano Eminem no centro das pistas, com a presença de 20 mil pessoas. O show acabou meia noite, o hipódromo foi esvaziado e um exército de cerca de 500 pessoas passou a vistoriar as pistas em busca de garrafas e outros detritos que pudessem comprometer as corridas. No dia seguinte, em pouco mais de 12 horas, o Jockey estava pronto para realizar sua jornada de corridas, para incredulidade de muitos que desdenharam da proposta. Convém lembrar que a apresentação de Eminem foi o embrião do Festival Lollapalloza, que começaria a acontecer no próprio Jockey Club no ano seguinte.

Clássico Latino-Americano (G.1)
O bem sucedido show não foi o primeiro nem tampouco o último promovido pela diretoria de Márcio Toledo. Durante as Copas do Mundo de 2006 e 2010, foram montadas arenas de eventos, como a Villa da Copa Phillips (2006). As apresentações musicais também aconteceram na Chácara do Jockey, com as presenças de Sting, Iggy Pop, Ben Harper, The Killers, Kraftwork e Radiohead, entre outros nomes consagrados mundialmente.

Renato Aragão, em 2009.
Nos grandes prêmios, figuras icônicas como Pelé, Hebe Camargo, Renato Aragão e o maestro João Carlos Martins abrilhantaram as festividades. Assim como o mundo político desembarcou novamente nas dependências do hipódromo, como não se via desde os anos de 1970. Dois candidatos à presidência da República fizeram reuniões no ano de 2006. Luiz Inácio Lula da Silva foi o anfitrião de um jantar; Geraldo Alckmin recebeu para um almoço. Naquele ano, venceu Lula. Hoje, ambos estão juntos como presidente e vice. Tal como eles, políticos e partidos de todas as vertentes políticas estiveram no Jockey, criando um ambiente democrático e aberto para todos.

Hebe Camargo, Chitãozinho e Xororó, em 2010
Essa abertura também atingiu o público. "Temos que derrubar os muros do hipódromo", proclamou Márcio Toledo, disposto a resgatar o público - o antigo e o novo frequentador das corridas. Assim como as confraternizações para os políticos, empresários e artistas, o clube passou a receber eventos de cunho mais popular. Uma entrega de casas foi feita a famílias de sem-teto pela Prefeitura de São Paulo. Uma festa para comemorar o aniversário da comunidade de Paraisópolis reuniu mais de mil pessoas nos salões sociais. Uma comemoração voltada ao Candomblé trouxe música e dança para os salões e corredores, com a presença de um pai-de-santo da linhagem de Zumbi dos Palmares - algo até então inacreditável de ver num clube tido como conservador.

Público lotava as arquibancadas
Com o tempo, as dependências do hipódromo e a sede da rua Boa Vista, com os melhores restaurante e estacionamento do centro, entraram no circuito da cidade e não passavam muitos dias sem que não houvesse um evento em cada um deles. Com o final das duas gestões da diretoria de Márcio Toledo, alguns desses eventos foram sendo paulatinamente desativados, fazendo com que o Jockey Club de São Paulo perdesse o impacto das mudanças e voltasse a um patamar que viria a desagradar muitos de seus sócios e frequentadores. Fazendo um resumo de suas duas gestões, "o Jockey Club de São Paulo foi um dos parques administrados por uma associação civil mais bem organizados do país, que nos finais de semana recebia visitantes de todos os cantos da metrópole e mesmo de outras cidades e estados, sem cobrar um centavo por isso", relembra Márcio Toledo.

O Maestro João Carlos Martins, em 2011.