Imagem: Brett Lloyd/Dior
Terno, tricô e sofisticação: Como é a nova coleção masculina da Dior

Terno, tricô e sofisticação: Como é a nova coleção masculina da Dior

A alfaiataria mais ajustada ao corpo, estruturas bem demarcadas e volumes posicionados para criar a nova 'silhueta H' constituem o eixo da receita de Kim Jones


Por Alice Ferraz

Na tarde de sexta, 24, em Paris, o designer britânico Kim Jones, um dos nomes mais importantes da moda contemporânea, recebeu a mais alta condecoração civil francesa - que também pode ser concedida a cidadãos não franceses por ações que beneficiam o país. Jones foi nomeado Cavaleiro da Legião de Honra da França. O motivo? Seu trabalho como diretor artístico da Dior Men, a linha masculina da maison francesa fundada por monsieur Christian Dior em 1946. Não por acaso, a cerimônia aconteceu após o desfile de sua mais nova coleção para a marca, parte da programação da semana de moda masculina da capital francesa.

Na passarela, vimos uma temporada que faz jus à premiação e celebra a tradição e a herança de moda de monsieur Dior sob uma ótica contemporânea e singular - uma característica que, desde que Jones assumiu o cargo, em 2018, se tem mostrado essencial para definir uma imagem de moda masculina sofisticada, rica em referências e, ao mesmo tempo, absolutamente atual para a Dior Men.

Para a próxima estação, a proposta de Jones parte de uma importante contribuição de Christian Dior para a criação da moda como a conhecemos hoje: a silhueta H, que o próprio diretor artístico descreve como "a mudança de algo bastante ornamentado e extravagante no século 18 para algo mais linear e utilitário no século 19″. Na prática, a silhueta proposta por Dior em 1954 prioriza linhas verticais e formas longilíneas, com ênfase no comprimento das pernas e elementos sutis de destaque na área da cintura - daí a referência à letra "H". "No entanto, embora muito se refira à história da moda, esta não é uma moda histórica. Em última análise, nesta coleção, queríamos dizer algo sobre o agora", pontua Kim Jones no texto da coleção.

Essa incursão no passado para desenhar o futuro se materializou em roupas cujo principal destaque está na modelagem. A alfaiataria aparece mais ajustada ao corpo, com estruturas bem demarcadas e volumes precisamente posicionados para criar a "nova silhueta H". Ternos com corte impecável priorizam os paletós de abotoamento simples, geralmente com um único botão, acompanhados de calças alinhadas aos volumes dos blazers. Mesmo nas propostas que exploram o conceito oversized, os volumes das camisas e calças estão em perfeita harmonia, criando conjunto único de linhas verticais.

Os tricôs, que ganham um espaço importante na coleção, ora surgem com mangas estrategicamente ampliadas ao se aproximarem do pulso, ora aparecem em versões acinturadas. Um olhar analítico revela que tudo, ao que parece, foi pensado para se manter completamente fiel à silhueta lançada pela maison em 1954. Do comprimento das jaquetas, cortadas para recair precisamente sobre a cintura, aos adornos pontuais e detalhes - usados com parcimônia, visto que o visual limpo e minimalista é outro destaque da estação.

Adicionando uma bem-vinda complexidade à coleção, a mistura de elementos da moda feminina em sua moda masculina também é uma constante no trabalho de Jones na Dior. Nesta temporada outono-inverno 2025, essa influência é representada pela figura de Casanova, escritor italiano e "homem das mulheres", como define a marca, sugerindo uma intenção de duplo sentido.

A inspiração abre espaço para intervenções pontuais de bordados, extravagâncias e volumes expressivos, além do uso de sedas e cetins, que trazem brilhos e drapeados cuidadosamente planejados - uma menção às coleções de alta-costura Dior, tanto na estética quanto nas construções. "Mas há rigor, rigor e monumentalidade em tudo", pontua a marca no texto da coleção. As máscaras - formadas por fitas de cetim decoradas e amarradas sobre os olhos - também surgiram como elementos que adicionam teatralidade ao show. Outro ponto emblemático desse encontro entre o prêt-à-porter masculino e a alta-costura Dior proposto.

O conjunto todo ganha ainda mais força e reforça uma imagem tradicionalmente masculina com sua cartela de cores majoritariamente monocromática, descrita pela Dior como um "jogo de luz e brilho". Neste quesito, inserções pontuais de rosa-claro, entre a cartela de neutros sóbrios, reforçam ainda mais o diálogo com a moda feminina e com a alta-costura.

Tal dualidade se expressa também pelo uso de couro. O material traz estrutura e rigor, além de toques de contemporaneidade, especialmente na construção de jaquetas bomber sofisticadas. Mas ele também aparece em versões mais leves e suaves, com estrutura macia - principalmente nas bolsas. Uma temporada que exemplifica perfeitamente a maestria criativa de Kim Jones e sua contribuição para a moda francesa, agora reconhecida com o título de Cavaleiro da Legião de Honra.

O Estado de S.Paulo
https://www.estadao.com.br/cultura/moda/terno-trico-e-sofisticacao-como-e-a-nova-colecao-masculina-da-dior/